A necessidade de China e Brasil ampliarem o conhecimento mútuo

A China é discutida na imprensa brasileira, de maneira geral, sob o âmbito da economia e da política, com um distanciamento ainda muito grande em relação a suas questões sociais e de como a sociedade contemporânea se estrutura. Isso implica desde a falta de compreensão sobre os chineses até a manutenção de imagens pré-concebidas sobre a China.

As consequências para o Brasil podem ser tão triviais quanto o desconhecimento sobre os padrões de consumo e, eventualmente, de o que isso poderia significar de oportunidades para o Brasil. A falta de desenvolvimento de parcerias em setores como os de saúde ou engenharia, por exemplo, resulta principalmente na pouca reflexão sobre padrões de comportamento e instituições que não seguem modelos ocidentais. É trabalho dos jornalistas que se dedicam à cobertura sobre China no Brasil ampliar estes horizontes e refletir sobre as pautas que são discutidas. Afinal, é a partir da imprensa que um contingente relevante dos tomadores de decisão acabam observando a contemporaneidade.

Mas outro ponto focal para a construção de conhecimento, a comunidade acadêmica brasileira, tem cada vez mais estruturado uma rede de pesquisas sobre a China, com debates complexos e diversos sobre temas que perpassam a sociedade e as estruturas que moldam o país hoje. Um exemplo ocorreu nesta semana na Unicamp, no 2º Seminário Pesquisar China Contemporânea. Durante dois dias, pesquisadores brasileiros de diferentes universidades mostraram a que têm se dedicado em temas relativos a Meio Ambiente, Economia, Ciências Sociais e Relações Internacionais.

Neste processo, ainda que recente, duas questões são centrais: é preciso estudar a China a partir da leitura de pesquisadores chineses, construindo uma base de conhecimento sem filtros a partir da tradição acadêmica europeia e norte-americana. E, para além disso, o contato com a China é imprescindível. A maior parte do grupo já esteve na China, por período maior ou menor tempo. Todos, sem exceção, se ainda não o fizeram, desejam visitar o país. Trata-se de um recorte de dezenas de brasileiros pesquisando China e oriundos de Estados tão diversos quanto Pernambuco e Rio Grande do Sul, mostrando que não são apenas as universidades do Sudeste que olham para a sinologia.

O recado central é de que o Brasil quer discutir a China a partir de percepções próprias dos dois países. Em se tratando de duas nações em desenvolvimento com dimensões continentais, disparidades regionais e diferenças de rendas acentuadas, um pensamento estruturado sobre os dois países faz todo o sentido. Há muito que aprender, buscar entendimento e, a partir disso, a reflexão sobre as experiências de sucesso, ou não, que podem refletir ou guiar políticas e processos em um país ou outro. E isso só será possível com diálogos entre brasileiros e chineses.

O caminho é longo e ainda há muito a ser trilhado. Dados do programa Ciências sem Fronteiras para estudantes de graduação mostram que dos mais de 93 mil alunos que obtiveram bolsa para estudar no exterior, apenas 280 elegeram a China como destino. Ainda que a sinologia avance pouco a pouco, os pesquisadores envolvidos com o tema são um alento para construir entendimento em uma relação que só deve ser aprofundada.

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