Dilema americano: sair ou não sair do Iraque?

Vem crescendo nos Estados Unidos um dilema quase que hamletiano: sair ou não do Iraque? Se ficar a situação vai piorar a cada dia, com mais e mais mortes de soldados, sair também abriria um imenso caos, uma intensificação da guerra civil, sem

A dimensão do problema


 


 


O Iraque que conhecemos hoje, nada tem a ver com o que já foi no passado. Não há aqui nenhum saudosismo com a era Saddam Hussein, mas não há um pingo de apoio de nossa parte a um governo fantoche como esse que lá foi instalado pelos americanos. Tal governo, encabeçado por um xiita, Nour El Maliki, nada governa. Não resistiria um dia sequer no “governo” se as tropas americanas deixassem o território iraquiano.


 


 


O que se vive hoje no Iraque é um processo que se aproxima de uma guerra civil. As forças de resistência, que a mídia insiste em associá-las ao grupo Al Qaeda, e chamá-los sem distinção de “terroristas”, mesmo não possuindo um centro único, um comando único unificado nacionalmente, vai encestando a cada dia, pesadas baixas no inimigo invasor. O sentimento na população vem crescendo a cada dia de repulsa aos Estados Unidos, Não só no Iraque, mas como em todo o Oriente Médio e boa parte da Ásia e do mundo.


 



Os serviços básicos para a população, como água tratada e esgoto, energia elétrica, estão cada vez mais precários. Mesmo em Bagdá, apenas na Zona Verde, a mais protegida e militarizada da capital iraquiana, as coisas funcionam, ainda assim em parte do dia. Até nessa área, onde fica o comando unificado de ocupação, liderado pelo general Davi Petraeus, os principais prédios ministeriais e a região das embaixadas. Não passa um dia sequer no Iraque sem que, mesmo nessa região, atentados sejam cometidos e baixas sejam registradas nas tropas de ocupação.


 



O petróleo iraquiano, a maior riqueza do país e dos árabes em geral, vem sendo dilapidado e encontra-se na iminência de ser completamente privatizado, entregue para as companhias petrolíferas estadunidenses. O desemprego, por fim, encontra-se na casa dos quase 40%, apenas comparado com a precariedade que vive hoje o povo palestino. Como será possível seguir vivendo num país nessa situação?


 



O desgaste de Bush


 



O sistema político dos Estados Unidos é o presidencialista, tal qual o do Brasil e da esmagadora maioria dos países latino-americanos. É um sistema que, mesmo com imenso desgaste, para tirar um presidente, só com a sua renúncia, algum golpe de estado ou o seu impedimento no poder por votação complexa e demorada pelo parlamento. Nos sistemas parlamentaristas, chegar a um desgaste popular tal qual bush esta submetido, faz com que um gabinete ministerial de um Primeiro Ministro caia imediatamente. Vota-se uma moção de desconfiança no parlamento, que sofre forte pressão popular e da opinião pública, dos tais formadores de opinião.


 



No caso dos Estados Unidos isso não ocorre. Acaba de ser divulgado nesta terça-feira, dia 10 de julho, uma ampla pesquisa de opinião realizada pelo conceituado Instituto Gallup de Opinião, encomendada pelo jornal diário US Today. Os resultados foram impressionantes. 70% de toda a população adulta americana é favorável a retirada praticamente total das tropas americanas até pelo menos abril de 2008.


 



Mas a pesquisa mediu outro sentimento, também com índices elevados. Exatos 62% de todos os americanos estão firmemente convencidos de que o governo dos Estados Unidos, sob a presidência de George Walker Bush, comete um grave erro, um erro estratégico de ter invadido o Iraque e lá estacionado mais de 150 mil soldados. O custo da guerra, em termos de quase quatro mil soldados americanos, o custo da guerra em termos econômicos, que ultrapassa a um trilhão de dólares (há quem afirme que já ultrapassou a dois trilhões de dólares!), vai impondo um imenso e irreversível desgaste ao chefe do executivo, do Partido Republicano.


 



O parlamento, tanto Senado como a Câmara, agora são controlados pelos Democratas. Com maioria apertada no senado, mas bem folgada na Câmara, dos democratas vêm dando a cada dia mais trabalho para Bush. Há pouco mais de três meses, chegou a aprovar uma medida que fixa uma data para a retirada das tropas, mas Bush vetou e não há maioria para derrubar o seu veto. Agora, estamos em vésperas da votação do orçamento de 2008 e prepara-se uma emenda que condicione mais verbas para a guerra e para os soldados e o exército, com a fixação de um calendário de retirada gradual das tropas americanas. Isso pode ainda não dar certo, mas imporá ainda mais desgaste ao presidente.


 



A mesa pesquisa traz ainda mais notícias ruins para George Bush. A sua popularidade foi para o nível mais baixo desde que assumiu a presidência pela primeira vez em janeiro de 2001. Atingiu hoje a marca de apenas 29% de apoio (entre ótimo e bom, entre os que nele confiam). Para efeitos de comparação, o nosso presidente Lula possui hoje, em pesquisa de aferição de popularidade, entre ótimo e bom, 64% de popularidade, quase o triplo que Bush. É claro que ele, bush, não pode mais ser candidato em 2008, pois já foi reeleito uma vez. Mas pretende apoiar um candidato de seu partido, o Republicano. Mas, a seguir as coisas com esse imenso desgaste, mesmo os Republicanos vão querer se afastar de Bush e até mesmo votar questões no parlamento na linha que vem sendo proposta pelos Democratas, talvez até fixando o calendário de retirada das tropas.


 



Os curdos ao norte


 



Não bastasse esse caldeirão imenso de problemas, cada vez mais tensos. Não bastasse a tentativa de divisão do país em três, com áreas xiitas, sunitas e curdas, vem agora a notícia de que a Turquia vem deslocando tropas para a fronteira norte do Iraque, onde vivem a maioria dos curdos iraquianos, a região conhecida como Curdistão. A imprensa chegou a noticiar a presença de até 150 mil soldados turcos. Nunca é bom esquecer os conflitos internos que a Turquia vem vivendo (objeto de comentários desta coluna tempos atrás), sobre as eleições para presidente do país de um muçulmano e o risco da islamização do país, contrariando determinações expressas da carta constitucional e que vem irritando o exército do país.


 


Tudo isso, somado ao conflito cada vez mais agudo entre as forças leais aos americanos e a seu governo títere e fantoche e os grupos de resistência, que, a cada dia, vem ganhando mais e mais apoio da população e dos partidos comprometidos com a libertação nacional do Iraque. De nossa parte, todo apoio à resistência iraquiana.

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