A negação da escola como projeto do Governo Bolsonaro

Tem sido mais comum ouvirmos que a escola não prepara para o mercado de trabalho, para a cidadania, não prepara para a vida. Dados e estudos são utilizados para desqualificar a escola pública, responsável pela matrícula de grande parcela dos jovens, principalmente os filhos da classe trabalhadora e desalentados, com idade escolar.

Com a chegada da trupe bolsonarista na Esplanada dos Ministérios, a crítica contra a escola ganha novos contornos. Em que pese o discurso governamental endossar a importância da educação básica, o que tem sido visto, na prática, é o corte no orçamento do MEC e a tentativa de regulamentar o homeschooling.

Contudo, há um fundamento conceitual que auxilia a compreensão crítica feita a escola. No caso fiscal, considero Milton Friedman o teórico que nos auxilia a entender a motivação do governo federal a tomar medidas que impactam diretamente no financiamento da educação. Inclusive, há setores do empresariado se preparando para a adoção do voucher, medida que deve aprofundar ainda mais a desigualdade social no país.

No caso da negação por completo da escola, o homeschooling é a principal medida. Ivan Illich, no seu famoso livro Sociedade sem escolas, pode nos ajudar a entender o que o governo tem tentado aprovar no Congresso Nacional.

Illich nega a importância da escola como instituição que promove a inclusão e os valores liberais. Seu tom radical parte da premissa de que a sociedade escolarizada só legitima aquilo que for ensinado por uma escola. Para o autor: “A confiança no tratamento institucional torna suspeita toda e qualquer realização independente.” (ILLICH, 1985, p.17)

No caso das camadas sociais mais pobres e marginalizadas da sociedade, ele compreende que uma criança pobre jamais terá as mesmas condições de aprendizagem, por exemplo, que uma criança de classe média. Nesse diagnóstico, conceber uma escola igual para todos depende de recursos dos cofres públicos, verba que tende a aumentar a medida que a escola se torne cada vez mais inclusiva.

Para ele, a proposta de uma escola para todos, que seja inclusiva e que dê as mesmas condições para os estudantes é cara, o que a torna inviável. Como solução, aponta para desescolarização da sociedade, permitindo que as pessoas sejam educadas fora do ambiente escolar.

Em suma, Ivan Illich, Milton Friedman, John Holt e outros constituem a base teórica das reformas educacionais em curso. A escola, diante deste contexto, converte-se em alvo. Por isso que os atuais governantes do país desprezam-na tanto.

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