Brasileiros na Palestina

Quando vocês estiverem lendo este artigo nesta quinta-feira, deveremos estar entrando em terras palestinas, cujo nomenclatura no mapa chama-se “Israel”. Pela terceira vez, uma delegação de brasileiros, de diversas origens e representando várias entidades, decidem organizar uma Missão de Solidariedade ao Povo Palestino. Falo um pouco dessa história e da atual 3ª Missão.

É recente a organização de Missões de Solidariedade. Elas são articuladas pelo Comitê do Estado da Palestina, constituído formalmente no dia 29 de agosto de 2011. O CEP, como o chamamos, tem hoje em torno de 80 entidades aderentes, ou seja, entidades que, em algum momento participaram de uma das suas reuniões e que apoiam a luta pela criação do Estado da Palestina. Como tenho dito, aderir ao Comitê e apoiar suas lutas não significa necessariamente vir nas reuniões e menos ainda integrar as Missões de Solidariedade.

A primeira experiência de atividades como essa iniciou em 2012 e com apenas seis companheiros. A OLP valorizou a atividade, tanto que o presidente da Palestina recebeu a delegação brasileira. A segunda experiência ocorreu em 2013, desta vez com 20 pessoas e o portal Vermelho indicou uma jornalista para fazer a cobertura que enviou uma matéria por dia. Finalmente, partiremos na terceira experiência de Missão, neste 25 de março, entrando na Palestina no dia 27 de março, quinta-feira.

Integrantes da Missão

Fizemos um amplo esforço para levarmos o maior número de pessoas. Os objetivos dessas Missões são sempre três: 1. Conhecer a realidade a causa palestina e a ocupação israelense e 2. Expressar a solidariedade dos brasileiros e das nossas entidades a essa causa e 3. Divulgar no Brasil a situação dos palestinos.

Empreender uma viagem à Palestina não é tarefa fácil. Gasta-se pelo menos três dias na viagem de ida-e-volta. Todas as empresas que fazem Oriente Médio e que possuem voos diários precisam fazer uma parada onde trocamos de avião para o embarque da segunda etapa do voo. Duas delas são árabes e uma é turca. São a Emirates, Itihad e a Qatar e a outra é a Turquish. Seus centros de distribuição de voos são respectivamente Dubai, Abu Dhabi, Doha e Istambul. Quase em todos os casos ou ficamos várias horas no aeroporto ou pernoitamos nessas capitais árabes e turcas.

A entrada para a Palestina tem também duas formas. Ou se entra por Tel Aviv, capital de Israel ou se entra por estrada de terra da fronteira da Jordânia com a Palestina/Israel. Aqui é o preferido pelas Missões Brasileiras, já que o controle da fronteira não é tão rigoroso quanto por Tel Aviv. A única vez que fui por essa capital israelense, fui submetido a um interrogatório de duas horas na entrada e três na saída, com revista total de bagagem (na volta até meu lap top desmontaram).

Outra barreira que faz diminuir o público que possa ir conhecer a realidade palestina é mesmo o tempo de permanência. Ninguém empreende uma viagem de 30 mil quilômetros de ida-e-volta em poucos dias. É preciso passar pelo menos cinco dias em terras palestinas, sendo que um deles é preciso conhecer Jerusalém e Belém (vizinhos), os sítios considerados sagrados e a Mesquita de Al Aksa. No caso de Jerusalém, o governador da região, que é palestina, recebe sempre nossas delegações.

Para estas viagem temos contado com o imprescindível apoio da embaixada da Palestina no Brasil e seu embaixador, Dr. Ibrahim Al Zeben e da embaixada brasileira em Ramallah, com o embaixador Paulo França, que nos dá total apoio. Ele inclusive oficia a chancelaria israelense sobre nossa passagem na fronteira na Jordânia. Esperamos que tudo transcorra bem novamente.

