Bala Perdida

*

Olho a rua, que fica bem aqui na minha frente,
No ar o cheiro de mar; na rua muita gente,
Humildes, atentos, contritos e decentes,
E eu a vê-los do meu covil, qual serpente.

Ninguém me vê, a não ser a fria brisa,
Fria vida que a tudo permeia; os sons,
Dos sapatos nesta rua, gente que pisa,
Gente sem rostos, sem sonhos, será?

Uma menina linda, pegada à saia,
Da mãe, trouxa de roupas à cabeça,
E poucos dentes na boca faminta.
Num átimo me vi colibri, azul como o firmamento,

Ouvi um silvo breve: bala perdida; e meus olhos
Captam a imagem do meu fim; meu último momento.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor