“Cúpula das Américas” : uma farsa organizada pelos EUA

A perspectiva de Biden sobre essa cúpula é a de reorganizar seu controle sobre a OEA, fortalecendo sua política belicosa e que exige a submissão dos Estados à vontade dos EUA

Foto: Gage Skidmore/Wikimedia Commons

Considerando que “cúpula” significa o conjunto constituído pelos dirigentes de uma instituição, partido político ou organização, é necessário vermos o que, de fato, teremos nessa semana, com a tão falada “Cúpula das Américas”. Essa “cúpula”, iniciada em dezembro de 1994, é uma reunião de líderes da Organização dos Estados Americanos (OEA), criada em 1948 e que nas décadas seguintes tornou-se, na prática, uma espécie de extensão do Departamento de Estado dos EUA, a tal ponto que em 4 de fevereiro de 1962, o líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, tê-la chamado de “ministério das colônias” dos EUA, dias depois que seu país ter sido expulso da organização. Naquela ocasião, dos 21 membros, 14 votaram a favor e 7 se abstiveram (Brasil, Argentina, Chile, Equador, Bolívia e México).

Nessa “cúpula” Biden exerceu as funções de “ministro das colônias”, vetando a participação da Venezuela, Cuba e Nicarágua, carimbadas pelos EUA como “não democracias”. México, Bolívia, Honduras e Guatemala decidiram não comparecer. E quinze pequenos país do Caribe, que tem estreitas relações com a Venezuela, anunciaram que não irão comparecer. Teremos, por conseguinte, o boicote de 19 países e 3 exclusões, somando nada menos que 22 países dos 35 que pertencem a OEA.

Obviamente que a perspectiva de Biden sobre essa cúpula é a de reorganizar seu controle sobre a OEA, fortalecendo sua política belicosa e que exige a submissão dos Estados à vontade dos EUA. Biden veio para reafirmar a noção de imperialismo, que andava meio esquecida. É verdade que esse movimento é feito muito em função da debilidade da economia dos EUA, que depende fundamentalmente do poderio imperial desse país sobre o mundo, e essa debilidade tornou a política externa de Washington, sob Biden, agressiva e punitiva.

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Tal qual Obama, que atacou vários países e ensanguentou o mundo, enquanto seduzia parte da esquerda com sua política moderada dentro dos EUA, e tinha uma certa simpatia por demandas sociais, e Biden, que foi seu vice, recuperou o belicismo, encerrando a fase errática de Trump, e resolveu “peitar” diretamente a Rússia e China. Na Rússia faz guerra por procuração, via Ucrânia, e faz guerra comercial com a China.

Biden tenta recompor o unilateralismo, iniciado depois da derrocada da URSS, ameaçado principalmente pela expansão comercial chinesa, que hoje se espalha por todos os continentes. Uma expansão silenciosa e que assusta os EUA porque atinge o que é mais caro aos governos estadunidenses: o controle econômico.

No caso das Américas, a onda de golpes, apoiadas pelos EUA e pela OEA, começou exatamente durante o governo Obama, com a deposição do presidente de Honduras Manuel Zelaya, em 2009. Depois vieram os do Paraguai (2012), BraZil (2016) e Bolívia (2019); as intromissões nos assuntos internos da Venezuela e Equador, com os EUA sustentando forças políticas reacionárias; o recrudescimento das relações com Cuba e o isolamento da Nicarágua. Os EUA trabalharam descaradamente para formar uma espécie de “cordão sanitário”, com a Argentina de Macri, o BraZil de Temer (depois Bolsonaro) e os conservadores do Chile, Peru e Uruguai, além de reforçar o controle sobre o governo reacionário colombiano.

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A eleição de Lopez Obrador, em 2018, iniciando um amplo movimento de renovação política do México pela via progressista, foi uma derrota fragorosa para os EUA, posto que o presidente mexicano passou a exercer o papel de resistência contra a influência imperial dos EUA nas Américas.

A tentativa de enquadramento dos países americanos, no caso da guerra na Ucrânia, feita por Biden, foi um completo fiasco e agora o presidente estadunidense tenta recompor esse controle e, diante dessa postura dos 22 países que não irão para essa “cúpula”, é muito provável que Biden tente se ancorar em Bolsonaro, para mostrar que esse patético evento foi um sucesso. Um outro gigante das Américas, a Argentina, irá e se defrontará com a dubiedade de buscar ser o “porta-voz” dos excluídos e, com sua presença, ser um suporte para Biden.

Notaram que pouco falei da OEA? Bem, nos últimos anos a OEA abraçou definitivamente a condição de “ministério das colônias” e atualmente carece de credibilidade política e, nessa condição, ao falarmos em OEA, estamos falando sobre as ações do Departamento de Estado dos EUA.

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