Quero deixar registrado a composição de nossa pequena, mas aguerrida delegação brasileira:

1. Lejeune Mirhan Xavier de Carvalho – Coordenador da 2ª Missão de Solidariedade e do Comitê pelo Estado da palestina. Sociólogo, professor, escritor e arabista. Representante da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino – Fitee e da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB; 2. Antônio Marsicano de Miranda – Diretor do Sindicato dos Comerciários do ABC e da Federação dos Comerciários do Estado de São Paulo. Representa a Força Sindical; 3. Thomas Henrique de Toledo Stella – Historiador pela USP, Mestre em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp, professor de Relações Internacionais da UNIP e Secretário Geral do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz – Cebrapaz; 4. Manoel Francisco de Vasconcelos Motta – Professor de Filosofia da Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT, Doutor em Filosofia da Educação, nesta Missão representante da Federação Nacional dos Professores das Universidades Federais do Brasil – Pró-Ifes; 5. Thea Rodrigues – Jornalista do Portal Vermelho (www.vermelho.org.br); 6. Beatriz Bissio – Socióloga, Escritora, Jornalista, Doutora em História, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Chefe do Departamento de Ciência Política e ex-editora da revista Cadernos do Terceiro Mundo e escritora; 7. Marcelo Melo de Lima – Engenheiro Eletrônico da empresa Petróleo Brasileiro S/A – Petrobras; 8. Nair de Faria Miranda – Comerciária da Força Sindical; 9. Antônio Victor – Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Sertãozinho; Diretor da Federação dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação do Estado de São Paulo e Secretário Adjunto de Relações Internacionais da Nacional da Força Sindical; 10. Ângela Maria de Souza Vitor – Trabalhadora da Força Sindical.

Nossas Atividades na Palestina

Se tudo transcorrer conforme o planejado, entraremos na Palestina por volta das 14h (hora local) do dia 27 de março, quinta-feira. A entrada está prevista com a ida direta para a cidade histórica e bíblica de Jericó, onde almoçaremos com o governador dessa província. Depois seguiremos para Ramallah.

Ainda que não tenhamos a programação detalhada, vamos ficar na Palestina nos dias 28 a 31 de março. Nesses dias teremos pelo menos as seguintes atividades:

1. Visita à Universidade de Bir Zeit, com audiência com seu reitor e corpo docente;
2. Encontro com a Central Sindical palestina (GUPW) e organização de Mulheres;
3. Encontros com o Fatah e com a esquerda palestina (FPLP, FDLP, PPP e Comunistas);
4. Reunião com o Secretário-Geral da OLP, Yasser Abbo;
5. Almoço com brasileiros e o prefeito de Betúnia (cidade bíblica);
6. Demonstração em frente ao muro da Vergonha de Israel (na aldeia de Nabih Saléh);
7. Visita à embaixada brasileira.

Programamos está Missão para este período para podermos participar das comemorações do Dia da Terra, importante data para o povo palestino. Como sempre, depositaremos flores no túmulo de Arafat. O esperado encontro com o presidente da palestina, Mahmoud Abbas, ainda que solicitado, não estava confirmado até a nossa saída. Temos esperança que se concretize.

Os brasileiros levam duas coisas de lembranças aos palestinos que eles gostam muito: café brasileiro (lá eles usam café solúvel) e camisas de futebol da seleção brasileira da qual eles são torcedores (uma parte pelo menos).

Cumprida essas atividades, nossa previsão é deixar o dia 31 de março para as cidades de Jerusalém e Belém e encontros com o governador geral da capital. Sairemos da Palestina rumo à Jordânia no dia 1º de abril. Nesse país, passamos no retorno à Amã pelo Mar Morte, Petra, Jerash e estamos tentando contatos com a esquerda jordaniana. Retornamos à pátria dia 3 de abril.

Esperamos que muitas outras Missões possam ocorrer, com mais pessoas que levem sua solidariedade política. Esperamos baratear os custos dessa viagem – hoje situados na faixa de três mil dólares – para que mais pessoas possam ir. Enfim, desejamos que a solidariedade siga firme entre os brasileiros para com esse povo milenar que tem suas terras tomadas por estrangeiros e que vive a mais longa ocupação na história recente da humanidade.

Caso queira acompanhar a nossa Missão, poderá ver notícias pela minha página pessoal no facebook, cujo endereço é https://www.facebook.com/lejeune.mirhan ou pelo nosso portal Vermelho pelas notícias que serão enviadas no endereço www.vermelho.org.br pela jornalista Thea Rodrigues.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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