Bilhete aberto ao governador do Pará em razão do bloqueio ao Amazonas

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Foto: Edmar Barros/Futura Press

Senhor governador Helder Barbalho, tomei conhecimento de que em razão da crise sanitária pela qual passa o Amazonas V. Ex.ª restringiu a circulação de pessoas oriundas de nosso estado. Sua preocupação é justa, mas apelo no sentido de que abra uma única exceção: receba de volta o senhor Wilson Lima (PSC), atual governador do Amazonas.

Como o senhor tem conhecimento aqui de fato a situação é bastante crítica. As pessoas acreditaram na propaganda do presidente, endossada pelo governador, de que não era preciso evitar aglomerações, adotar medidas preventivas, e muito menos usar máscaras, na medida em que isso era apenas uma gripezinha”, segundo esbravejava a propaganda oficial. Boa parte acreditou nisso e hoje, não apenas eles, mas a população de maneira geral está morrendo porque não tem sequer oxigênio quanto mais leitos e UTI.

E hoje, infelizmente, essa “gripezinha” já contaminou perto de 10 milhões e levou a óbito nada menos do que 225 mil de brasileiros (as). No Amazonas são 268 mil contaminados, dos quais mais de 8 mil foram a óbito, muito dos quais por absoluta falta de atendimento hospitalar adequado. Não é uma mera estatística. São nossos amigos, colegas de trabalho, parentes, entes queridos que nunca mais veremos por conta dessa irresponsabilidade.

Como o senhor também sabe, essa situação já poderia estar sendo atenuada se houvesse vacinação massiva, evitando novos enfermos e poupando vidas. Mas, como é público, o presidente, além de fazer campanha contra qualquer tipo de vacinação, ainda proibiu o Ministério da Saúde de comprar a vacina produzida pela República Popular da China em parceria com o Butantã, o que fez com que hoje só tenhamos vacina para atender 3% da população do país. Estamos correndo contra o tempo por conta dessa tipo de estupidez e, no caso do Amazonas, o senhor precisa saber que não há uma única UTI em qualquer município do estado, o que faz com que Manaus seja permanentemente sobrecarregada.

E essa tragédia só não é maior, senhor governador, porque vários estados, alguns inclusive com situação financeira bastante modesta, estão nos socorrendo e ajudando a diminuir a dor e o sofrimento de milhares de famílias. Esses estados revelam uma solidariedade típica dos amazônidas, a qual um dia faremos questão de retribuir.

Nós resistiremos e superaremos mais essa provação, até mesmo porque descendemos de Ajuricaba, líder do povo Manaós, que, preso e acorrentado, se lançou ao encontro das águas do rio Negro com o Solimões bradando que preferia a morte à escravidão. Nós viemos dessa cepa, portanto jamais nos renderemos, por maior que seja o desafio. E hoje o nosso maior desafio, ao lado do eficiente combate a essa pandemia, é nos livrarmos de quem, por incompetência e má fé, é responsável por essa tragédia.

Se vossa excelência puder ajudar, disponibilizando parte da rede hospitalar de nosso estado irmão, nós agradeceremos profundamente. Se isso não for possível, nos ajude pelo menos levando de volta o senhor Wilson Lima.

Atenciosamente
Eron Bezerra
Professor Doutor da Universidade Federal do Amazonas
Presidente Estadual do PCdoB.

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