A timidez paga caro na luta política

Governar o Brasil no terceiro mandato de Lula envolve desafios complexos e a necessidade de uma atuação proativa em meio a um cenário político polarizado e um ambiente global instável

O presidente Lula | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Nada acontece nesse complexo governo Lula 3 sem esforço redobrado. Para muito além da trabalheira que normalmente implica governar – sobretudo um país como o nosso, que não é e nunca foi para principiantes – como vaticinou Tom Jobim.

Pois são poucas as boas oportunidades, como se diz na gestão pública, em que o governo pode fluir natural e facilmente.

Seja pela complexidade da cena mundial, em que se cruzam impasses econômicos e conflitos geopolíticos localmente explosivos e globalmente ameaçadores; seja pela multifacetada cena interna, em que cada passo do governo em sua agenda de “reconstrução nacional” se faz sob fogo cruzado de forças políticas oponentes, ou precariament e apoiadoras, e o cerco midiático que impõe um círculo de giz neoliberal que o governo não pode ultrapassar.

As regras de convivência entre o Executivo e o Parlamento, permeadas por minas explosivas na gestão orçamentária, se agravam pelo pedigree majoritariamente de centro-direita e direita da Câmara e do Senado.

O presidente Lula, certamente o maior líder popular brasileiro das últimas décadas, tanto exibe experiência acumulada e habilidade, quanto uma espécie de obsessão pelo que aqui e acolá chama de pacificação nacional.

Não está errado. Acalmar os ânimos e seguir adiante é próprio da cultura do nosso pais tropical no cotidiano das nossas vidas e, historicamente, pela persistência de situações em que mudanças marcantes se dão com o DNA das rupturas inconclusas.

Basta lembrar que a superação da ditadura militar, surpreendentemente através de eleição indireta e mediante alianças que envolveram parcelas e figuras proeminentes do regime em decadência, incluiu acordos vários a ponto de se manterem, na iniciante assim chamada “nova República”, os três ministros militares de então.

Mesmo sem romper de todo com a tradição conciliatória – a que o presidente Lula parece se apegar desde os seus dois primeiros governos -, nem desconsiderar a real correlação de forças, cabe convocar a base social da frente ampla que governa para que assuma postura proativa.

Não significa necessariamente imediatas manifestações de rua de grande magnitude – que nas condições de hoje, em que os chamados movimentos sociais transitam a uma situação nova ainda não definida, não se fazem facilmente.

Mas significa a tomada de posição por múltiplas formas, inclusive pressionando o parlamento, em favor da agenda do governo.

Tarefa de todos os atores conscientes, sobretudo dos partidos políticos coligados, mas a partir de um chamamento do próprio presidente da República, que não pode se manter como que num ringue, em desvantagem, aguardando que a torcida espontaneamente o apoie e o inspire.

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