Eficiência na pesquisa

No melhoramento genético de espécies cultivadas, é comum o trabalho em seleção de variedades mais eficientes no uso de água ou nutrientes (nitrogênio, fósforo, potássio, etc). Em outras palavras, não basta que tais recursos estejam disponíveis no solo em quantidades satisfatórias, mas também que a planta seja eficiente na captação e utilização dos mesmos.

A eficiência no uso da água, por exemplo, é um desafio para a sustentabilidade da agricultura mundial devido a atual preocupação com a escassez dos recursos hídricos. No semi-árido brasileiro, plantas que convivam com a seca de forma mais eficiente podem ser mais aproveitadas que aquelas menos eficientes. E por aí vai.

A ciência nacional dá mostras de eficiência em muitos campos do saber. A agricultura está prenhe de exemplos de eficácias que fizeram o país dar um salto gigantesco nos últimos anos. Mas continuamos extremamente deficientes em pesquisa científica (em todas as grandes áreas) quando o assunto é burocracia.

Um exemplo são as dificuldades encontradas pelos cientistas brasileiros em se comprar e importar insumos, o que impede o avanço da produção científica nacional com um todo.

Em uma recente matéria publicada no jornal O Estado de São Paulo (eventualmente aparecem boas reportagens nesse impresso), no último dia 23, é citado o exemplo de um biólogo brasileiro. Seu caso ilustra bem os dissabores da burocracia nacional.

Conta a matéria que “em 2007, o cientista carioca teve a ideia de criar um meio de cultura para células-tronco embrionárias. Dois anos depois, chegou a um substrato ‘melhor que os vendidos no mercado’. Precisava então testá-lo em outras linhagens de células, além da que trouxera do seu pós-doutorado nos Estados Unidos. Importou-as, mas não conseguiu desvencilhá-las na alfândega. Ficaram lá até estragar. Em 2009, decidiu enviar um aluno para os Estados Unidos: lá, ele testaria o produto em outras linhagens. Como esperado, os resultados comprovaram a qualidade do invento. Inesperada foi a voracidade dos americanos. Assim que a universidade percebeu a oportunidade de negócio, iniciou os contatos com possíveis parceiros para licenciar o produto. Uma empresa de Cambridge assinou o primeiro contrato. Em nove meses, o meio de cultura chegou ao mercado. Quando soube que os americanos se apoderaram da descoberta, o biólogo protestou. Mas não obteve uma revisão do acordo já firmado. No máximo, o compromisso de que, no próximo contrato, receberá 40%”.

De fato, esse episódio ilustra bem a frustração de muitos pesquisadores brasileiros. Muitos são os que já perderam material na alfândega e tiveram que adaptar (dar um jeitinho) em sua linha de pesquisa para “minimizar os percalços aduaneiros”.

O último Plano Nacional de Pós-graduação quase nada tratou sobre o assunto. No atual (2010 – 2020) é fundamental que o tema seja posto em pauta e que haja medidas e diretrizes claras visando a superação destes entraves.

A proposta do Ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, em se “escolher um porto e um aeroporto para o destino preferencial do material importado", treinar os fiscais da Receita e da Anvisa especificamente para lidar com produtos científicos e dispor de lugares com infraestrutura adequada para armazenar perecíveis ou animais, são medidas importantes. Mas há a necessidade de se ir além e ouvir os clamores da sociedade científica nos seus diversos campos, o que inclui, também, o intercâmbio interno (dentro do país) de material genético e outros recursos entre as regiões. Um marco legal que agilize a atividade científica.

A garantia da eficiência de nossa pesquisa (por vezes medida superficialmente pela quantidade de papers) necessita, em boa medida, da superação desta ineficaz burocracia. Se exportamos talentos para todo o mundo, o mínimo que devemos pleitear é que importemos materiais científicos diversos de forma ágil e barata.

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