A genialidade da diversidade

Ninguém tinha dúvidas de que a Copa, mais que um grande espetáculo, iria expor não só nossa capacidade de organizar o evento, mas também algumas de nossas fragilidades. Passamos relativamente ilesos, o que significa dizer que nem tudo estava ruim como muitos pronunciavam antes do evento.

Entretanto, o jornalista David Goldblatt do jornal inglêsThe Guardian escreveu algo relevante sobre a diversidade étnico-racial nos estádios.
“Enquanto as seleções latinas mostraram para o mundo que a genialidade do seu futebol está exatamente na diversidade racial dos jogadores, o que se vê nas arquibancadas dos estádios brasileiros é a hegemonia absoluta de uma torcida composta por brancos (descendentes de europeus), incluindo obviamente a torcida brasileira”, mesmo sendo o Brasil a segunda nação mais negra do Planeta.

Nada natural. Isso remonta aos quase quatro séculos de exploração escravagista do colonialismo europeu, financiados principalmente pelos ingleses (algo que o jornalista britânico esqueceu-se de pontuar). Cento e poucos anos de um capitalismo selvagem com forte concentração de renda e de diversas formas de racismo não foram capazes de democratizar a distribuição de renda e de oportunidades nesses países. A imagem exibida nas Arenas tem sido apenas um retrato desta nossa triste história.

No entanto, algumas mudanças significativas, puxadas principalmente pelo Brasil, tem impactado a América Latina nos últimos anos: políticas públicas com foco numa maior distribuição de renda e de oportunidades para a camada da população que nunca se viu assistida têm tirado milhões de pessoas da pobreza e da miséria.
É pouco diante de séculos de violência, abandono, exclusão, mas já é um início.

Oxalá num futuro breve a América Latina e o Brasil possam revelar ao Mundo a importância de se garantir oportunidades sociais para talentos de descendências negras e indígenas, como Neymar e Messi, não só no futebol, mas também na ciência, na matemática, na física… e ver assim essa diversidade de genialidade nas arquibancadas dos estádios, das universidades, do Congresso Nacional, das empresas e dos meios de comunicação, espaços ainda povoados quase que exclusivamente por brancos.

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