A pauta represada

Tenho insistido neste espaço que as dificuldades do governo Dilma dizem respeito, basicamente, à falta de uma pauta progressista, que sinalize claramente o rumo que seu eventual 2º mandato irá tomar, ou seja, a serviço de quem prioritariamente estará.

E as dificuldades reais da direita também estão nesse terreno. O máximo que eles conseguem indicar é que querem fazer mudanças. Isso evidente é pouco, até porque o questionamento de que “tipo de mudança” se estará falando será inevitável.

As “mudanças” que a direita quer fazer por acaso quer fazer são, digamos, para aumentar ainda mais o valor real do salario mínimo? Para assegurar a universalização da educação e da saúde? Ampliar os recursos e, principalmente, reduzir a taxa de juros da atividade produtiva, especialmente da agricultura familiar? Democratizar os meios de comunicação e tornar a justiça acessível ao povo?

Nada disso. O histórico deles não permite qualquer ilusão quanto a isso, que a rigor eles consideram delírio da esquerda. A pauta que eles defendem é exatamente na contramão desses avanços que o governo vem experimentando, mesmo que de forma tímida.

E o governo, seja o da presidenta Dilma e/ou dos 27 governadores estaduais, também não pode achar que basta comparar os avanços que eventualmente teve em relação ao antecessor. É natural que o governo experimente queda nas taxas de aprovação e de desempenho eleitoral, especialmente nas vésperas de uma batalha eleitoral. Mas não é natural que seus adversários continuem estacionados basicamente de onde partiram. Isso se explica pelo fato de que o povo não vê na direita qualquer alternativa viável para avançar além do que os governos de Lula e Dilma já avançaram.

Mas é preciso ter presente que o povo quer mais. E principalmente o movimento social está por um fio, acumulando um sentimento crescente de frustração e decepção, que tende a se alastrar em setores críticos, como o de segurança pública.

Recentemente a Policia Militar da Bahia parou e obrigou o governo a negociar, numa celeridade que não tem sido dispensada aos demais movimentos paredistas. O fenômeno acaba de se repetir no Amazonas, cuja PM parou a zero hora do dia 28 de abril e as 12 horas do mesmo dia o comando de greve já tinha sido recebido e de lá saído com o compromisso do governador de atender plenamente às suas reivindicações, inclusive a de que não haverá qualquer tipo de punição.

O ambiente está pronto para novos embates. E os governos estarão diante de um dilema objetivo: ou atendem as justas reivindicações dos movimentos paredistas – e não me venham com o manjado refrão de uso politico das greves – ou verão tais manifestações se alastrarem e se alongaram indefinidamente.

E o fato de atenderem prontamente não significa desaquecer os movimentos, na medida em que a causa dessas manifestações são reais e bem objetivas: o movimento social quer mais e a sua pauta de anseios e reivindicações há muito tempo está represada, eis porque não tem como ser evitada, a não ser com uma clara sinalização de que o governo avançará para a esquerda, ao encontro dos justos anseios progressistas do povo.

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