Comunicação e mobilização

A campanha eleitoral que chega ao seu desfecho serviu para demonstrar mais uma vez, e com maior ênfase, a necessidade de revermos o sistema de Comunicação Social no Brasil. Direitos de cada um, modelo de concessões de canais de rádio e TV, seu papel como fator de mobilização social, tudo precisa ser revisto.

A campanha serviu para reavivar esse debate. As composições do Congresso Nacional e das assembléias estaduais, visivelmente mais progressistas, facilitarão este processo, que deve, no entanto, ser bem mais amplo. Deve perpassar toda a sociedade, das universidades às entidades de classe, sindicatos, agremiações de todo tipo e até o cidadão comum, solitário.

Na relação da sociedade com a mídia estamos na idade da pedra. A própria proteção do cidadão diante do que a mídia divulga é pífia, ineficiente, praticamente não existe. Nos jornais, resposta mais imediata é publicada nas sessões de cartas, editada e jogada lá num cantinho. Isso, por benemerência dos grandes jornais.

Quando o prejudicado entra na justiça pedindo direito de resposta, a demora é tanta que, quando sai, o assunto já está defasado. Outro dia, o Jornal Nacional apresentou um direito de resposta solicitado há mais de uma década. Com recurso sobre recurso, o caso foi parar no Supremo Tribunal Federal, que só agora deu ganho de causa à vítima.

Há que ter mecanismos mais ágeis, justos, que assegurem igualdade de tratamento para a resposta, em ralação ao que tenha sido veiculado. Isso, é claro, enquanto novas formas de gestão dos meios de comunicação não surgirem.

O tema não é exclusividade brasileira. Em verdade, está em discussão em todo o mundo, com maior intensidade na América Latina e no Leste Europeu. Lá, o monopólio estatal deu lugar a um perverso monopólio privado, ligado ao que de pior surgiu dos estilhaços da União Soviética.

É certo que o resultado do primeiro turno das eleições, aqui, demonstra que algo está mudando para melhor. É certo, também, que a Internet pode ser usada para o mal, para difusão de inverdades, fofocas e outras maldades, como tem ocorrido contra a própria candidata à Presidência, Dilma Rousseff.

A Internet, tida como a principal responsável pela eleição do presidente Barack Obama, nos Estados Unidos, no Brasil tem jogado, portanto, um papel bastante duvidoso. Além de inovar na forma de chegar ao eleitor, a equipe de Obama lançou suas propostas ao debate. E funcionou. Foi, em verdade, uma grande rede livre pró Obama.

Aqui, a campanha se baseou nos usos já desgastados da rede digital e para atacar, não para inovar ou propor. Um desperdício, pois base física e gente capacitada para mudar nós temos de sobra. Basta ver o que fazemos em outros setores que envolvem a tecnologia da informação.

A sorte, entretanto, é que a mesma Internet tem servido para desfazer maldades e para ensaiar um jeito novo de fazer campanha, com debates de idéias e sugestões de ações. De alguma forma, os resultados do primeiro turno sugerem isto.

Esse bom uso da Internet passa por colocá-la como instrumento de mobilização social, em torno dos mais diversos temas. A Lei da Ficha Limpa é o exemplo maior disso, mas há muitas iniciativas desse tipo em curso.

A mobilização em torno da reforma política, que esta lei deu promissor início, serve de exemplo para uma grande mobilização em torno do Sistema de Comunicação Social em nosso país. Até porque o debate não pode, de modo algum, ficar restrito aos setores diretamente envolvidos com o tema, como comunicadores, donos de empresas de comunicação e coisas assim.

O receptor da informação, no outro lado da linha, deve ter igual poder de voz, juntamente com os gestores do sistema. Só assim perseguiremos uma verdadeira democratização dos meios de comunicação social. Afinal, é o receptor da mensagem que será bem informado sobre alguma coisa ou usado como massa de manobra.

Não se trata, pois, de um embate entre o Estado (ou o governo de plantão) e os magnatas da grande mídia. A decisão unilateral sobre o que vai ao ar, o que preenche as telinhas e o que é impresso precisa acabar. A sociedade precisa participar desse processo.

Na Argentina, os donos dos grandes jornais deram um golpe de mestre. Diante de debate amplo sobre a democratização dos meios de comunicação, eles focaram a disputa em torno da produção de papel de imprensa. Fica parecendo simples contenda entre o governo e os donos de jornais. Aqui, os donos da grande mídia tentam vender essa mesma idéia à sociedade.

Isso vale, também, para a mídia estatal, que hoje passa por saudável revigoramento no Brasil. Os mecanismos de controle dos veículos estatais devem ter autonomia e forte participação da sociedade. No mundo, o exemplo maior é a BBC de Londres. Entra governo, sai governo na Grã-Bretanha, e a BBC segue sua rota.

Até agora, portanto, uma das vitórias da campanha eleitoral em curso é o fato de reabrir com força debate sobre a Comunicação Social no Brasil. Uma grande mobilização da sociedade dará o rumo das mudanças.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor