Campanha na imensidão amazônica

O Amazonas tem apenas 62 municípios no seu imenso território de quase 1,6 milhões de km2, onde cabem algo como três vezes a França. Os municípios são tão espaçosos que alguns são maiores do que vários estados nacionais.

A malha rodoviária é bastante reduzida, fazendo com que mais de 85% desses municípios só possam ser alcançados por via fluvial ou aérea. A via fluvial é longa e penosa, a aérea é extremamente cara e de segurança no mínimo duvidosa. É nestas condições que se faz campanha nesta parte da imensidão amazônica.


 



No Amazonas o PCdoB participa da disputa majoritária com 11 candidatos a prefeito (a) e 12 vices. Como há chapas “puro sangue” o partido disputa eleições em 20 municípios (32% do estado), distribuídos pelos rios Negro, Juruá, Japurá, Jutaí, Purus, Solimões e Baixo Amazonas.


 



Para ir até Guajará no alto rio Juruá, por exemplo, toma-se um avião em Manaus que passa por Porto Velho (Ro), Rio Branco e Cruzeiro do Sul (Ac) para finalmente chegar de carro no município de Guajará. E lá se foram 5 horas, sendo 4,5 de avião e 0,5 de carro. Tempo superior ao que se gasta para chegar a São Paulo ou Miami, nos Estados Unidos. E também mais caro.


 



A saga do rio Japurá é ainda mais complicada. Nesse imenso rio ficam apenas os municípios de Japurá e Maraã, onde não há aeroporto. Então, para ir a Maraã, toma-se um “teco-teco” e se suporta 3 horas de solavancos e fortes emoções até o município de Japurá. A partir desse ponto o transporte é exclusivamente por via fluvial. Quem dispõe de algum recurso pode alugar uma lancha rápida que leva em torno de 8 horas para ir e voltar até Japurá, onde novamente se toma o “teco-teco” por mais 3 horas para retornar a Manaus. Ao final levou-se 14 horas viajando para cumprir uma agenda política de, digamos, 3 horas.


 



A dificuldade de locomoção interna nesses municípios é ainda pior. A comunidade de Vila Bitencourt, na região conhecida como “cabeça do cachorro”, pertence ao município de Japurá. Como lá tem um pelotão do Exército brasileiro e certo adensamento populacional a justiça eleitoral decidiu instalar uma seção eleitoral para evitar que os eleitores dessa comunidade fossem obrigados a viajar 36 horas até a sede do município para exercer sua cidadania eleitoral. Esse drama se estende, igualmente, para os vereadores que eventualmente são moradores de Bitencourt. Após eleitos vem o drama: como conciliar as sessões da Câmara com 36 horas de viagem apenas para chegar ao local de trabalho e mais outras tantas para voltar ao local de moradia?


 



Um observador atento deve estar se perguntando como aviões pequenos, os famosos “teco-teco”, conseguem voar tantas horas sem uma infra-estrutura de apoio e de reabastecimento. As Forças Armadas, por razões óbvias, estruturaram pontos de apoio em São Gabriel da Cachoeira, Tefé e Tabatinga, onde se faz o reabastecimento. Significa dizer que se a viagem for muito longa ela se tornará mais longa ainda porque num determinado ponto o avião terá que desviar de rota para ser abastecido num desses pontos de apoio. Se o piloto for imprudente ou inexperiente e calcular errado a sua autonomia de vôo, esse reabastecimento jamais acontecerá.


 



Como se pode ver, a Amazônia é a prova viva da “lei de Darwin”, onde só os fortes sobrevivem. Por isso o PCdoB é tão vigoroso.

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