De tanto ódio no mundo, escrevo com amor

Foi na última música do grupo Inquerito na rua do Mercado em Aracajú. DJ Branco da Bahia jogou sal grosso por todo o palco enquanto recitava um canto, reza, oração… "Dentro do eixo, fora do eixo. Exú-Exú." 

O clima estava tenso. Hot Black, líder do grupo Mensagenegra e apresentador do programa de TV Periferia recebeu uma ligação no celular sinistra:
– Ô veio! Us caras vão te detonar hoje aí. To falando a você, os caras vão te detonar hoje aí. Fique ligeiro doido. Os caras vão te detonar hoje aí!

Queria escrever sobre os sucessos, e foram vários…
Preferia estar falando dos eventos que lotaram, das andanças e mãos que apertei. Dos livros que tem sido distribuídos de mão em mãos…

Do próprio Inquerito que estava alí a menos de um mês e na ocasião a chuva que não deixou o show rolar. Foram todos para um abrigo onde a música Dia dos Pais foi cantada no gogó pra rapa que esperou pacientemente por este momento. Hoje chego naquele lugar junto com DJ Rodrigo, Pop Black e Renan e o grupo Inquerito descobre que a música cantada a capela: "Eu trouxe seu presente pai é um buquê de flores" prêmio de consolação para quem compareceu em baixo d'água. Durante os dias de sol forte é local de venda de flores na parte de fora do Mercado Central. Todos se arrepiaram em saber da conhecidência.

Pensei que utilizaria este espaço para falar da cidade diferente que estive a Cidade Hip-Hop (clique para conferir). Mal cheguei e peguei um debate pela metade. Onde um cabra com sotaque nordestino projetava slaides com fotos e cada rosto uma história: Patativa do Assaré, Jaqueson do pandeiro, Bezerra da Silva Nelson Triunfo e também Nino, Paulo, Zé, Mano, James, Chris… (Brown). Falava de sua pesquisa com o rap e repente que desenvolveu na Universidade Federal da Paraíba, extremo oriental do Brasil, ponto da América mais próximo da África. Sem saber de minha presença, Bodó nome do cabra-acadêmico-embolador apresentando seu trabalho soltou:

– Fui questionado pelos professores, sobre a distância que teria de ter da minha pesquisa, deveria ser isento. E a resposta veio de Toni C. ao enfrentar Barbará Gancia dá a resposta sobre isenção: (clique para ler).

Tinha certeza que o título deste artigo seria: "Nois é doido mas nois é gente!" Pois era isto que os parceiros gritavam no final do debate. Foi quando Bodó soube que que eu estava na platéia e junto de seus alunos das oficinas de percusão, internos numa instituição que trata de deficiêntes mentais fomos todos tirar fotos e eles gritavam essas coisas emocionados: "Nois é 12 mas nois é gente!", "Nois é DM mas somo humano…"

Imagina você ir num debate monstro durante o Antidoto no Itaú Cultural, com Rômulo Costa da Furacão 2.000 e Edy Rock dos Racionais discutindo sobre o preconceito na música funk e rap. Mal entrei no hall do luxuoso prédio na Paulista e avistei uma foto dessa minha cara feia e no canto a frase: "Devemos ser protagonista de nossa própria história (Toni C.)"

Poderia falar do lançamento da Literatura do Oprimido que aconteceu na cidade de Marília onde uma das atrações culturais foi a viola caipira junto com o frestyle do MC Aranha (clique para ler). Segundo um dos violeros a música caipira além de oprimida, é a cultura dos oprimidos, nada mais adequado para a ocasião. Isto é o hip-hop verde amarelo que vai sendo reinventado a cada dia. Contaria também as piadas do Paulinho loco e as reflexões do André Gomes.

Pensei que falaria da atividade que DJ Saddam e o pessoal do Opalão 76 organizaram no Rio de Janeiro, quando conheci o MC Marechal. Um só caminho… Da mostra de Cinema Marginal que passou da zona leste a norte com auxílio do Rafael e o Projeto Povo Brasileiro do Geison e o Cinematheus junto com o cineasta Eugênio Puppo (veja mais).

Ou então do debate na Universidade Federal de Medicina de São Paulo onde estive com parceiros como Arnaldo Tifú, Todinho, Daniel Orpas, Domênica, Beto Teoria, Aliado G debatendo sobre desigualdade social no curso mais elitizado da faculdade mais concorrida do pais. (saiba mais)

Falaria também da atividade em Osasco organizado pelo pessoal do OBP. Da rapaziada que colou na escola da C. Costa e avançaram com gosto nos livros.

Não poderia deixar de mencionar do encontro dos alunos de letras onde Alberto, Thiago Vaz, Hot Black, Beto Teoria, Marília Gessa e eu falamos por duas horas para mais de 200 alunos e professores sobre preconceito linguistico e a literatura do oprimido.

Além da atividade que fizemos no Club 13 de maio em Piracicaba organizada pelo Mamel reativando aquele tradicional espaço da cultura negra da cidade. Ou da atividade em Santos promovido pela Ornela, Lunna, Mirela Teoria, Joice junto ao portal Mulheres no Hip-Hop Mulher. Também do Fórum de Mulheres no Hip-hop que aconteceu na Aldeia de Carapicuíba.

Queria dizer sobre a notícia que acabo de receber após restabelecer contato com Valter de Campo Bom no Rio Grande do Sul um dos 60 autores da Literatura do Oprimido. Ele fala de sua ansiedade para ler o Hip-Hop a Lápis 2, não é pra menos o mano está se formando em pedagogia e segue a linha freireana.

Poderia falar por horas da tarde que passei no Instituto Paulo Freire. Instigado pela pesquisadora canadense Natasha Prevost, junto com o Tubarão Du Lixo conhecemos Angela Antunes que dirige a instituição e como resultado podemos ter uma pesquisa que transforme a literatura do oprimido em curso na UniFreire.

Queria estar comemorando o Prêmio Tuxaua que acabo de receber pelo seu simbolismo que vem do tupi e se refere a um indivíduo influente no lugar em que mora e na rede do Cultura Viva, um articulador e mobilizador do Programa. (fique por dentro)

Poderia estar falando de tudo isso. Mas parece que usar a literatura como arma é nossa sina. É como se fossemos fabricados para guerrear.

Num sei. Talvez o cara estivesse ali na platéia curtindo. Talvez fosse só um trote, uma brincadeira de mal gosto. Marcão tenso, JB na correria e o branco com sal grosso. "Dentro do eixo Exú…

…Mostra a cara Mister M."

"Mensagem:
Mundo Melhor, menos maldade.
Malote move montanha, mas mata milhares
Morou!? (…)" (Inquerito)

  

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