Do Realengo à Líbia, o terror de Columbine

Episódios como a tragédia de Realengo, e outros, de grande porte, como a guerra decretada por Obama em sua passagem pelo Brasil, colocam novamente o Rio de Janeiro, de onde partiu a ordem para os ataques contra o povo líbio, e o próprio País, no centro das atenções mundiais. E, entre os brasileiros, renovam a premente necessidade de regulação do maior foco irradiador da violência, da manipulação e da dissimulação instituído, aqui ou nos EUA, no império da mídia.

Este império é o canal comunicante de reprodução da barbárie contemporânea, instruindo de modo eletrônico, diariamente, novos padrões de banditismo que irão alavancar seus noticiários no dia seguinte.

É necessário destroná-lo no âmago da tarefa que consiste na definitiva superação da ditadura militar e do neoliberalismo — irmãos siameses que, juntos, consumiram preciosas três décadas de marcante atraso e obscurantismo.

Pois, longe de representar uma mera (embora complexa) questão de desarmamento, a violência banalizada é uma questão que, além de sua vertente estrutural, foi se tornando cultural e ganhou densidade nacional a partir dos padrões tradicionais de comportamento das violentas elites brasileiras, consagrado na atualidade pela minoria de proprietários da comunicação.

Nascidas da violência

Também distante de ser uma questão técnica, jurídica ou legislativa, a chamada regulação da mídia é uma relevante necessidade histórica do povo brasileiro — e dos povos na escala planetária — em sua caminhada rumo a uma sociedade de perfil pacífico, justo e igualitário.

Trata-se hoje de transferir para a sociedade o controle da mídia e de sua corrosiva atividade, restringindo-lhe o poder de propagação do veneno com o qual infecta a vida das pessoas e reproduz seu baixo padrão moral e a violência numa escala sem paralelos na história da humanidade e da nossa formação econômica e social.

A regulação significa, antes de tudo, um duro golpe no poder econômico, político, social e cultural das oligarquias atualizadas, que pretendem manter sua influência no País, não obstante as derrotas que amargaram nas três últimas eleições presidenciais. Nascidas da violência e mantidas pela violência, essas elites jamais deixarão de exercitar seu poder pela via dessa violência — enquanto permaneçam intocadas nos seus interesses e privilégios fundamentais.

Quatro famílias contra o Brasil

Numa controvertida trajetória, desde o surgimento dos primeiros órgãos de imprensa, o império da mídia foi substancialmente consolidado no período do regime militar (1964-1984) e no período neoliberal da década perdida que fechou o século XX. A dissolução de sua nefasta influência está, portanto, articulada à superação daqueles períodos de trevas, dos efeitos do autoritarismo e do neoliberalismo — irmãos siameses no atraso estrutural da nossa economia — e da luta pela consolidação democrática no Brasil.

A democratização da mídia é parte integrante da luta histórica que manteve em permanente oposição o povo brasileiro e suas oligarquias. A principal contradição a ser enfrentada hoje dispõe, desse modo, o conflito atualizado que coloca em lados distintos a absurda tradição conservadora e uma sucessão de governos progressistas — desde a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002 — voltados para o interesse popular, mas sem o controle dos mecanismos que levam ao desvirtuamento da informação e da própria realidade.

Há muito se constatou que os meios de comunicação estão concentrados no patrimônio de um restrito clã de famílias, sob a hegemonia das quatro maiores: as famílias Marinho (Organizações Globo), Frias (Folha de S. Paulo), Civita (Editora Abril, com a revista Veja) e Mesquita (O Estado de São Paulo) — proprietárias de quase toda a mídia brasileira.

Pauta compulsiva

Também é comum se afirmar que o pensamento oligárquico se impõe à sociedade brasileira mediante a articulação desses grupos empresariais, que pautam e orquestram tudo o que é publicado e divulgado, decidindo, de acordo com seus interesses, o que é relevante ou não para o nosso povo. Suas linhas editoriais coincidem nos objetivos centrais, com pequenas variações, e a pretensão fundamental de determinar o imaginário coletivo, a política, a cultura e os rumos da sociedade brasileira.

No imenso Brasil, essas famílias tratam de pautar a sociedade, definindo as questões e a abordagem de cada assunto, determinando heróis ou vilões em cada episódio espetacularizado, enquanto uma população superior a 190 milhões de habitantes priva-se do pleno exercício de sua liberdade de expressão e de acesso à informação. Constituem-se no canal comunicante de reprodução da barbárie contemporânea, instruindo de modo eletrônico, diariamente, novos padrões de banditismo que irão alavancar seus noticiários no dia seguinte.

Longe de representar uma mera (embora complexa) questão de desarmamento, a violência banalizada é uma questão que, além de sua vertente estrutural, foi se tornando cultural e ganhou densidade nacional a partir dos padrões tradicionais de comportamento das violentas elites brasileiras, consagrado pela minoria de proprietários da comunicação.

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