Algo sobre inflação e investimento

Ignácio Rangel e suas publicações – em destaque “A Inflação Brasileira” – o coloca no devido altar do mais completo pensador econômico de nosso país. Afinal, foi o único pensador no campo do marxismo a expor as incongruencias de uma chamada inflação po

Dentro da linha de raciocínio de Rangel vamos discutir um pouco aqui neste curto espaço, o central debate que gira em torno da relação entre inflação e investimento. Debate este que para muitos, não somente do campo neoliberal, está há muito tempo fora de contexto.


 



Uma realidade muito mais rica por detrás da aparência


 


 


Concordo que lutar contra a inflação é uma forma de garantir conquistas anteriores. Este combate interessa tanto ao empresariado nacional, quanto as massas populares. Incutiu-se desde a década de 1980 a idéia de que a causa do problema é o déficit incoercível do Estado e que portanto, o ajuste das contas públicas é o passo nodal para o bom termo do problema.


 


Para Ignácio Rangel, as contas em ordem é somente um passo para a volta da emissão monetária, que por sua vez serviria para a estabilização da demanda global deprimida pela depreciação da moeda. Depreciação esta ocasionada pela alta do índice geral de preços e provocada pela anomalias do sistema (oligopólios na indústria e oligopsônios/ monopsônios rurais).


 


Atualmente a política de financiamento ao produtor agrícola nacional encampada -pelo governo Lula aliada à pressão axercida pelos grandes conglomerados de supermercados, fez com que a posição do governo se fortalesse  frente ao oligopsônio-monopsônio. Já o oligopólio industrial característico de nossa formação econômica foi devidamente substituído por oligopólio estrangeiros pela via das seguidas políticas neoliberais que nos foram impostas na década de 1990 e tem na manutenção de um cambio ideológico e uma taxa de juros idealista, suas maiores expressões atuais. Logo, uma saída oposta a que propôs  Ignácio Rangel. Bom lembrar que somente o socialismo pode superar o oligopólio.


 



A melhora da eficácia marginal do capital


 


Fora da aparência imposta na década de 1990, na essência uma rica realidade econômica nos é apresentada e transformada em desafio ao possível  futuro governo Lula: o do combate à inflação fora das vias clássicas importadas e sim em concordância com nossa história econômica onde a inflação alta significava baixas eficácias marginais.  Logo, a eficiência de uma política de investimentos maciços tanto do Estado, quanto pela iniciativa privada nacional, são a pedra de toque da melhor combinação entre aumento de investimentos e controle da inflação.


 


Trata-se em Rangel, da saída progressista à crise. De tal modo, a retomada dos investimentos são a essência por trás da aparência da compressão do dispêndio do setor público, uma das grandes bandeiras do candidato Alckmin e da esmagadora maioria dos economistas e cadernos de economia dos grandes jornais brasileiros.


 


Não obstante a elevação do custo do dinheiro, como expressão das taxas de juros, é necessária e não podemos nos cansar de repetir, que se deve criar condições para que o Estado não emita mais moeda do que a alta dos preços demande, sob o custo de caso a emissão decline, junto com ela vem a depressão e suas consequencias nefastas sob a demanda global do sistema. Trata-se de criar condições para à melhora da eficácia marginal do capital.


 



A intermediação financeira e a reforma de nossas relações externas de produção


 


Os principais elementos que o governo pode lançar neste sentido é a garantia da insititucionalização da reserva de mercado existente nas infra-estruturas às empresas nacionais, cujas operações financeiras devem ser feitas em moeda local. A demanda criada por esse proceso, poderia no curto prazo, elevar os índices de inflação, porém no médio prazo com novos investimentos em cadeias produtivas a situação tenderia a se normalizar com a adequação da estrutura de oferta à demanda.


 


Claro que as medidas visando a retomada dos investimentos são precedidas por reformas em nossas relações externas de produção e no aparelhamento de um sistema de carreador de créditos à esse fim. As medidas alteradoras de nossas relações externas são necessáriamente uma revisão cambial que proteja nossa indústria e incentive nossas exportações. Tais são a base para a melhor adequação de nossas taxas de juros à realidade nacional e são motores primários à “solução progressista”.


 


O outro lado da conversa seria, partindo dos juros reais, criar condições objetivas para que as encomendas cheguem ao produtor de máquinas e equipamentos nacionais. Claro que o aumento da capacidade de importar é uma imensa força de barganha nas mãos do Estado, porém é dever de qualquer governo nacional, utilizar seu poder à institucionalização das reservas de mercado e proteger o produtor nacional.


 



A política conforme a nossa não-vontade


 


É verdade, quem ler estas linhas pode tranquilamente me chamar de louco, lunático ou algo semelhante. Sim o exposto é o ideal, o desejo numa lógica em que a realidade não pode estar de acordo com nossas vontades. Porém, o nosso campo campo político deve mostrar que temos teoria para enfrentar esta correlação de forças adversa. Não é fácil, pois a luta de idéias também é parte da luta-de-classes e neste campo a nossa inferioridade de forças é acachapante.


 


Mas alguém tem que demonstrar que num país onde a industrialização fora feita sem reforma agrária, o nosso problema não é excesso de demanda e sim uma alta taxa de exploração acompanhada por concentração brutal de renda e uma baixa propensão ao consumo das amplas parcelas das massas populares.


 


Inflação por excesso de demanda no Brasil. Onde? Me provem, por favor.


 


Aguardo opiniões sobre isto também por parte de nossa “historiografia recente” (leia-se: “historicismo recente”) “fabricada” pela “esquerda” da Escola de Sociologia da USP que se contrapôs ao “oficialismo” do – para mim saudoso – Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). 

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor