Cultura brasileira desfila em universidade de Zhejiang, na China
Evento com literatura e música brasileira reforça laço de amizade e troca de experiência entre os dois países, cuja distância é apenas geográfica
Publicado 30/04/2025 11:12 | Editado 30/04/2025 11:14

O poder da arte vai além do coração. É um instrumento primoroso para a promoção do diálogo intercultural, a cooperação acadêmica e o fortalecimento da amizade. Isso estava bem nítido na jornada “Uma Tarde Brasileira: Explorando a Música e a Cultura do Brasil”, ocorrida no dia 24 de abril de 2025, na Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang (Zisu), na bela cidade de Hangzhou.
O evento foi organizado pela Escola de Artes, em cooperação com a Divisão de Intercâmbio e Cooperação Internacional da Zisu, e com apoio do Consulado-Geral do Brasil em Xangai.
A jornada começou com um encontro institucional entre os dirigentes da Zisu e a Delegação do Consulado Geral do Brasil em Xangai. Em seu discurso de recepção, a vice-reitora Chai Gaixing destacou o seminário acadêmico realizado em novembro de 2024 para celebrar os 50 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a China e o avanço da cooperação acadêmica entre a Zisu e instituições brasileiras como a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade de São Paulo (USP).
Ela adiantou, ainda, que em 2025 a Zisu continuará seu apoio ao fortalecimento de três plataformas relacionadas ao Brasil — nomeadamente a “Comunidade Internacional de Integração de Ensino e Indústria de Comércio Eletrônico da Rota da Seda”, que visa o cultivo de talentos em comércio eletrônico transfronteiriço; a de intercâmbio acadêmico, organização de pesquisas e cooperação internacional de alto nível, liderada pelo Centro de Estudos Brasileiros e o Instituto de Estudos Latino-Americanos da Zisu; e a Aliança de Educação Artística China-América Latina, cujo objetivo maior é aproveitar a força das artes para atrair a juventude e fortalecer o intercâmbio artístico-acadêmico internacional.
Paulo Henrique de Sousa Cavalcante, chefe do setor de Diplomacia Pública do Consulado-Geral do Brasil em Xangai, começou sua fala agradecendo o convite da Zisu e dizendo que o consulado estava de portas abertas para apoiar o intercâmbio cultural com o Brasil impulsionado pela Zisu.
O diplomata destacou ser “extremamente importante que conheçamos os nossos parceiros” e que o aprofundamento desse conhecimento só pode ser feito por meio da intensificação do intercâmbio cultural e acadêmico entre as duas sociedades.

Ele lembrou ainda que, em novembro de 2024, por ocasião da visita do presidente Xi Jinping ao Brasil, os dois países escolheram 2026 para ser o “Ano de Intercâmbio Cultural entre o Brasil e China”, uma ótima oportunidade para que a Zisu e o consulado promovam juntos uma série de atividades acadêmicas e culturais. Por sua vez, a vice-cônsul, Marília Christina de Meneses, lembrou que atividades culturais como essa promovida pela Zisu são oportunidades para que os chineses conheçam melhor o Brasil.
No início da tarde, na Biblioteca Central, foi a vez de uma atividade de intercâmbio cultural entre a delegação do consulado e os estudantes e professores do Curso de Português da Zisu.
Além de uma exposição de autores brasileiros traduzidos para a língua chinesa, os participantes foram agraciados com uma palestra ministrada pelo diplomata Paulo Henrique sobre o conto “A terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa. A profundidade das reflexões apresentadas pelo palestrante e a interação com os estudantes deixou a todos fascinados.
Alma cultural brasileira
Por fim, a cereja do bolo. Isto é, uma viagem pela alma cultural do Brasil através da música. Coordenada por Li Min, diretora da Escola de Artes, a atividade começou com uma mensagem do reitor da UFRN, José Daniel Diniz Melo.
Ele lembrou que a colaboração entre a UFRN e a Zisu começou em 2022 e já rendeu muitos frutos como a realização de um concerto online reunindo professores de música das duas universidades, assim como um curso de mandarim online. Aliás, um dos alunos desse curso, Denzel Rodrigues Silva, está atualmente na ZISU.
O reitor José Daniel lembrou um famoso verso de Wang Bo (650-676), poeta da Dinastia Tang, que diz que a verdadeira amizade transcende a distância física, acrescentando ainda um provérbio brasileiro que diz: “Quem tem amigos nunca está sozinho”. Segundo ele, “em um mundo onde alguns tentam construir muros, sempre escolhemos construir pontes”.

Na continuidade, Nan Qi e Durval Cesetti, ambos da UFRN e que estão atuando como professores-visitantes na Zisu, presentearam o público com as palestras-recitais “Música Brasileira: Uma Jornada Intercultural do Nordeste para o Mundo” e “Composições de cinco compositores brasileiros contemporâneos”, que teve também a participação do grupo Capoeira Mandinga Hangzhou Dance Group que, curiosamente, conta com muitos praticantes russos e chineses.
A jornada contou ainda com a participação especial do compositor Alexandre Lunsqui, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e que atualmente ministra aulas na Universidade de Artes de Nanjing.
Em sua apresentação, ele comentou sobre sua série “Histos”, um conjunto de composições que dialogam musicalmente com diversos compositores admirados por ele – como, por exemplo, Heitor Villa-Lobos – sendo que cinco dessas composições tiveram sua estreia mundial neste evento.
Em resumo, um dia de interação acadêmica e diplomática de alto-nível, regado por palestras, música, dança, criatividade, confraternização e amizade. E que, principalmente, sinaliza que o potencial das relações sino-brasileiros é praticamente infinito.