Eleições 2016: São Paulo e Rio de Janeiro no centro da disputa

Hoje inicia-se a campanha eleitoral dos candidatos a prefeitos e vereadores. Os 144 milhões de eleitores brasileiros, entre os quais 75,2 milhões (52%) são mulheres e 2,3 milhões (1,5%) têm entre 16 e 18 anos, escolherão seus representantes e prefeitos em 5570 municípios, entre cerca de 550 mil candidatos. O Brasil é uma democracia eleitoral de massas robusta.

É acaciano dizer que cada eleição tem sua marca própria. Sobre a deste ano pesam grandes incógnitas. Há um ambiente político de incertezas, uma crise econômico-social de monta, levando mal-estar e mau humor a grandes parcelas da população. O sistema partidário está no alvo de grande descrédito popular e sob assédio da Justiça. E a sociedade está polarizada entre dois projetos, um alcançado nas urnas em 2014 e alvo de impeachment mediante um golpe na democracia, outro com uma agenda antipopular e antinacional procrastinada para não gerar rechaço eleitoral.

É certo que o eleitorado brasileiro decodifica à sua moda, e sob o filtro de seus interesses, o que está em jogo. Nestas eleições vai mais uma vez estar no centro do debate a problemática urbana relativa a serviços públicos essenciais – saúde, educação, mobilidade urbana, moradia, etc –, e medidas programáticas para elevar a qualidade de vida e a solidariedade nas relações entre os munícipes e a cidade, além de transparência e eficiência na gestão.

Mas não se pode desconhecer que o interesse das pessoas pela política tradicional despenca dia-a-dia. Todas as forças partidárias, sem exceção, estão desconectadas, falando mais para os “seus”. Durante a campanha precisarão ter outra pegada para o grande público eleitor. A pior incógnita é que a formação de opinião sobre o voto de cada um, em regra, se dá no contexto familiar ampliado, ou seja, trocando ideias às vésperas do pleito entre familiares (papel dos jovens), agregados/vizinhos, amigos; sabe-se que no ambiente de trabalho isso é mais restrito. Pois bem: os tempos políticos recentes foram de intolerância, de vedação de conversas sobre política até entre familiares, para não gerar atritos e polarizações. Como vai ser esta eleição?

A legislação eleitoral foi bastante modificada, em detrimento das melhores formas e meios de esclarecimento popular. Tempo de campanha encurtado, menos televisão, menos produção marqueteira dos candidatos e uma absoluta incógnita quanto às formas de financiamento das campanhas. Favorecidos são os candidatos de máquina eleitoral e os mais conhecidos pela população, o que sobrestima o papel de comunicadores e religiosos.

O resultado eleitoral, devido a isso, pode ser um ponto fora da curva, que não guarda total relação de lógica política com as eleições anteriores, nem projeta para o futuro uma outra lógica política. De todo modo, haverá forte presença da não-política e da anti-política, na forma de voto nulo ou de protesto mormente nos grandes centros urbanos.

A esquerda política e social, em especial, tem desafios novos. Bem vistas as coisas, estas eleições devem ser encaradas não apenas como preservação de forças, como também de início de novo ciclo de acumulação política. É momento de renovação das lideranças da esquerda. Aproveita-se aí o grande ativo que é a mobilização vasta de forças democráticas e progressistas contra o golpe do impeachment. Mas a pressão anti-petista vai fazer-se sentir com força igualmente, mais em algumas regiões do país, refletindo a derrota sofrida e a violenta campanha realizada contra o campo político liderado pelo PT nos últimos anos.

O PCdoB fará da campanha eleitoral uma extensão da luta tática atual. Combinará nova geração de medidas programáticas avançadas para as cidades, com a perspectiva de acumulação de forças, disputando resultados consoantes sua atuação coerente e determinada nas jornadas democráticas em curso. A experiência administrativa já acumulada, as ideias e conceitos de como conduzir um projeto de cidades mais humanas e solidárias, permitem dialogar com vastos setores sociais. Acresce a isso sua marca de bom gestor, que deixou legados como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, no plano federal, e nos governos como os do Maranhão e Olinda, entre vários outros. Tem, por isso, condições de se apresentar como alternativa à prática política que predomina no país, para alcançar resultados que projetem – como é da lógica política brasileira –avançar nas eleições nacionais em 2018.

As eleições são municipais e se dão em meio a uma crise política insepulta no Brasil. Os tempos são de liquefação da democracia e das conquistas nacionais e sociais alcançadas com a luta dos brasileiros. Mas sempre há um vetor nacional predominante quando se analisará os resultados. Por mais incógnitas que haja, o fato é que se a esquerda, as forças progressistas e democráticas vencerem em São Paulo, com Fernando Haddad, e Rio de Janeiro, com Jandira Feghali, os resultados serão incontrastavelmente de vitória e abrem outras perspectivas para o país em 2018.

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