A diversidade civilizatória subiu a rampa

Lula fez discursos, todos marcados todos pela ênfase na vitória do amor contra o ódio, da ciência contra as teorias conspiratórias e negacionistas, da paz contra a violência, da busca da igualdade contra a permanência das desigualdades

(Fotos: Ricardo Stuckert/PR)

As redes sociais estão repletas de postagens manifestando muita emoção e abordando o profundo significado de vários momentos da posse do presidente Lula e do vice Alckmin ocorrida no primeiro dia de 2023.

De Brasília e do Brasil para o mundo, a afirmação da democracia e da diversidade pulsando em cada rosto de nossa gente. A posse do gigante presidente Lula em 1 o de janeiro foi comovente em todas as passagens, desde o desfile em carro aberto pela Esplanada dos Ministérios, com ele, Alckmin, Janja e Lu Alckmin acenando para milhares de homens e mulheres – mais de 300 mil pessoas -, muitos viajando por vários dias, enfrentando inclemente sol na capital do país, até o show com artistas, que terminou no final da madrugada do dia 2, sob brados continuados em defesa da democracia, da vida, do amor e da reconstrução do Brasil.

Começamos a primeira segunda-feira do ano com a alma leve e feliz pela radical mudança de ares em nosso país. É outro clima, de reconstrução, de esperança, de sentimento de resgate da autoestima do povo brasileiro. Lula fez discursos em três ocasiões – no Congresso Nacional, após assinar o termo de posse, mais adiante no parlatório do Palácio do Planalto, após receber a faixa presidencial, e ainda um em meio aos shows – marcados todos pela ênfase na vitória do amor contra o ódio, da ciência contra as teorias conspiratórias e negacionistas, da paz contra a violência, da busca da igualdade contra a permanência das desigualdades.

No parlatório, diante de colossal multidão em grande parte trajando vermelho mas passando de mão em mão uma imensa bandeira do Brasil, Lula tocou no gravíssimo problema da volta da fome, quando não conteve a comoção, sua voz embargou, as lágrimas umedeceram-lhe os olhos.

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Eu não consegui viajar para a posse, porém, mesmo a acompanhando pela tela de TV, também me comovi e me transbordaram rios de alegre emoção nos olhos. A cerimônia, irretocável, tudo deu certo, e por isso a companheira Janja merece reconhecimento, ela que foi das principais organizadoras.

A tão esperada passagem da faixa presidencial, mantida em segredo até a última hora, foi o ápice de todo o ritual, momento tão citado como objeto de ódio pelos opositores da extrema-direita golpista que acampava a poucos quilômetros da Esplanada. Ao pé da rampa forrada por um tapete vermelho, lá estava “Resistência”, a cachorrinha vira-lata, adotada por Janja durante a Vigília “Lula Livre” em Curitiba no período da injusta prisão de 580 dias de Lula, aguardando seus donos. Lula e Janja, Alckmin e Lu dão as mãos a um grupo de pessoas representativas da rica diversidade do povo brasileiro, para mais uma passagem plena de humanidade e solidariedade, num aberto contraste com a cultura de ódio vigente nos quatro anos de pesadelo agora deixados para trás. Como trilha musical, as composições de Heitor Villa-Lobos “Bachianas Brasileiras” e “O Trenzinho do Caipira” estimularam, ainda mais, aprazíveis estremecimentos, marcando a identidade cultural brasileira, cingida na tradição e no conhecimento, mas também na experiência popular. As “Bachianas Brasileiras” apresentam uma grande variedade na sua linguagem musical, influência de J. S. Bach nas obras de Villa Lobos.

O cortejo ladeando Lula e Alckmin incluiu representantes significantes da diversidade de nosso povo, do ponto de vista étnico/racial, de gênero, da pessoa com deficiência, da criança negra e da pessoa idosa, registrados pelas lentes do incansável Ricardo Stuckert, sinalizando um Brasil iluminado por cores vibrantes, inclusivo e de participação popular que se almeja construir. Sentimo-nos nós, como integrantes do povo brasileiro, a entregar a faixa verde-amarela na pessoa da mulher negra Aline Souza, catadora de lixo reciclável desde os 14 anos, hoje com 33 anos e mãe de sete filhos. Essa imagem deslumbrante percorre o mundo, plena de simbolismo e mobilizadora de variados sentimentos bons, de
reforço da pluralidade, da necessidade de resistência da mulher, negra, mãe, catadora e militante (Aline participa do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis).

Aline é beneficiária do “Minha Casa, Minha Vida” – programa de habitações populares criado no governo Lula. Após seis anos de sofrimento, após o golpe de Estado que cinicamente derrubou Dilma Roussef em 2016, em que o desleal Temer manchou a democracia, seguido do governo de trevas do genocida fujão Bolsonaro, a faixa presidencial é resgatada pelas mãos do povo brasileiro.

Esteve nesse momento mágico, na rampa da sede do Poder Executivo nacional, o cacique Raoni Metuktire, firme em seus 90 anos, líder do povo Kayapó e reconhecido internacionalmente por sua luta em defesa dos direitos dos povos indígenas e da Amazônia. Também o menino negro Francisco, torcedor do time do coração de Lula, o Corinthians, um morador de Itaquera, na periferia de São Paulo, campeão de natação, filho de uma assistente social e de um advogado que atuam em causas sociais. O metalúrgico Weslley Rodrigues Rocha, que trabalha na região do ABC paulista, é formado em Educação Física por meio do Financiamento Estudantil (FIES) e DJ em um grupo de rap chamado “Falange”. O professor Murilo de Quadros Jesus, de Curitiba, formado em Letras pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). A cozinheira Juciamara Fausto dos Santos, que dedica a vida à culinária, e que atendeu a um chamado da “Vigília Lula Livre” para um concurso de pão e acabou permanecendo por 10 meses cozinhando para os militantes e milhares de visitantes do acampamento montado defronte à sede da Polícia Federal no bairro Santa Cândida, em Curitiba. O jovem Ivan Baron, influenciador digital anticapacitista, que foi diagnosticado com meningite viral aos três anos de idade, ficando com sequela de paralisia cerebral, com isto se tornando liderança da causa das pessoas com deficiência. Flávio Pereira, 50 anos, artesão, que
esteve na “Vigília Lula Livre” durante os 580 dias, e contribuiu com o cotidiano das atividades da vigilia.

Com o povo elevando-se por aquela rampa rubra, envolvendo Lula com a faixa da qual tem completo merecimento, estamos com os espíritos fortalecidos mas em paz, bem representadas/os, empossados/as e fazendo parte da história do Brasil, com o resgate da democracia a partir do protagonismo popular, destacando uma das estrofes da linda canção de Guilherme Arantes que expressa esse momento de superação em nosso país:
“Amanhã será um lindo dia, da mais louca alegria
Que se possa imaginar, amanhã redobrada a força
Pra cima que não cessa, há de vingar (..,)”

Referências:
https://www.opovo.com.br/noticias/politica/2023/01/01/veja-quem-sao-as-pessoas-que-subiram-a-rampa-com-lula-e-entregaram-a-faixa-ao-presidente.html


https://etam.eca.usp.br/vilalobos/resumos/CO010.pdf

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