Coronavírus: é preciso mais governo e menos mercado

“É preciso assegurar com urgência a necessária proteção – um “colchão social” -para a população, especialmente a parcela de menor poder aquisitivo, bem como linhas de crédito, sem juros, para que os empreendedores possam manter seus negócios.”

Se queres conhecer alguém, veja-o em atuação. Só assim você é capaz de identificar quem, de fato, está à altura da tarefa que lhe foi designada ou usurpada, como é o caso da atual presidência da república.

A força desse princípio do materialismo histórico, às vezes mecanicamente repetido sem qualquer consequência prática e convicção por boa parte dos que dele se socorrem, acaba de ser cabalmente provada na crise do coronavírus que assola o mundo e o Brasil.

Bastou alguns dias de tensão para que um popular – talvez, outrora, até simpático ao presidente – sapecasse, na lata, ao vivo, um sonoro “Bolsonaro, seu governo acabou”.

Era a síntese da desilusão não somente dele, mas de milhões de brasileiros que nele votaram ou que não votaram, mas que igualmente torcem para que o Brasil reocupe o espaço de importância e respeito que até recentemente gozava mundo afora.

Aquele cidadão falou por muitos. Falou por todos aqueles que estão cansados de presepadas, arrogâncias teatrais cuidadosamente ensaiadas e provocações infantis, que vão da fritura explícita contra aliados e insultos grosseiros contra o congresso, o judiciário, os árabes, os irmãos da América do Sul, os médicos cubanos e agora contra a China, nosso maior parceiro comercial e aliado estratégico no combate dessa pandemia.

Mas é sabido, há tempos, que Bolsonaro não governa. Faz politicagem no pior conceito da palavra, enquanto procura levar o país ao impasse institucional para viabilizar seu objeto de desejo: a supressão da frágil democracia e a imposição de uma ditadura formal.

Deixou a economia nas mãos do banqueiro Paulo Guedes, um aprendiz de feiticeiro em matéria de economia – cujas teses não aguentaram uma semana de crise sanitária. Sua estupidez é da ordem de propor cortes de salários e suspensão de contratos de trabalho num momento de aguda crise sanitária e econômica. A proposta foi revogada diante da escalada de protestos nacionais, desmoralizando por completo o famigerado mercado, evidenciando que a sociedade precisa de mais governo e menos mercado.

A segurança foi dada ao ex juiz Sérgio Moro, recompensado com o emprego de ministro por ter eliminado Lula da disputa eleitoral, então o principal concorrente ao posto de presidente. Está mudo diante das “rachadinhas”, da ofensiva de milicianos e das agressões reiterados que seu chefe faz contra a democracia e a constituição federal. É humilhado publicamente por Bolsonaro e finge que não tomou conhecimento.

E a produção rural, único setor superavitário da balança comercial, foi entregue aos expoentes do empresariado do agronegócio. Setor estratégico, em todos os sentidos, não passa um dia sem ter que apagar incêndios provocados pelo presidente. Sem o setor primário a balança comercial brasileira é profundamente deficitária.

Isso é o governo Bolsonaro, daí o compreensivo nervosismo da sociedade com as trapalhadas que ele pratica quase que diariamente – às vezes, mais de uma por dia – num momento de aguda crise como a que o país está vivendo, onde se precisa de um governo eficiente e compromissado com o povo, especialmente a parcela mais necessitada.

E temos que nos preparar para algo pouco tratado até então e de potencial explosivo: a eventual escassez de alimentos, não apenas se a epidemia alcançar o campo, mas pelo eventual colapso dos sistemas de abastecimento: transporte, feiras e outros mecanismos.

A situação é crítica e preocupante, como demonstra a escalada da pandemia, segundo os dados da Johns Hopkins University (Tabela 1, Anexa) que mostra a evolução de infecção e mortes, entre os dias 16 e 29 de março, indicando que a taxa de mortalidade aumenta à medida que aumenta o quantitativo de infectados, sinalizando o colapso do sistema e o próprio estresse dos profissionais de saúde, muito dos quais já infectados ou vitimados.

Nesse período – eliminando a China – o aumento do número de infectados foi de 587% e o de mortos foi de 753%, fazendo a taxa de letalidade saltar de 3,93 para 4,89%. Sabendo que esses dados estão sub-notificados, a situação é de fato crítica e alarmante. E um destaque especial para o Brasil, onde a taxa de infectados aumentou 1.768% e a taxa de mortos atingiu estratosféricos 14 mil porcento!

Por isso é preciso assegurar com urgência a necessária proteção – um “colchão social” -para a população, especialmente a parcela de menor poder aquisitivo, bem como linhas de crédito, sem juros, para que os empreendedores possam manter seus negócios.

A humanidade não se põe problema que não possa resolver e nós vamos resolver mais esse desafio. Mas precisamos de união nacional e um governo que pense no povo, não nos banqueiros.

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