A tentativa de golpe e a defesa da democracia são internacionais

Diversos movimentos sociais mobilizados pela democracia têm se manifestado mundo afora contra a tentativa de golpe no Brasil, deflagrada pelos setores mais conservadores e reacionários do país. Na mobilização, deve-se ressaltar cada vez mais a participação do capital financeiro nacional e internacional e do imperialismo, refletindo o caráter também internacional da intentona golpista.


Ato em defesa da democracia em 13 de março de 2016 em São Paulo. Foto: Sintaema/SP

A atual crise política no Brasil insere-se num contexto de turbulência política e econômica mundial, de ingerência e de reação do imperialismo estadunidense diante da sua perda relativa de hegemonia, desde o soerguimento de uma alternativa multilateral para a condução das relações internacionais com blocos como o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A busca é pela superação do unilateralismo de uma potência agressiva.

Por isso, tanto a inserção da análise da conjuntura brasileira quanto as manifestações de solidariedade no contexto internacional são alvissareiras e necessárias. Em Lisboa, Paris, Madri e outras capitais europeias, assim como nos vizinhos latino-americanos, os protestos contra a tentativa de golpe no Brasil enfatizam o retrocesso que a sua consolidação traria ao cenário internacional, em que povos de diversos países são agredidos por este fenômeno e pela ingerência imperialista dos EUA e de membros europeus da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), como denunciaram recentemente os movimentos europeus membros do Conselho Mundial da Paz.

A manipulação da luta dos brasileiros contra a corrupção é mais uma vez a tática da elite reacionária e seus porta-vozes nos meios de comunicação conservadores, eles próprios personagens principais de processos sobre sonegação fiscal, com remessas vultuosas a paraísos fiscais, lavagem de dinheiro, entre outros. A judicialização da política e a politização da justiça estão no centro das denúncias de movimentos sociais, intelectuais, juristas, artistas e professores nacionais e internacionais, que apelam pelo respeito à democracia e ao Estado de Direito novamente ameaçado no Brasil.

O Cebrapaz manifesta-se e tem recebido manifestações de movimentos da paz solidários, de redes, frentes políticas, movimentos sociais internacionais e intelectuais. A importância da colocação da crise política brasileira em contexto mundial e histórico não pode ser negligenciada. Apesar de uma relativa mudança de tática em relação aos golpes da década de 1960 e 1970 na América Latina, o ciclo progressista ou a democracia na região seguem, como se viu na Venezuela, no Paraguai, no Equador e agora, no Brasil, ameaçados pela aliança entre as oligarquias nacionais e o imperialismo estadunidense, em suas tendências golpistas.

A ingerência estadunidense acobertada já vinha sendo denunciada por observadores e jornalistas investigativos como Glenn Greenwald, editor do portal The Intercept baseado no Brasil que, através do britânico The Guardian, relatou as denúncias de Edward Snowden, ex-técnico da Agência Nacional de Segurança estadunidense, sobre a espionagem – inclusive das comunicações da presidenta Dilma Rousseff e da Petrobras. (Assista aqui sua entrevista ao programa Democracy Now!, com legendas). Também foi recobrada pelo professor Diego Pautasso em artigo recente, onde trata da modernização do golpe no Brasil e dos seus percursos históricos.

O retrocesso que resultaria da consolidação do golpe foi ressaltado pelo sociólogo português Boaventura de Sousa Santos em vídeo recente, pelos paraguaios da Frente Guasu, em protesto diante da Embaixada brasileira em Assunção, e assim por diante. A luta de classes fica cada vez mais evidente, apesar das tentativas reacionárias de mascará-la com discursos maniqueístas e hipócritas para angariar apoios massivos ao golpe. Quando tratamos da reforma política como componente do aprofundamento da democracia e de combate à corrupção; e quando tratamos da regulação da mídia monopolista e da taxação das grandes fortunas, a luta de classes também ficou escancarada.

A reação fica cada vez mais virulenta, no caso das elites nacionais e conservadoras e no caso do imperialismo estadunidense, à medida em que vêm seus espaços privilegiados se reduzindo. A defesa dos ciclos progressistas e da democracia e o avanço do multilateralismo, da cooperação e de uma estrutura mais justa e de paz são nossas lutas internacionais.

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