As demissões na Embraer

Nós temos discutido muito, para agir melhor, as características da crise externa que se abateu sobre a economia brasileira.

Diferentemente das maiores economias capitalistas, em que a crise pode ser desenhada como uma curva em “L”, ou seja, em que a queda da produção, do emprego e do consumo prolonga-se no tempo como recessão, aqui no Brasil, até agora, a crise tem se manifestado sob a forma de uma curva em “V”, com queda abrupta seguida de recuperação, não chegando à recessão. Melhor seria desenhá-la como uma curva em “W”, porque ela se manifesta encadeadamente em tempos diferentes dependendo do setor.


 


 


Assim, um setor afetado apresenta seus problemas agudos e inicia sua recuperação enquanto outro se precipita em queda, podendo ou não ter recuperação equivalente à do anterior em prazo também variável.


 


 


Dois setores podem ilustrar essa verdade.


 


No complexo automotivo, a queda abrupta nas montadoras (decorrente do empoçamento do crédito, da incerteza e de manobras inábeis e precipitadas de algumas empresas) foi seguida de recuperação rápida, mas se espraiou pelas autopeças que começam agora a se estabilizar (ainda que em baixa) e podem se recuperar a curto prazo, já que a maioria dos empregos foi salva.


 


 


No setor aeroespacial, as encomendas, principalmente de aviões maiores, têm prazos mais dilatados de realização e dependem fortemente do exterior onde a crise é duradoura. Tudo levava, portanto, a prever que a principal empresa do setor, com mão de obra qualificada que havia crescido nos últimos anos, sofresse o abalo capaz de produzir o “massacre da Embraer” com 4.200 demissões anunciadas e efetivadas no tranco às vésperas do carnaval.


 


 


Durante o período de latência da crise não foram tomadas medidas capazes de evitar o pior porque a empresa se preparou sigilosamente para o corte e o sindicato majoritário andava desorientado com um discurso ideológico de críticas às negociações que ocorriam em outros setores para resistir à crise.


 


 


Agora, é preciso garantir a unidade de ação do movimento sindical, até mesmo nos tribunais, em defesa dos direitos dos trabalhadores demitidos e nas tentativas de reverter as demissões. Devido à concentração regional da empresa, devemos obter nas cidades e prefeituras onde se localiza o “massacre” as melhores condições de apoio aos trabalhadores demitidos e de enfrentamento às conseqüências locais destas demissões.

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