Apoio sim, adesismo nunca

Depois de um mês de pausa devido a compromissos acadêmicos e merecidas férias, retomo minha coluna quinzenal aqui no Vermelho. Neste tempo muita coisa aconteceu, mas nada foi mais falado e mais comentado que a polêmica Reforma Ministerial do Governo Dilma.

Tentando agradar a gregos e troianos, a presidenta conseguiu, de maneira surpreendente deixar a direita conservadora perplexa e a esquerda militante revoltada. Nomes como Kassab, Kátia Abreu e Eliseu Padilha poderiam perfeitamente ser ministeriáveis de Aécio ou de Marina Silva. Como entender esta escalação que mais ficou parecendo um circo dos horrores?

Infelizmente, para isso, precisamos recordar das eleições parlamentares. Desde 1964 não se elegia um Congresso Nacional tão conservador e se o último, que tinha mais nomes da esquerda popular, deu problemas de governabilidade, este tende a dar muito mais. E é aí que está a resposta da nossa charada.

Dilma percebeu como é caro depender do PMDB, pois além de adesista, este partido não possui ideologia própria, apenas tem sede de poder para agradar a seus caciques. E só. Dando ao PMDB 6 ministérios (sendo o da Agricultura da cota pessoal da presidenta), ela amarra a legenda ainda mais a ela, e agora com uma novidade: o PSD de Kassab e o PROS dos Irmãos Gomes, outro partido que terá muito espaço neste novo governo, tendo o ex-governador do Ceará, Cid Gomes, como o novo Ministro da Educação.

Ao colocar estes 2 novos partidos de forma definitiva na base do governo, mais o PTB (Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o PR (Ministério dos Transportes) e o PP (Ministério da Integração Nacional), a presidenta deixa claro para o PMDB (66 deputados eleitos) que agora possui outros partidos que, juntos, podem dar tanto ou mais poder de barganha ao governo dentro da Câmara, pois PSD (37), PROS (11), PR (34),PP (36) e PTB (25), somados, possuem mais votos que o partido do vice presidente. E com uma vantagem: possuem menos sede de espaço que o antigo MDB.

Evidentemente, que a nomeação ministerial de Dilma deixa claro um perfil muito mais político que técnico, uma mudança significativa em relação à antiga equipe. Também deixa bem visível um perfil mais duro em seu pelotão de choque, pois Aloízio Mercadante recebe agora o reforço dos petistas Jaques Wagner (Defesa) e Ricardo Berzoini (Comunicações) além do comunista Aldo Rebelo, remanejado para o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.

O peso, entretanto, destas mudanças é pesado, pois o novo Ministro da Educação apesar de trazer consigo os bons números da educação básica cearense, não é professor de formação (é engenheiro civil) e é conhecido pelas saídas truculentas em greves e falta de diálogo com os servidores de carreira. No MEC, Cid Gomes terá que ter muita habilidade, pois terá que negociar diretamente com entidades sindicais como ANDES, SINASEFE e FASUBRA, conhecidos por serem sindicatos de posturas muito radicais em relação ao governo. Será um belo exercício de paciência e persistência…

Nos Esportes, a saída do PC do B para a entrada do PRB, especificamente com o Pastor da Igreja Universal George Hilton, já está causando fissuras, pois vários jornalistas esportivos e atletas tem se manifestado contra tal nomeação. A entrada do PRB nesta pasta, nada mais é que um prêmio para um partido que saltou de 10 para 21 deputados. No samba das cadeiras, nada mais justo, na prática, veremos…

Deixo por último a mais controversa indicação de Dilma a meu ver: a da Ministra da Agricultura Kátia Abreu, presidenta da CNA e acusada de possuir trabalho escravo em diversas de suas fazendas. Ao mesmo tempo que recebe tais acusações, a atual senadora tem se destacado por discursos que defendem a mecanização do campo, inclusive nos assentamentos do MST, seu principal opositor. É bem verdade que os ruralistas sempre reinaram nesta pasta, mas o simbolismo da nomeação da “Miss Moto Serra” tem um peso enorme para um governo que foi eleito com o apoio decisivo das ruas. Esta sem dúvida é a mais arriscada aposta de Dilma…
Por fim, creio que com esta escalação as reformas populares que impulsionaram Dilma para a esquerda durante a eleição, trazendo para a TV até mesmo parlamentares do PSOL em sua defesa, ficarão a mercê da pressão popular. Somente com 4 anos de muita luta, será possível, ao menos, sonhar com a Lei de Meios, a Taxação de Grandes Fortunas e mesmo a Constituinte para a Reforma Política.

Unificar toda a esquerda em defesa de tais pautas, assim como em defesa das minorias e dos direitos humanos, que pode culminar na cassação do deputado Bolsonaro, deve ser a tarefa imediata dos movimentos populares, somente com pressão, muita pressão, é possível melhorar um pouco este quadro complexo que se desenha, ainda mais com uma direita cada vez mais ruidosa nas redes e nas ruas…

Aguardemos as cenas dos próximos capítulos…

Até a próxima.

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