Desafios do uso da internet na educação
A tecnologia não deve reforçar as atuais práticas de ensino e sim questionar o papel do educador, a forma de educar e até o conteúdo ensinado.
Publicado 05/04/2023 08:00 | Editado 05/04/2023 08:10
Como nenhum outro meio de comunicação anterior, a internet nos coloca interativamente em contato, superando barreiras de idade, sexo, cultura, preconceitos e, principalmente, distância geográfica. Aqui, cada um pode não apenas ler o que quiser quando tiver vontade, mas pode escrever, participar… Junto com novas soluções e perspectivas vêm também novas exigências sobre antigas habilidades.
Com as rápidas transformações nos meios e nos modos de produção, a natureza do trabalho e a relação econômica entre as pessoas e as nações sofrerão enormes transformações e, neste quadro, a educação não apenas tem que se adaptar às novas necessidades como, principalmente, tem que assumir um papel de ponta nesse processo.
Para que estas tecnologias sejam significativas, não basta que os estudantes simplesmente acessem as informações: eles precisam ter a habilidade e o desejo de utilizá-las, saber relacioná-las, sintetizá-las, analisá-las e avaliá-las – quando os alunos se esforçam para ir além de respostas simples, quando desafiam ideias e conclusões, quando procuram unir eventos não relacionados dentro de um entendimento coerente do mundo. Sua aplicação mais importante está fora da sala de aula – e é para ai que o ensino deve voltar seu esforço. A habilidade de pensar criticamente pouco valor tem se não for exercitada no dia a dia das situações da vida real.
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Claro que isto não ocorre espontaneamente, e ai entra o papel do professor, encorajando os alunos a fazer conexões com eventos externos ao mundo da sala de aula, descobrindo a ligação entre situações vividas e os conteúdos curriculares. Existem muitas táticas que o professor pode utilizar e que podem ser enormemente motivadoras, estimulando processos de transferência – e essa experiência o professor já tem, basta não se considerar um “ignorante em informática” e buscar aplicar na nova midia sua base de conhecimentos, estando aberto à pesquisa e ao autoaprendizado continuos.
Não adianta substituir o quadro negro pelo powerpoint e também não faz sentido um curso de excel que termine em si mesmo. A tecnologia não deve reforçar as atuais práticas de ensino e sim questionar o papel do educador, a forma de educar e até o conteúdo ensinado. Aulas de word só devem existir se o objeto a ser trabalhado for, por exemplo, a redação de textos, poesia, contos. Ninguém fez curso de lápis para poder escrever. Robinson Crusoé por exemplo, sem artefatos na ilha onde naufragou, foi capaz de pensar e criar soluções para resolver seus problemas. Tecnologia não está no instrumento e sim na cabeça da pessoa.
A era da informática traz para o professor grandes desafios. Um deles é aguçar o aluno para o uso do intelecto perante as facilidades trazidas pela internet. Outro é utilizar novos métodos de ensino como a multi e a transdisciplinaridade. O professor quando opta por isso, vai contrariar o padrão do currículo escolar e os pais que acham que os filhos “não estão sendo preparados para o vestibular” (que muitos priorizam em detrimento de uma formação mais ampla e completa). Os professores têm que estar preparados para mudar a escola, e as tecnologias digitais podem colaborar nisso – mas é fundamental isso ser parte do plano político pedagógico.
Esse uso do computador exige um professor preparado, dinâmico e investigativo, pois as perguntas e situações que surgem na classe fogem do controle preestabelecido do currículo. Esta é a parte mais difícil desta tecnologia. E esse é o papel insubstituível do professor: elaborar estratégias que deem significado a essa enorme e fantástica porta que se abre para o universo do conhecimento da humanidade.
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Porém só é possível haver uma política consistente quando há uma direção e uma coordenação engajadas no mesmo projeto, senão o professor terá que remar muito contra a maré. E a escola não pode estar sozinha nessa luta, é preciso que as demais forças sociais sejam partícipes ativas.
Sem isso, a internet, equipamentos e software podem apenas ser modismos adestradores de um mercado consumidor, perdendo-se a oportunidade de promover uma efetiva mudança na área da educação.