A mística, os mitos e a liberdade que educa em Summerhill
A palavra Summerhill significa outeiro de verão e era o nome da casa onde Neill instalou definitivamente a sua “República de crianças”. O método montessoriano e o libertário de Summerhil foram criados para crianças que as escolas tradicionais não queriam e rotulavam de “sem jeito”, as “pestinhas”, os “pra nada”. Neill bebeu muito na fonte montessoriana. Summerhill se inspira numa abordagem psicanlista.
Publicado 03/12/2013 16:09
Para Taís Oliveira de Amorim da Silva “Uma explicação possível para tal enfoque é o fato de Neill ter sido também um grande leitor da obra de Melanie Klein e ter tido contato direto com dois psicanalistas não tradicionais, Homer Lane e Wilhelm Reich”.
Recebi emails indagando o que é uma escola democrática, da qual Summerhil é modelo. E fiquei a matutar sobre a peregrinação árdua de escolher escolas, quando possível, pois nem todas as pessoas têm assegurado o direito de escolher escola para sua prole, que em geral estuda onde der, na biboca que tiver vaga.
E rememorei a minha vida. Da Carta de ABC da escolinha do “professor Izídio”, à Escola Rural Humberto de Campos, em Graça Aranha-MA; ao Grupo Escolar João Pessoa, em Colinas-MA, com a imponência de sua elegante diretora Maria Brandão, até ao Colégio Colinense e a sombra de suas algarobeiras, que para uma menina da roça era um sonho com Sala de Línguas, Sala de Geografia e Sala de Ciências, onde havia até um microscópio que eu manuseava como se fosse um Deus. Foi um privilégio que fez de mim o que sou, com um pedacinho de cada lugar por onde passei!
Para Neill “Sucesso é ter a habilidade de trabalhar com prazer e viver a vida de uma maneira feliz”. Não é simples, nem fácil. Exige equilíbrio emocional, que muita gente chama de inteligência emocional que, segundo Richard D. Roberts e Elizabeth do Nascimento, no artigo “Inteligência emocional um constructo científico?”, “Talvez seja o conceito mais popular do final do século 20”, todavia difícil de descrever e de ser conceituado; apenas sabemos que não é inata, precisa ser estimulada e burilada. Eis a tarefa primordial de Summerhil e o desafio das escolas democráticas que se espelham em Summerhill.
No mundo há cerca de quinhentas escolas que se intitulam de democráticas, sendo sete no Brasil, todas no Estado de São Paulo. Summerhill começou exclusivamente como internato, atualmente há alunos em tempo integral, que à noite vão para suas casas. Nas escolas democráticas os alunos decidem o que fazer com o seu tempo em algum grau, pois nem em todas há liberdade total de não assistir aulas, como em Summerhill – que continua a mais radical e sempre foi muito perseguida pelas autoridades inglesas. Dizem que o ensino inglês tem a grade curricular mais inflexível do mundo, daí o governo viver às turras com Summerhill.
Em 1999 no governo de Tony Blair a ofensiva foi brutal. Os inspetores escolares concluíram que a liberdade fora substituída pela ociosidade e indicaram aulas obrigatórias ou o fechamento da escola! A questão foi parar na justiça. Sobre o caso, Zoë Neill Redhead, filha de Neill e atual diretora, em entrevista a Simone Kosog, nos 90 anos de Summerhill, disse: “Aquela época foi terrível! Não sabíamos se iríamos sobreviver àquilo. Recebemos doações do mundo inteiro para que pudéssemos pagar por um bom advogado. No final os jurados decidiram a nosso favor. Fizemos uma assembleia no salão do Fórum, e decidimos aceitar o julgamento. Nunca tínhamos passado por uma situação dessas!” Por que perseguem a liberdade?