Estudantes venezuelanos em oposição a Chávez?

A grande mídia difundiu euforicamente algumas manifestações estudantis que ocorreram na Venezuela, contrárias à reforma constituinte proposta por Hugo Chávez, para disseminar a falsa tese de que o movimento estudantil daquele país estava unificado na camp

É a mesma hipocrisia de sempre quando se trata de cobrir qualquer manifestação social: se é contrária aos interesses que representam, omissão; quando lhes servem, holofotes. De repente, o mesmo movimento estudantil que quase sempre é demonizado, foi beatificado e louvado aos quatros cantos.


 


É possível todo o movimento estudantil de um país marchar contra um governo que implanta várias iniciativas de fôlego para a educação (para citar apenas algumas: as missões Robinsón, Ribas e Sucre), impulsiona de forma acelerada o combate ao analfabetismo (com o método cubano “Yo, sí puedo”), incorpora grandes massas antes excluídas do sistema educativo do país e inaugura um novo paradigma na educação em todos os seus níveis (básico, médio e universitário), como vem ocorrendo na Venezuela?


 


 


O que os grandes meios de comunicação omitiram foi o nome de qualquer organização estudantil envolvida nessa tão alardeada campanha oposicionista, bem como as outras manifestações a favor do “sim” levadas a cabo pelas entidades estudantis. Estudantes, bem como outros setores da sociedade, puderam exercer seu direito de manifestação nesse e em outros episódios, o que não significa dizer que o movimento estudantil organizado na Venezuela liderou o “não”.


 


 


Aqui no Brasil também não é diferente e sempre nos deparamos com tentativas de manipulação grosseiras sobre o movimento estudantil de nosso próprio país, onde é comum a mídia explorar apenas os fatos que lhe interessa. Freqüentemente é divulgado que os estudantes brasileiros são contra a Reforma Universitária, explorando as imagens de algumas reitorias sendo invadidas com essa conotação e escondendo que milhões de estudantes, por meio da UNE e Ubes, manifestam de maneira oposta apoiando a maioria dessas propostas. Ou alguém duvida que os milhares de estudantes do Prouni ou os que já estudam nas novas universidades federais criadas, por exemplo, vão hesitar em defender as conquistas alcançadas até agora?


 


 


Embora seja importante reconhecer que o movimento estudantil na Venezuela esteja passando por um difícil momento, onde ainda é significante o nível de fragmentação e divisão em seu interior (o que é diagnosticado pelas próprias lideranças estudantis venezuelanas presentes ao último Congresso Latino Americano e Caribenho de Estudantes, realizado há vinte dias no Equador), não existe qualquer vacilação entre todos os setores estudantis venezuelanos em defender as conquistas da Revolução Bolivariana.


 


 


Há um entendimento comum de que o que se passou na Venezuela não condiz com o divulgado pelos grandes canais de comunicação. Por outro lado, não foi fato isolado expressivas manifestações contra a reforma constituinte e há ainda uma auto-crítica pública sobre a deficiência no trabalho de esclarecimento e convencimento dos estudantes que deveria ser conduzido pelas organizações estudantis. Tudo isso é resultante da falta de um movimento estudantil unificado e estruturado, com entidades estudantis nacionais consolidadas. Essa é a opinião de dirigentes da Federação Bolivariana de Estudantes, da Federação de Centros Universitários Simón Rodrigues e da Comissão Presidencial Estudantil, que lutam agora com mais afinco por unificar o movimento.


 


 


A unidade foi e segue sendo a palavra-chave mestra dos movimentos sociais progressistas em todo o mundo, e do movimento estudantil em particular. Um exemplo que vai sendo conhecido em todo o nosso continente foi o ocorrido no Brasil no dia 16 de agosto de 2005 quando movimento estudantil brasileiro recusou a entrar no jogo da direita, no auge da chamada crise do mensalão, para desestabilizar o governo Lula. Em que pese algumas parcelas dos estudantes terem saído às ruas em prol do impeachment de Lula – o que é comum em uma sociedade de classes – a grande maioria dos estudantes foram para as ruas, organizados pela UNE e Ubes, com outras palavras de ordem: contra a corrupção e apuração de todas as denúncias com a punição severa dos envolvidos, mas com o governo Lula liderando todo esse processo. A direita não contou com o único elemento de que necessitava para derrubar o presidente Lula que era o povo na rua reivindicando seu afastamento. A grande mídia golpista insuflava os estudantes brasileiros a saírem às ruas a defender seus interesses tentando confundir a juventude com aspirações aparentemente justas com interesses escusos camuflados. O que queria na verdade era o impeachment de Lula, mas precisava de “gente na rua” levando os seus cartazes golpistas. A pedra no caminho da elite brasileira foi justamente as entidades estudantis organizadas que não se deixaram manipular e tampouco servirem de bucha de canhão aos interesses das elites, embora se dependesse de outros setores ditos de esquerda… Não é a toa que o mesmo PSTU, que nessa oportunidade foi para as ruas defender o impeachment de Lula, festeje agora a derrota da reforma constituinte na Venezuela.


 


 


 


O movimento estudantil venezuelano tem um compromisso histórico com o seu povo e saberá liderar sua juventude rumo às conquistas que há quase noventa anos foram proclamadas no épico Manifesto de Córdoba, redigido pelos estudantes argentinos em 1918. Ademais, o espírito internacionalista que tão bem identifica a juventude progressista em todo o planeta será mais uma vez manifestado na solidariedade de todas as organizações estudantis que aspiram um movimento estudantil venezuelano unificado pela base, com fortes vínculos com o povo, capaz de levar adiante sua histórica luta contra a guerra, o imperialismo e defender a unidade latino-americana.


 


 


A grande maioria está imbuída desse espírito e seguirá sua luta. As viúvas da RCTV em todo mundo seguirão destilando seu veneno, mas os estudantes vão se vacinando no complexo curso da história.

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