Caravaggio e seus seguidores

O Museu de Arte de São Paulo – MASP – inaugura a partir desta quarta-feira, dia 1 de agosto, a
exposição “Caravaggio e seus seguidores”. Serão 7 pinturas do mestre do Barroco e mais 14 de alguns de seus seguidores, os chamados pintores caravaggescos. Esta mostra já passou por Belo  Horizonte, na Casa Fiat de Cultura.

Segundo o portal do MASP, a mostra será dividida em três grupos, que passam por diversas fases da vida do pintor italiano: os trabalhos consagrados e conhecidos, as novas descobertas e obras que ainda não se garante que foram pintadas por ele. De qualquer maneira, é a maior mostra em solo brasileiro da obra deste grande pintor que segundo um de seus principais estudiosos e responsável por divulgá-lo no Ocidente, Roberto Longhi, tinha uma “verdadeira obsessão” por pintar a realidade.

A primeira vez que quadros de Caravaggio chegaram ao Brasil, foi em 1954, na comemoração
do IV Centenário da cidade de São Paulo, e vieram três pinturas: “Sacrifício de Isaac”, “Ceia em
Emaús” e “David com a cabeça de Golias”. Em 1998, vieram duas outras telas, também para o
MASP: “Narciso” e “Os Trapaceiros”.

Desta vez serão sete, o que já é uma boa mostra da capacidade pictórica deste que foi um dos
grandes revolucionários da pintura ocidental, influenciando gerações de pintores de todos os
cantos do mundo. Gigantes do tipo de Rembrandt, Vermeer, Velázquez, Van Dyck, José Ribera,
Gustave Courbet, só para citar alguns, não fariam o que fizeram sem Caravaggio.

Não existem mais de 70 obras de Caravaggio no mundo e elas estão espalhadas em pequenas quantidades por diversos museus importantes, mas se concentram basicamente na Itália.

Segundo os organizadores desta exposição, foram dois anos de negociação com museus italianos para que as obras fossem liberadas. Entre elas, “São Jerônimo que escreve”, da Galeria Borghese de Roma, “São Francisco em meditação”, do Palazzo Barberini também de Roma, e a “Medusa Murtola”, de colecionador privado. Em Belo Horizonte só foram mostradas seis pinturas dele, porque a sétima, “São João Batista alimentando o cordeiro” somente chegou ao Brasil no mês de julho.

Entre os caravaggescos, estarão: José Ribera, Artemísia Gentileschi, Orazio Gentileschi, Simon
Vouet, entre outros. Até o final desta semana, estarei publicando aqui neste blog um estudo que estou fazendo sobre o livro de Roberto Longhi, Caravaggio,da editora Cosac Naify, abordando mais especialmente a atração que o mestre tinha a respeito de se manter fiel à realidade. Caravaggio foi também por isso um dos grandes inspiradores dos pintores realistas que lhe seguiram os passos.

No prefácio do livro, apresentado por Lorenzo Mammi, ele explica que Roberto Longhi produziu
textos e organizou exposições com a finalidade de tornar Caravaggio conhecido no Ocidente. Mas antes, a literatura voltada para o estudo das artes já havia reconhecido nele “uma inegável eficácia e uma extraordinária habilidade na reprodução do real”. Em Caravaggio, como mostra Longhi – e falarei aqui – a luz é o guia de sua pintura, como se nada existisse a não ser o que “o raio luminoso desvela”, como observa Mammi.

Caravaggio teve uma vida muito atribulada. Perdeu os pais quando ainda era criança, e passou
a maior parte da sua vida em Roma. Ele teve um irmão, que se tornou padre e homem de letras, com quem Caravaggio quase não conviveu. Um dia, quando o pintor já era famoso em Roma e arredores, Battista, seu irmão, resolveu procurá-lo. E Roberto Longhi pergunta: “Quem poderá explicar por que, naquele certo dia, afirmando ser sozinho no mundo, ele negou, cara a cara, reconhecer o irmão padre, “homem de letras e bons costumes” que dizia ter vindo de tão longe para revê-lo?” Porque antes, desconhecido e na miséria, Caravaggio nunca recebera a visita do irmão.

Entre os 20 e os 30 anos de idade, Caravaggio atravessava, “por assim dizer, Roma inteira”.
Brincava com seu cão preto, estudava seus quadros, joga pela, frequentava as prostitutas, ia às
tabernas onde tinha amigos “de todas as raças e extrações”, se embriagava de vinho e partia
para as ruas em gritaria, lançando palavrões para a polícia, se envolvendo em brigas com seus
rivais, jogando pedras na janela da senhoria. Os frequentadores das tabernas também eram
os comerciantes de quadros, estudantes, livreiros, artistas, como o arquiteto Onorio Longhi,
amigo íntimo de Caravaggio. Também Orazio Gentileschi, presente nesta exposição do MASP,
frequentava as tabernas, e mais tarde muda-se para Londres e deixa a barba pontuda à la Van
Dyck. Nas tabernas também iam os pintores franceses e flamengos que vinham a Roma estudar.

Ou seja, o pintor Caravaggio era um homem inquieto, desassossegado. Mas que foi capaz, sozinho, de resistir a um período em que todos deveriam se submeter aos gostos da época, inclusive pictóricos. Por isso ele foi além, foi gênio e revolucionou a arte da pintura.

A curadoria da exposição é de Fábio Magalhães, museólogo, Giorgio Leone, do Patrimônio
Histórico do Polo de Museus de Roma, e Rosela Vodret, do mesmo órgão italiano.

Saiba mais aqui.

Serviço:

CARAVAGGIO E SEUS SEGUIDORES

De 2 de agosto a 30 de setembro de 2012

MASP: Avenida Paulista, 1.578

Aberto de terça a domingo, das 11h às 18h

Às quintas-feiras, das 11 h às 20h

Entrada: R$ 15,00 – GRÁTIS ÀS TERÇAS-FEIRAS

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