É de sonhos que somos feitos

Domingo já está chegando. Eleições 2014. Voto na urna, sem blá blá blá. Como acontece em todas as eleições, todos falam de educação: que é o melhor caminho para os nossos jovens, que tem de ter escola assim e assada, que tem de ter formação profissional pro jovem conseguir logo colocação profissional, e mais outras pautas. Até aí, problema nenhum. E, por conseguinte, necessariamente, solução também não.

A educação, como tudo o que é importante, envolve algumas ações e diferentes agentes, chamemos assim. E a educação de um ser humano, como sabemos (ou presumimos saber), começa muito antes de ele chegar a alguma escola. O que fazemos numa instituição coletiva de educação, pública ou privada, é formação acadêmica. E aprender em conjunto é uma parte importante da formação numa espécie que vive em sociedade. Aprender sobre o nosso passado comum, as descobertas no campo das ciências que mudaram a vida da humanidade, a divisão do tempo e dos momentos, o uso da língua, as literaturas. Os instrumentos através dos quais qualquer um de nós pode posicionar-se diante da coletividade.

Quem tiver o costume ou a curiosidade de ler o que escrevo, perceberá que costumo me apegar a especificidades, detalhes, destrinchamentos. Acho que já tem bastante textos falando, e de modo competente, sobre os quadros gerais. A razão é que eu costumo pensar no que fui aprendendo com o tempo e com a prática de criar filhos. E, acreditem, há poucas coisas tão específicas na vida quanto um filho. Cada um recebe de modo muito particular o que eu digo, cada um reage diferente às regras que estabeleci.

Há um ponto que me incomoda quando se fala de educação na atual contenta presidencial: acesso a educação de qualidade e à universidade. Eu cresci ouvindo que "fazer faculdade" não era para pobre, porque estudar custa caro, mesmo numa instituição pública, pois envolve deslocamento, livros e xerox, principalmente. De fato, estudar sem amparo material e sem estrutura, e ainda tendo de trabalhar para manter o sustento é praticamente impossível. Ocorre que mesmo assim, todos os cidadãos deveriam ter o direito de tentar.

Quando se fala nos longo período em que o País foi governado para que uma parcela da sociedade tivesse privilégios, isso envolve o direito à educação. Como numa corrida com barreiras, tem as taxas dos vestibulares, os horários das instituições públicas, que eram manhã e tarde, coincidindo com o horário de trabalho, e o próprio exame. Daí, quando eu digo que ter acontecido o PROUNI mudou a minha vida, não é questão de fazer propaganda dos governos do PT e pedir voto pra Dilma. Sim, eu voto na Dilma. Eu fiz vestibular 5 vezes e cheguei perto, mas não passei. Não era falta de capacidade, era falta de vaga! Aliás, também por falta de vagas, para entrarmos na escola, nunca é demais lembrar, a minha mãe passou 3 dias na fila – direto, contando as noites, na rua – para poder colocar a filha mais velha na escola, contrariando a vontade de seu digníssimo marido, que achava e acha até hoje que mulher não precisa estudar, porque nasceu pra ficar em casa servindo aos homens.

Se você me perguntar se eu acho melhor ter "vaga pública" do que PROUNI, mais vagas na Universidade Pública será a minha resposta. Mas se me perguntar entre continuar como era ou começar a mudar via PROUNI, eu digo começar a mudar logo como for possível. Há propostas nas campanhas eleitorais, como estatização de universidades e empresas privadas que são, para mim, pauta para a revolução socialista que derrubar o capitalismo. Eleição num regime democrático dentro do capitalismo não é a mesma coisa, e não é a via para derrubar o sistema.

Acredito se enfrentamos as questões reais com propostas e lutas reais, podemos de fato construir alguma coisa. Votar num candidato/projeto em detrimento de outros não significa aprovar todo o projeto. Se eu fosse esperar as candidaturas ideais aos cargos eletivos, votaria nulo em grande parte das vezes. Mas também não acredito quer a solução dos problemas vem de votar e depois deixar a administração do país, em última instância, a administração da minha vida na mão dos outros. Acho que a educação no Brasil está resolvida porque o PT governa e não as velhas oligarquias antigas, não, tenho certeza de que estamos muito longe do ideal. Mas eleger os oponentes de Dilma nos levará para mais longe das soluções e da possibilidade de lutar.

Estou numa universidade, posso compor uma entidade estudantil; tenho filhos na escola, educo-os; vou às reuniões, cobro, sugiro, mando e-mails pro prefeito/governador; converso sobre a greve (quando houver) em casa. Eleição não é o único momento em que eu dou palpite na vida do país! A formação de um cidadão, no plano institucional, é um processo de anos, às vezes décadas, mas aprender é constante e lutar também!

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor