A luta intraclasses
Na época presente, além da luta de classes marcada entre os proprietários dos meios de produção e os que apenas possuem a força de trabalho, se destaca outro tipo de conflito no seio do capitalismo.
Publicado 07/03/2014 09:11
Diferentemente desta competição interespecífica (ou interclasse) ganha vulto também a luta corrente entre as próprias classes, típica concorrência intraespecífica (ou intraclasse) que, antes de ser o motor da história, demonstra ser a própria força motriz do modo de produção capitalista, em benefício de sua retroalimentação.
Sobre a luta de classes, Marx e Engels, de forma contundente, registraram no Manifesto do Partido Comunista que “a história de toda a sociedade até aqui é a história de lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, burgueses de corporação e oficial, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em constante oposição uns aos outros, travaram uma luta ininterrupta, ora oculta ora aberta, uma luta que de cada vez acabou por uma reconfiguração revolucionária de toda a sociedade ou pelo declínio comum das classes em luta”.
Há, porém, uma luta própria entre os membros de uma mesma classe social, mais sutil (mas nem sempre menos violenta) e que vem se exacerbando através das possibilidades cada vez maiores de consumo supérfluo de bens e serviços, fetichizados ao extremo, com fim de se galgar degraus na escalada ostentatória na classe em que o indivíduo está inserido. São as fissuras dentro da mesma classe social. Se antes o proletário nada tinha a perder, hoje, mesmo na subjetividade, o capitalismo mostra que há muito interesse em jogo.
Desta maneira, os trabalhadores, desprovidos dos meios de produção que são, em uma realidade de pleno emprego, travam uma disputa entre os seus pares, integrantes da mesma classe. Essa luta interna beneficia o capitalismo de duas formas essenciais: primeiro, por desviar da burguesia, enquanto classe social, a responsabilidade pelas suas mazelas impostas aos trabalhadores e, segundo, por promover e acelerar a mercantilização das relações sociais, o que resulta em mais mercados e mais lucros para os patrões.
Até a chamada classe média, tão criticada ultimamente no Brasil por setores progressistas, vive suas contradições internas, marcada por essa luta intraclasse. Generalizá-la como reacionária é desconhecer suas diferenças internas e essa luta dialética que se dá no seu cerne. Parte dessa classe média não se reconhece como tal e chega a travar um áspero combate entre um campo mais avançado e outro mais conservador. Outros segmentos pelejam para chegar à intitulada alta sociedade e, com isso, serem venerados pelo sucesso material que alcançaram.
O fenomenal desenvolvimento das forças produtivas permitiu que as disparidades das classes sociais fossem maquiadas em novas formas e em diferentes gradações. Pô-las a nu é o desafio das forças transformadoras e revolucionárias.
Desse modo, colocar a chamada classe média num mesmo saco e cobri-la de insultos é tão equivocado como alçar a classe operária como um destacamento coeso e unido em torno de bandeiras avançadas e progressistas. A classe trabalhadora ratifica sua luta interna entre aceitar as migalhas de um sistema decadente ou romper com a decadência moral que o regime lhe impõe, enquanto classe subalterna.
Na longa jornada de luta dos trabalhadores, buscando uma nova correlação de forças, além da união dos proletários de todos os países, é cada vez mais essencial a incorporação de revoltosos consequentes das demais classes sociais, vítimas que também são das variadas formas de dominação do capital. Uni-vos!