Comissão de Anistia: reencontro do Brasil com a história

Convivo com familiares das vítimas da ditadura militar. Pessoas que se orgulham da coragem com que seus entes queridos enfrentaram um período funesto de nossa história, dando suas vidas para combater o arbítrio. O orgulho, no entanto, não as faz superar o sentimento de indignação e injustiça frente a um tempo de censura, tortura, desaparecimentos, perseguição e mortes dos que não aceitaram a mordaça e a violência e, destemidamente, se rebelaram contra um tempo de repressão aos movimentos sociais e populares e lutaram para restabelecer nossa democracia.

Em memória de todas as vítimas da ditadura e seus familiares resistimos a qualquer investida contra a democracia. Para que não se repita o retrocesso vivido naqueles anos sombrios. Nossa voz continua forte frente às tentativas de fomentar uma nova ditadura para que sejam sempre condenadas com veemência pelo conjunto da sociedade.

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Repudiamos os que ainda celebram a data e tentam, a todo custo, fazer daquele período tudo o que não foi. Aos que exaltam a tortura, a história reserva um capítulo destinado a registrar que houve aqueles que emprestaram esforços e vozes para defender o fim das liberdades individuais, dos direitos e a instalação de um regime imposto à força contra o estado democrático de direito. Aos que ainda hoje se posicionam em defesa do indefensável, saudosos que são de um tempo que deveriam se envergonhar, resta a atitude covarde de venerar torturadores e exalar mentiras sobre o significado daquele dia.

Dia 31 de março é uma data que não se comemora, nem se exalta, mas fazemos questão de relembrar para que nunca mais se esqueça o mal produzido pelo arbítrio. Uma ditadura militar que durou 21 anos. Tempo demais. E passados 59 anos ainda estamos a clamar reparação.

Pela Memória, pela Verdade e pela Justiça, foi retomada a Comissão da Anistia, interrompida por motivos vis e ideológicos durante o governo passado. Haveremos de ver chegar justiça às vítimas e seus familiares em reparação histórica. Homenageio o retorno da Comissão da Anistia pelo governo Lula, que neste momento vai rever todos aqueles processos indeferidos injustamente pelo governo da morte. Esperamos pelo justo reconhecimento aos que lutaram pela liberdade e pela democracia.

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Um reencontro do país com a história, por justiça às pessoas que colocaram o país acima das suas vidas, a liberdade de todos acima da sua liberdade individual. Aos que não mediram esforços pelo avanço da democracia, pela valorização da diversidade, da pluralidade.

Não será um projeto minúsculo de ditador, que retorna ao Brasil após ter fugido de suas obrigações constitucionais, capaz de ofuscar a verdade. Não conseguirá obscurecer os fatos e, muito menos, escapar do que a justiça lhe reserva. É necessário punir os responsáveis pelos crimes e atrocidades, inclusive os crimes cometidos durante o governo anterior. Sem anistia para todas as formas de tortura ainda perpetradas contra a sociedade e embutem racismo, aporofobia, homofobia e misoginia!

Voltaremos a fazer Justiça e garantir que seja honrada a luta dos que colocaram o país acima de suas vidas. Ditadura nunca mais.

Artigo publicado originalmente na CartaCapital