A força da economia digital chinesa

É comum que as principais cidades chinesas sejam comparadas ao Vale do Silício dado o ambiente vibrante e profícuo na criação de startups e soluções que ligam o cotidiano ao digital.

Inovação é um conceito recorrente nos setores público e privado chineses e, segundo discurso do governo, uma das chaves para garantir o crescimento econômico da China. É tema inclusive de um documento lançado em 2019 pelo Banco Mundial e pelo Conselho de Estado da China, cujo título em inglês é Innovative China – New Drivers of Growth. Mesmo que os incrementos da economia chinesa estejam acomodados em um patamar por volta dos 6% ao ano, estes são robustos e garantem não apenas a manutenção da força chinesa, mas impulso à economia mundial. Neste arcabouço em que a inovação é encorajada e também uma política de governo (para se ter uma ideia, em 2012, a China investia 1,91% do PIB em ciência e tecnologia, número que passou a 2,11% em 2016 e se mantém subindo), a economia digital é uma das estrelas. 

Hoje é comum que as principais cidades chinesas sejam comparadas ao Vale do Silício dado o ambiente vibrante e profícuo na criação de startups e soluções que ligam o cotidiano ao digital. Pequim, Xangai, Hangzhou e Shenzhen são hubs geográficos destes ecossistemas e atraem profissionais majoritariamente chineses, mas também estrangeiros. A revolução que estas empresas promoveram na economia local já fizeram praticamente desaparecer o papel moeda nas transações comerciais cotidianas, por exemplo, tanto nos meios urbano quanto rural.

O celular aparece como uma extensão natural do corpo, sendo ferramenta de trabalho, comunicação, lazer e uma infinidade de outras atividades, de uma pré-consulta médica a solução de investimento. Segundo levantamento anual das consultorias KPMG e H2 Ventures, cujo último número foi publicado em novembro de 2019, 10 das 100 principais fintechs do mundo hoje vêm da China. Este universo é regido por um contingente de 847 milhões de pessoas online. É quase quatro vezes a população do Brasil, mas representa 61,2% da chinesa. Ou seja, é um mercado onde ainda há muito espaço para expansão. É digno de nota que entre quem está online, 99,1% o faça via smartphones. Daí outra peculiaridade: tão onipresente quanto o telefone móvel são os power banks, as baterias portáteis que garantem a comunicação ao longo do dia – e da noite -, mesmo quando não há uma tomada por perto.

Com um sistema 4G potente – que se transforma a passos largos na nova rede 5G, cuja tecnologia e rapidez garantirá ainda mais e mais rápidas interações entre a rede e as máquinas – e pouco acesso em massa aos bancos, as soluções da economia digital ganharam adesão muito rápido. Há outros fatores que valem a pena serem destacados. O primeiro é a confiança dos chineses no digital, com uma população acostumada desde o início dos anos 2000 a confiar nas transações comerciais via internet, principalmente por meio do e-commerce, que penetrou no cotidiano chinês como o link entre compradores e vendedores, estes muitas vezes donos de pequenos negócios, há bem mais de uma década. 

Para além da confiança, outro fator é preponderante quando se pensa no sucesso das vendas online chinesas: a eficiência do processo. Com soluções logísticas baratas e rápidas, a China viu a escalabilidade das soluções digitais ser outro dos trunfos do sucesso local. Neste contexto, uma vez que os chineses já estavam adaptados a transações via celular, os produtos financeiros e outros serviços transacionados via rede passaram a encontrar mais e mais adeptos. Para se ter uma ideia do fôlego deste mercado, quando se pensa em pagamento digital, apenas no terceiro trimestre deste anos, foram realizadas via bancos 27,27 bilhões de transações digitais de pagamento, num total de US$ 12,2 trilhões. Em instituições não bancárias, os pagamentos digitais atingiram US$ 9 trilhões naqueles três meses.

O vigor da economia digital chinesa é ainda fundamental para o oferecimento de crédito à população, cujo acesso aos bancos ainda é baixo, e a micro, pequenas e médias empresas. Isso porque tais agentes são pouco cobertos pelo setor financeiro tradicional. Daí a preponderância do setor como um todo, não apenas no consumo, mas como ferramenta para injetar recursos para o crescimento econômico. Números traduzem este sucesso: entre as fintechs do mundo, em 2018 as chinesas receberam US$ 25,5 bilhões em investimento, ou 46% do total captado.

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