Eleições em Israel e a Paz na Palestina

Um momento de eleição em um país é esperado e mesmo desejado por amplas parcelas da população, que defendem a democracia. Isso não é diferente em Israel. Em fevereiro, nova rodada eleitoral, deve alterar a correlação de forças no parlamento e constituir u

A proposta de paz saudita


 


 


Definitivamente, pelos sinais que vem enviando, Barak Obama não vai priorizar a paz na Palestina nem o Oriente Médio em sua política externa, até porque está cercado de imensa crise econômica que deve tomar todo o seu tempo nos primeiros meses de governo com a sua equipe econômica remanescente da era Clinton. Ainda estamos por ver a tal “Change” (mudança), tão apregoada na campanha eleitoral.


 


 


Assim, o que se recomenda é que “tirem o cavalo da chuva”, os que depositaram imensa esperança em mudanças profundas, com o novo governo democrata. Deve fazer um governo centrista e olhe lá. O conceituado lingüista e analista político estadunidense, profundo conhecedor da política externa americana, Noam Chomsky, esta cético quanto a mudanças. Também corrobora com a maioria dos analistas, de que Barak não fará mudanças profundas. Pelo menos por enquanto.


 


 


Mas, no caso da Palestina e de Israel, como construir uma proposta de paz que seja aceita por ambos os lados, sem o apoio e a ajuda dos Estados Unidos? Fica quase impossível. Senão vejamos.


 


 


O conceituado escritor israelense Uri Avnery, tem nos ajudado em nossas colunas semanais. Por diversas vezes, bebi em seus escritos para ampliar meus conhecimentos sobre a política interna de Israel. Desta feita, trata-se de seu último artigo a que tivemos acesso, escrito em 22 de novembro passado e publicado no site “Gush Shalom” (Grupo da Paz), intitulado “Olhos arregaladamente fechados” (Eyes wide shut, no original em inglês). Avnery relembra uma proposta saudita elaborada e colocada na mesa de negociação em 2002, mas esquecida, deixada de lado. Não é lá grande coisa, mas avança mais que a proposta do Grupo chamado Quarteto (União Européia, ONU, EUA e Rússia).


 


 


No que consiste essa proposta esquecida – que agora volta à tona –? Em resumo, seria: a) todos os países árabes reconheceriam Israel e normalizariam suas relações diplomáticas e comerciais com esse estado; b) voltam-se as fronteiras de 1967 (antes da Guerra dos Seis Dias); c) Estado Palestino criado com Jerusalém Oriental como sua capital, mais todas as terras da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. E uma solução acordada sobre os refugiados.


 


 


O que chamou a atenção de Avnery foi um anúncio na forma de matéria paga no jornal Haaretz (o maior e mais respeitado de Israel), publicado pela OLP no dia 20 de novembro, contendo essa proposta esquecida. Porque a OLP estaria fazendo isso, dessa forma, neste momento? Nunca antes essa organização tinha publicado matéria paga em jornal israelense para chamar a atenção da população israelense. Isso ocorre pela primeira vez.


 


 


É provável que a maioria dos israelenses tenha recebido essa notícia e proposta com frieza e pouco caso. Talvez tenham suas razões. Como diz Avnery, se essa proposta fosse apresentada um dia antes da Guerra de 1967, talvez ela tivesse encantado a todos. Agora, seria como tirar os judeus a vitória de uma guerra que os encanta até os dias atuais, mais uma de suas ditas bravuras militares em campos de batalha (israelenses orgulham-se de seu exército e das guerras que nunca teriam perdido para os árabes nos campos de batalha). Mas, porque hoje essa proposta não seduz?


 


 


Uma paz cada dia mais difícil



 


 


A sociedade israelense está a cada dia que passa, mais dividida. Os partidos fragmentados e desmoralizados. O “grande” Partido Trabalhista (Labor), antes poderoso, corre o risco, segundo as pesquisas, de amargar um possível quarto ou até quinto lugar em termos de número de cadeiras. Perdeu seu passado dito progressista e social-democrata. Ocupa um campo no espectro conservador e nesse campo, os lugares estão bem demarcados, com os partidos ultra ortodoxos e a direita clássica, como é o Likud e o Shas.


 


 


Não há encantamento algum na população e entre os eleitores, que apenas querem uma segurança cada vez maior, ás custas de liberdade, dos direitos humanos e civis e da mobilidade do povo palestino, submetido a vexatórias revistas nos famosos check points, existentes ás dezenas em todo o país que impede o livre trânsito e a movimentação de palestinos e árabes em geral em Israel. Israel é hoje, pode-se dizer assim, um verdadeiro Estado policial, com completo cerceamento das liberdades de livre manifestação pela população.


