Cidadania em favor das futuras gerações

Semana passada escrevi acerca da cidadania infanto-juvenil e a importância do Estado de Direito como garantidor da dignidade da pessoa humana. Face a repercussão do tema (lei da palmada), resolvi escrever novamente, mas por outro ângulo. Se houve uma indignação pela interferência do Estado, que visa garantir a dignidade de crianças e adolescentes, o mesmo não ocorre coma interferência da mídia na formação de nossas crianças.

Entretanto, todos os dias a TV despeja – por meio de novelas, programas, “bailarinas” (que me perdoem as bailarinas) de grupos de pagode ou com nome de alguma fruta – (des)informações e (des)valores que levam a sexualização precoce de meninos e meninas. Uma menina de dez ou onze anos é levada a querer sapato de salto auto, batom, roupas provocantes, enfim, deixam de viver sua infância e entram no universo adulto sem a maturidade necessária para esse universo. O que é estranho é a apatia da sociedade frente a isso; nada é falado ou criticado sobre esse tema. Na verdade, se alguém propõe um debate sobre isso é taxado de censurador ou coisa do tipo.

Em outros países a coisa não é bem assim. Conforme informação da Zero Hora de 23 de setembro, em abril, a rede de lojas Primarki, do Reino Unido, retirou de suas prateleiras um artigo controverso: sutiãs recheados com enchimento, o o famoso bojo, para meninas de até sete anos. A pressão pública foi tanta que a empresa chegou a pedir desculpas pela ofensa. No caso do Brasil, infelizmente, a sociedade não exerce sua cidadania de forma ativa. Só se manifesta ao ser provocada – na verdade direcionada – pela mídia.

Um dos reflexos dessa realidade é o grande número de gravidez na adolescência, segundo dados do IBGE, através da diretoria de pesquisas, coordenação de população e indicadores sociais, estatísticas do registro civil 2.002, aproximadamente 700 mil meninas engravidam, por ano, no Brasil. Deste total, nove mil têm idades entre 10 e 14 anos e 50% delas acabam abandonando a escola para cuidar dos filhos. No Rio Grande do Sul, a cada 400 partos realizados no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, 100 são feitos em adolescentes e que, 18% delas com idades entre 15 a 19 anos já ficaram grávidas ao menos uma vez.

Vários outros aspectos poderiam ser apresentados para mostrar os prejuízos causados pela precocidade da sexualidade de crianças e adolescente, onde a doenças sexualmente transmissíveis e os abusos sexuais dentro da família são exemplos tristes e preocupantes. Devemos estar atentos sobre todos os aspectos que envolvem a formação e educação de nossas crianças e adolescentes. A mídia colocou um “bode” na nossa sala (o Estado interferindo nas relações privadas) e nós não nos damos conta que ela (a mídia) interfere cotidianamente em nossas vidas.

Um dos pressupostos básicos de uma sociedade que busca garantir um futuro digno de suas gerações futuras é a capacidade de reagir frente a qualquer abuso, seja ele público ou privado e saber discernir sobre o que está em jogo e não “comprar” uma ideia defendida por que tem interesse bem determinado – o lucro.

Precisamos exercer nossa cidadania de forma ativa para garantir o desenvolvimento das futuras gerações, ajudando a construir uma democracia substancial, onde o ser humano – adulto ou criança – seja sujeito de direitos e não apenas um objeto do mercado.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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