A situação extrema na qual os refugiados estão sendo expostos

O noticiário mundial vem mostrado o quanto podem ser utilizadas barreiras extremas, severas e até mesmo violentas contra indivíduos que durante os últimos anos, especialmente agora em 2015, apresentam pedidos de refúgio para tentar se proteger, na parte mais rica do mundo, das guerras, da fome e do terror presentes em suas terras de origem.

De inicio, é importante pensar que populações de Síria, Afeganistão e de países da África subsaariana, como a Somália e a Eritreia, tem enfrentado situações que expõem famílias inteiras a guerras, miséria, doenças e o convívio direto com a crueldade e a extrema brutalidade de grupos extremistas que se ocupam do terror para implantar um totalitarismo sem fundamento político aceitável para o século 21.

As ações do grupo extremista Estado Islâmico – grupo de tendência sunita, que iniciou suas atividades em 2014 e busca impor seus ideais de intolerância aos xiitas, às minorias e aos EUA, por meio de violência e terrorismo, são chamados de jihadistas, devido ao uso do terror – tanto no Oriente Médio, como também em partes da África, tem destruído patrimônios históricos de sociedades antigas, para fazer a sociedade atual romper com vínculos culturais dos quais eles discordam. Desse modo, expõe a sociedade civil a uma desagregação de direito, de espaços para socialização, desmoralizam gestões dos governantes locais e por fim, culminam por tirar a dignidade dos povos.

Cabe destacar ainda que o Estado Islâmico surgiu declarando-se opositor ao presidente sírio Bashar Al-Assad, que está no poder há 15 anos. 

Por falar na Síria, o país árabe está em guerra civil desde 2011 e é um dos que mais envia refugiados para a Europa. Essa guerra teve inicio após grupos opositores ao presidente Bashar Al-Assad, organizados em forças rebeldes e milícias armadas (com fortes indícios de financiamento estadunidense) se movimentarem e reivindicarem a saída do chefe de Estado sírio, do poder. Essa guerra civil que de um lado coloca o exército e milícias pró-governo, contra grupos de oposição armados, já tem um terrível saldo para a população síria que não está envolvida no conflito, mas sofre, pois existem bloqueios a rodovias que ligam as maiores cidades, prejudicando o abastecimento de alimentos e outros bens, o que gera muita carência e situação de miséria. Além também, dos inúmeros civis mortos e feridos no conflito ao longo dos últimos quatro anos – os números vinculados na mídia não são precisos.

Essa reflexão também deve levar em conta o comportamento dos países europeus nessa relação.

Os refugiados buscam na Europa uma saída emergencial para recomeçar suas vidas com um pouco de paz e novas opções de futuro. O autoexílio não se apresenta como uma alternativa definitiva para muitas dessas pessoas. Pela proximidade que o Mar Mediterrâneo possibilita ao Norte da África e pela entrada por terra via Turquia e Grécia, essa tem sido a opção desesperadora e principal de muitos desses flagelados.

Entretanto, alguns países tem se comportado sem qualquer humanidade para com as centenas de seres humanos que chegam aos seus territórios pedindo refúgio diariamente. Um problema visível ao grande noticiário é a intervenção de atravessadores, traficantes de pessoas, que transportam os refugiados sem segurança alguma. A ação dessas quadrilhas, sem rosto e sem nacionalidade pode ser a culpada pelas imagens, no mínimo chocantes, estarrecedoras que se vê com certa frequência.

Mas há também a postura das nações europeias que “recepcionam” estes imigrantes ilegais:proibindo a sua entrada; e quando conseguem adentrar são transportados aos milhares em trens lotados e amontoados em alojamentos sem estrutura, como pôde ser visto na Áustria e na Hungria, nesse último mês. Isso, ainda, quando não se observam tragédias envolvendo mortes.

Países que não compõem o hall das nações mais ricas do bloco europeu, como a Grécia, a Hungria, Montenegro e Macedônia, por exemplo, tem sido cenário e protagonizado os piores episódios contra as populações refugiadas, que somente passam por esses países para atingir as nações que figuram entre as mais ricas, leia-se Alemanha, França, Inglaterra. Ao que parece, as nações periféricas estejam cumprindo um papel de “cães de guarda”, defensores fiéis posicionados para resguardar os interesses do continente, ou de parte dele. Essa postura de defesa dos mais ricos, pelos mais pobres é a essência do mundo capitalista, que coloca necessitados versus endividados em um embate de medo do terror e sufoco da fuga sendo barradas por posturas enérgicas e desumanizadas. Nenhuma destas nações periféricas se pronuncia ou elabora uma solução – joga o problema para as mais ricas, que se mostram chocadas e apiedadas das cenas fortes que lhes faz virar os rostos de repulsa sem apontar soluções.

É preciso que fique claro quem são os responsáveis por toda essa tragédia diária: O imperialismo, especialmente o estadunidense, que sem qualquer escrúpulo financia guerra “antiterror” por todo o mundo árabe, mas pelo visto, logo pode começar a levar seus tentáculos também para a América Latina.

Pensar uma solução para os refugiados dentro do modus operandi do capitalismo em sua etapa mais cruel, ou seja, financiada pelo capital financeiro, nos parece irrisório. Até lá, ou seja, até a derrocada real desse modo de produção selvagem e desumano, nos resta perguntar: Quem romperá as barreiras para os refugiados? Quem dará o primeiro passo?

* Colaborou neste artigo a socióloga e mestranda em Ciências Sociais pela UFPR Rafaela Mascarenhas Rocha

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