 


 


A opinião pública, o governo, e a mídia grande sempre ignoraram essa proposta, a desdenharam na verdade. Partem do pressuposto de que a paz é praticamente impossível e não vão abrir mão de terras em troca de acordos de paz impossíveis e duvidosos. É uma lógica compreensível para os padrões de uma sociedade que vive do medo e que quase sempre apóia governos de direita com um discurso de “mais segurança” e mais repressão para os palestinos.


 


 


Faltam apenas 60 dias para as eleições gerais do parlamento (unicameral, com 120 cadeiras). A campanha esta fria ainda. A bonitinha Tzipi Livni vai perdendo terreno para o truculento e fascista Netanyahu. Recente pesquisa publicada nos grandes jornais dão conta de que o Likud deve fazer uma maioria relativa, ficando à frente do Kadima e pode conseguir montar uma maioria de 61 deputados e constituir um governo muito mais á direito do atual. Poderiam chegar a 64 cadeiras e todos os outros partidos, desde a esquerda e os defensores da paz, ainda que verbal pelo menos, não fariam mais do que 54 cadeiras. Preocupante.


 


 


O centro da discussão hoje em Israel não é a crise econômica, mas, como sempre, a questão de que paz é possível ser assinada com os palestinos e que possa ser cumprida. A segurança para os judeus é questão central. Retirar 200 mil colonos, assentados, em terras palestinas (se bem que esses dois termos são controversos para serem empregados neste caso), não é tarefa fácil para governo algum.


 


 


Netanyahu, que a pouco menos que dez anos foi apeado do poder, perdeu espaço político, teve seu partido dividido ao meio quando Sharon fundou o Kadima, vê-se agora como estrela em ascensão na política israelense. Todos os dias a imprensa israelense noticia algum novo de destaque na política, nas artes, na intelectualidade, aderindo de armas e bagagens ao seu partido direitista. Porque isso ocorre? Um partido que nega a paz, que é contra o estado palestino, que se coloca contra devolver terras em troca de paz, que é contra dividir Jerusalém, é claro que vai se colocar contra a paz proposta pelos sauditas. Isso não vai prosperar.


 


 


Por isso, voltamos a dizer, o papel dos Estados Unidos é central na política interna israelense. Seja pelo seu poderio econômico, com os mais de cinco bilhões de dólares que anualmente os cofres americanos derramam na economia do estado judaico, seja pela pressão política, militar e diplomática que os EUA tem a capacidade de exercer sobre Israel. Mas, a questão que se indaga é: estaria Obama disposto a dar um murro na mesa e forçar uma paz que garanta o Estado Palestino? Há argumentos que dizem que pode chegar a isso e há também demonstrações de que não fará esforços nesse sentido. Só o tempo dirá.


 


 


Uma nova alternativa?


 


 


Não é fácil ser de esquerda e mesmo comunista num país como Israel. Que propostas a defender e angariar eleitores em um país extremamente conservador, onde a direita é fortíssima? No entanto, as esperanças vêm crescendo. Notícias publicadas desde o dia 17 do mês passada, indicam que a esquerda israelense, de várias linhas e correntes, pretende-se juntar em uma espécie de frente eleitoral para disputar as eleições. Isso envolve intelectuais saídos e desiludidos com o Labor, intelectuais independentes, professores e pesquisadores, dirigentes sindicais. Vão formar essa frente de esquerda em torno do Partido Meretz.


 


 


Entre os mais famosos dessa frente está o escritor Amoz Oz, o ex-presidente do parlamento Avraham Burg. Essas personalidades chegam a desafiar a liderança do Labor, cada dia mais decadente, que, no passado, abrigou muitos dos que hoje rompem publicamente com ele e tomam um novo rumo. Seria uma nova esquerda e que poderia tomar o lugar do que um dia foi dos trabalhistas, hoje aplicadores do neoliberalismo, cada vez mais conservadores e direitistas (aliás, muito parecido com o Brasil, aonde o PSDB, PPS e talvez até o PV, vão ficando cada vez mais conservadores e de direita, com uma agenda conservadora e neoliberal, em desalinho com tudo que vai acontecendo no mundo, especialmente no campo da economia capitalista).


 


 


Eles, por ora não formarão um novo partido político. Vão constituir um bloco, uma frente em torno do Meretz, partido de centro-esquerda, progressista que defende a paz e possui cinco cadeiras. Fala-se que possam ir a sete ou nove cadeiras. Acho difícil, mas é sempre positivo. Alguns nomes se destacam nesse cenário, entre eles Shulamit Aloni, Yossi Sarid, Yossi Beilin, Ran Cohen entre outros. Vários desses já se destacaram como negociadores e proponentes de paz.


 


 


Estou entre os que estão e seguem sendo pessimistas com as perspectivas eleitorais e para a paz de Israel com os palestinos. Mas, devemos continuar defendendo que ela ocorra.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor