Amanhã há de ser outro dia

Amanhã, o Brasil para novamente contra o Governo Bolsonaro. O #19J, como tem sido chamado, promete tomar as ruas das cidades brasileiras mais uma vez.

Manifestações contrárias a Bolsonaro foram fortemente reprimidas em Recife I Foto: AgênciaJCMazella

Amanhã, o Brasil para novamente contra o Governo Bolsonaro. O #19J, como tem sido chamado, promete tomar as ruas das cidades brasileiras mais uma vez. Aqui no Recife, ainda paira nas esquinas o fantasma da ação truculenta da Polícia Militar do Estado, que atacou covardemente uma manifestação totalmente pacífica, que tinha, inclusive, crianças de colo no local e deixou duas pessoas feridas nos olhos por balas de borracha, com perda de visão, além do ataque contra a vereadora do PT, Liana Cirne, com spray de pimenta. A arbitrariedade da PM resultou na queda do seu então comandante Vanildo Maranhão e vários oficiais.

O que ficou no ar era o questionamento: “quem deu a ordem?” O Governo do Estado na figura de Paulo Câmara (PSB) afirmou que não havia dado ordens para dispersar a manifestação. Afinal, na conjuntura atual, ele é aliado na formação de uma Frente Ampla contra o atual Governo Federal e é desafeto de Bolsonaro. O que levou a uma forte temeridade: o fato de que mais uma vez a PM tem agido à revelia dos Governos Estaduais, como uma milícia particular do presidente, como numa releitura dos Camisas Negras de Mussolini, que foram organizados como uma violenta ferramenta militar na Itália Fascista.

Eu estava lá na manifestação. E, claramente, desde o início percebemos que a PM tentava agir para acabar com a passeata. Na parte de trás, policiais militares apreenderam uma bicicleta de som que gritava palavras de ordem chamando Bolsonaro de genocida. Não havia justificativa legal para essa apreensão. Logo ficou claro que os policiais ali presentes, eram defensores do Governo Federal. E não demorou até ouvirmos as bombas do ataque covarde contra manifestantes pacíficos. A PM também atacou o meio da manifestação, além de atirar contra os prédios, já que haviam apoiadores do protesto nesses edifícios.

Não bastasse a possível insurgência da PM, no Rio, a Polícia Civil impôs sigilo de 100 anos sobre as mortes da Chacina do Jacarezinho. Polícia Civil essa, que abriu caminhos largos para que milícias tomem o controle de uma das poucas áreas ainda comandada por grupos não milicianos. Milícia essa, com fortes ligações com a família Bolsonaro, com figuras que estiveram envolvidas na execução de Marielle Franco.

No mesmo Rio, que a jovem negra Kathlen Romeu foi morta pela PM em mais uma ação desastrosa, que não vê corpos negros como vítimas, mas como efeitos colaterais de uma guerra que nunca surtirá efeito e que só vitima, no geral, pretos e pobres periféricos, sejam trabalhadores, criminosos, crianças, adolescentes e jovens grávidas, como foi dessa vez. A mesma polícia que tem feito o trabalho de Gari de corpos indesejados – aqui com cor e fenótipo muitos específicos -, matou duas pessoas negras de uma só vez. Uma gestante e uma em gestação. Vitória para o racismo institucional brasileiro e para os brancos de classe média, que não aguentam ver negros sequer em bicicletas em bairros nobres, sem achar que são bandidos.

Amanhã, mais uma vez, sairemos às ruas. Em meio a uma pandemia que já matou 500 mil pessoas. Em meio ao medo de sermos atacados mais uma vez por uma organização que nunca abandonou as técnicas e a ideologia da Ditadura Militar, e que parece estar totalmente cooptada pelo bolsonarismo como dogma de morte e opressão. Mais uma vez vamos firmes, porque aqui, honramos os que morreram, foram torturados e estuprados para que tivéssemos o direito de escolher o rumo de nossas vidas. Aqui, todos os que pereceram pelo caminho são nossos guias espirituais e a mudança é o nosso xamã da democracia.

E, como canta Chico, seguimos: “apesar de você, amanhã há de ser outro dia!”

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