Crítica à autocrítica dos tolos

Autocrítica sempre. Permanentemente. Entretanto, é necessário muito cuidado a fim de não se banalizar esse conceito tão caro à luta da classe operária.

De tempos em tempos vem à tona, no oceano de lágrimas que se transformou a política nacional, o clamor para que a esquerda brasileira faça uma pretensa autocrítica.

São, em sua maioria, os mesmos atores que patrocinaram (ou contribuíram com) o golpe de 2016 que hoje se posam de Pôncio Pilatos, transferindo a responsabilidade pela eleição de uma família de milicianos a setores da esquerda brasileira que de quase tudo fizeram para alertar ao povo brasileiro sobre a escalada do fascismo no país.

Mas entre a esquerda há também os que adoram o autoflagelo. Ao invés de apontarem para o futuro, rumo a um projeto nacional de desenvolvimento capaz de aglutinar amplos setores da sociedade, preferem focar no passado em busca de um culpado no seio do próprio campo popular.

Autocrítica sempre. Permanentemente. Entretanto, é necessário muito cuidado a fim de não se banalizar esse conceito tão caro à luta da classe operária.

Em 26 de junho de 1928, o jornal soviético Pravda publicava importante artigo, intitulado “Contra a vulgarização da autocrítica”, de autoria de Josef Stalin, que tratava sobre o assunto.

Já no início do texto, Stalin advertia que “autocrítica não pode ser considerada algo efêmero e de curta duração”. Pelo contrário, “a autocrítica é um método particular, o método bolchevique de educação dos quadros do Partido e de toda a classe operária, no espírito do desenvolvimento revolucionário”, asseverava.

Especificamente esses dois trechos do artigo são emblemáticos para nos lembrar que “autocrítica” não é uma simples palavra de ordem. Tampouco pode ser encarado como um discurso vazio de sentido meramente protocolar para atender a esta ou aquela cobrança de ocasião.

Partidos políticos progressistas não fazem (ou não devem fazer) autocrítica apenas em um determinado momento, sobretudo como o atual período em que vivemos de intenso bombardeio inimigo. Pelo contrário, faz-se (ou se deve fazer) permanentemente, ajustando-se os ponteiros da orientação política em curso.

A autocrítica que sobretudo o PT está sendo cobrado enfaticamente pela direita brasileira a fazer não é autocrítica. É um mea culpa, sobretudo pelos seus acertos. No máximo um balanço de gestão que critique o chamado modus operandis de sua atuação. Um tipo de delação premiada com a promessa de se ver livre (ou atenuado) do bombardeio midiático.

O que a direita e a grande mídia monopolista querem não é autocrítica, pois esse é, reiterando as próprias palavras do insuspeito Stálin, “um método particular, o método bolchevique de educação dos quadros do Partido e de toda a classe operária”.

O próprio Marx já falava da autocrítica como um método de fortalecimento da revolução proletária, jamais para se fazer firulas para a plateia ou jogar água no moinho dos inimigos de classe.

Também Lênin alertava em seu texto, “Um passo à frente, dois passos atrás” que “Eles (os adversários dos marxistas) observam com ironia e malícia nossas discussões; procurarão, naturalmente, entrever para seus fins algumas passagens isoladas do meu texto, consagrado aos defeitos e deficiências do nosso Partido”.

Ainda nesse texto, Lênin fazia a seguinte observação: “Os sociais-democratas russos já estão bastante temperados no combate para se deixar perturbar por semelhantes alfinetadas, têm que dar continuidade ao seu trabalho de autocrítica colocando intransigentemente a descoberto suas próprias deficiências, que de um modo necessário e inevitável serão corrigidas pelo desenvolvimento do movimento operário”.

Ou seja, a autocrítica não deveria (e não deve) ser feita em resposta às tais “alfinetadas”. Não se faz autocrítica para responder a esta ou aquela provocação da direita. Isso não é autocrítica.

Por acaso foi um erro a política de alianças efetuado nos governos Lula e Dilma? A depender da direita brasileira, o PT não teria se aliado nem com o PCdoB, dado ao fato de ser um partido, digamos, stalinista. Muito menos com José Alencar, por ser um burguês. Ou seja, teria que ter marchado sozinho, isolado, tal como um PSTU.

Essa “alfinetada” é para aqueles que, no campo da esquerda, são leões na cobrança de autocrítica seletiva contra alguns partidos, mas cordeirinhos na mesma exigência em suas agremiações ou consigo próprio. Não raramente se pode ver nas redes sociais quem, descumprindo decisão partidária, votou em Ciro Gomes, exigindo “auto”crítica de Haddad.

É atribuída à Cristovam Buarque (que inclusive é um dos que cobram enfaticamente a tal autocritica da esquerda) um posicionamento em defesa da Amazônia brasileira, dizendo ser favorável à sua internacionalização, desde que também fossem internacionalizados o capital financeiro, os poços de petróleo, os grandes museus do mundo ou os arsenais nucleares.

Da mesma forma, os pretensos moralistas de plantão, devem ter o mesmo ímpeto na cobrança da “autocrítica” não só da esquerda, mas de todos os demais setores da nossa sociedade, a começar pela FIESP, pela Igreja, pela Globo, pelo chamado Centro, etc. Enquanto isso não ocorrer, parece demasiada tolice exigi-la apenas de um determinado setor.

Mas não é autocrítica o que querem. A direita quer uma confissão de culpa e parte da esquerda quer chorar o leite derramado. Para a direita respondemos com a formação de uma Frente Ampla comprometida com um Projeto Nacional de Desenvolvimento.

Já para setores da esquerda chorosa, para os que gostam do autoflagelo, respondemos com um trecho do poema de Gonçalves Dias em sua Canção do Tamoio: “Não chores, meu filho; Não chores, que a vida; É luta renhida: Viver é lutar. A vida é combate; Que os fracos abate; Que os fortes, os bravos; Só pode exaltar”.

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