As sementes da capitulação

Vamos direto ao ponto: qualquer acordo – ou pacto – de que venha participar a esquerda e os setores democráticos e progressistas, com o objetivo de superar a atual crise politica brasileira, e que inclua a não candidatura do ex-presidente Lula em 2018, não passará da mais vergonhosa capitulação.

E imaginar que tais segmentos poderão apoiar, ou mesmo realizar uma oposição mitigada, suave, amigável a um eventual governo Temer, em nome da garantia do que nos resta da democracia liberal, também não passará de desavergonhada rendição. Isto sem falar na dose cavalar de oportunismo que essas duas possibilidades contém.

O objetivo central da direita brasileira – e, quanto a isso, não pode haver tergiversações – é liquidar politicamente o ex-presidente Lula, desconstrui-lo moralmente e, assim, inviabilizar sua candidatura em 2018. A direita poderá, na atual circunstância brasileira, até mesmo obter o “impeachment” presidente Dilma; caso não o consiga, poderá impedi-la de governar, utilizando todo seu gigantesco aparato policial, jurídico e midiático, sangrando-a até o final do mandato; mas se não excluir Lula da disputa de 2018, todas as suas articulações e iniciativas (e conquistas) desde que perdeu as eleições de 2014, terão sido vitória apenas parcial, não assegurando seu retorno pleno ao poder.

Enfrentar Lula nas urnas, em 2018, é um osso duro de roer para a direita. Afinal, o ex-presidente ostenta respeitável patrimônio político que vem resistindo à colossal campanha difamatória que lhe move o consórcio oposicionista. A despeito dessa campanha, 37% dos eleitores ainda o têm como o melhor presidente brasileiro. Num embate eleitoral, falando diretamente ao povo, Lula será capaz de despertar na subjetividade popular – abafada pelo processo de envenenamento de consciências promovido pela grande mídia – o lugar que sempre ocupou de grande líder popular, ele e as expressivas realizações dos seus dois governos.

Talvez seja necessário algum tipo de acordo entre forças políticas para evitar o golpe e garantir a governabilidade. A política consequente é, afinal, feita (já o dizia o velho e sábio Lênin há quase cem anos) de acordos e compromissos. Há, no momento brasileiro, um jogo complexo nas esferas do judiciário, do parlamento e do movimento social a ser enfrentado com coragem, discernimento e perspicácia, sem estreiteza e sectarismo. Mas não se fazem acordos ou se estabelecem compromissos para garantir aos adversários sua principal meta, no caso, o impedimento da candidatura de Lula em 2018. Aí seria uma rendição incondicional, retirada vergonhosa e indigna.

Quanto a excluir a candidatura de Lula em 2018, como ingrediente de um acordo de governabilidade, já se fala mais ou menos abertamente, ainda com certa timidez, mas abertamente em alguns segmentos. Quanto ao apoio – ou oposição simpática, amigável – a um eventual governo Temer, a ideia vislumbra-se apenas nos subterrâneos das entrelinhas, algo não mencionado, mas vagamente sugerido, sem dar nome aos bois.

Concluo: a esquerda consequente, os democratas e progressistas do Brasil, devem se preparar para uma renhia resistência, ceifando desde já as indignas sementes da capitulação.

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