Documentário Visita, Presidente

O filme foi todo construído com um bom roteiro, e não simplesmente foram montados trechos filmados quando os fatos aconteceram.

Na Presidência do Brasil pela terceira vez, Luiz Inácio Lula da Silva ganhou já um bom documentário sobre o período de sua vida em que esteve preso e proibido de ser o que é, o cerne de sua vida, político.

É um documentário feito não por uma empresa de cinema, mas por uma empresa especificamente jornalística, que é a GloboNews. Isso não impediu de termos uma obra em muito boa forma cinematográfica. A diretora é uma jornalista, Júlia Duailibi, mas que demonstra ter na sua percepção o sentido do que precisa ser uma narrativa cinematográfica.

Como a dona do filme é uma empresa jornalística, tinha que haver um gancho jornalístico, e este é mostrar como as pessoas que estiveram próximas de Lula no período em que ele estava na prisão em Curitiba, hoje estão bem próximas dele no Governo em Brasília.

Mas o principal é o fato de que a obra documentou um período da História do nosso país e com boa linguagem, inclusive podendo até servir em um futuro trabalho educativo.

O filme foi todo construído com um bom roteiro, e não simplesmente foram montados trechos filmados quando os fatos aconteceram. E porque também não foram utilizados apenas pedaços de filmagens jornalísticas, mas,  segundo declaração da diretora, foram feitas cerca de trinta entrevistas, tanto com os agentes da Polícia Federal onde Lula ficou preso, como também de advogados, pessoas do PT como Gleisi Hoffmann, e a namorada de Lula, hoje mulher, Janja,  primeira-dama.

Me interessou comentar esse filme não apenas pelo fato político presente, mas porque esse me parece um filme exemplar do quanto o cinema como arte pode ser variável, e pode se realizar dentro de estruturas as mais diversas.

Olinda, 29.12.22

A burrice à descoberta

Essa foto de um edifício em frangalhos como cobertura me lembra o tempo em que eu comecei a trabalhar no Diário de Pernambuco nos anos 60, e passava por esse edifício muitas vezes por dia.

Não me interessa agredir quem deixou que os edifícios do centro do Recife chegassem ao estado de destruição em que se encontram. Na realidade, não tem um culpado, pois essa situação é produto do tipo de evolução que as cidades do mundo tiveram. Nos anos 60, e antes mesmo a Rua Nova e a Rua da Imperatriz eram o centro do Recife, e as pessoas iam até lá fazer compras. Havia lojas famosas como a Sloper e outras. Na Imperatriz, ficava logo na esquina a Livraria Boa Vista que era um chiquê.

Com o lançamento dos shoppings, as cidades mudaram totalmente. E então as cidades não tiveram mais centros. Cada shopping formava um centro. As cidades onde a burguesia não se vergou totalmente à falta de cultura evoluíram, como Paris, que até hoje vive a vender às pessoas ricas do mundo as suas antiguidades.

Se os burgueses empresários do Recife não fossem tão egoístas e burros, claro que o centro do Recife poderia ser hoje um monumento e um grande shopping. Os empresários não podem esperar só o interesse por negócios imediatos. Do lucro mais que imediato. Teriam que investir junto com o chamado Poder Público e assim ganhariam mais ainda. Talvez a Bahia tenha empresários menos burros, pois me parece que inclusive o Pelourinho ainda continua hoje funcionando como atração turística.

Chorar e dizer “que vergonha” não adianta nada. O filósofo e escritor italiano Umberto Eco tinha razão quando disse que a internet deu espaço para a burrice. Não por culpa da internet, mas simplesmente por causa da extrema burrice da maioria da burguesia. Existem muitos burgueses inteligentes, e no Recife um deles foi o escultor Francisco Brennand. Mas na verdade só pôde mesmo criar um extraordinário ateliê no seu belo recanto na Várzea.

Olinda, 29. 12. 22

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