EUA e a militarização do planeta

Esta semana nosso foco específico não será exatamente o Oriente Médio, mas a questão da escalada da militarização do planeta ou uma possível nova corrida armamentista que vivemos na atualidade.

Dados confiáveis do Instituto Internacional de Pesquisa da Paz, com sede em Estocolmo, na Suécia (na sigla em inglês SIPRI, Stocolm of International Peace and Relation Institute cuja página na Internet é www.sipri.org), mostram números que são assustadores (1).


 


Um espantoso crescimento nos gastos militares


 


 


Poucas pessoas sabem e tem acesso aos dados dos gastos militares – pelo menos os oficiais e divulgados. É provável que no momento histórico que vivemos hoje na humanidade, nunca se gastou tanto em armas, munições e efetivos militares, quanto o que se gasta na atualidade. Mesmo vivendo em um mundo, em tese, sem nenhuma grande guerra em curso.


 


 


Os números que foram divulgados podem ser assim resumidos:


 


 


• Em 2007 o mundo gasto exatos US1,339 trilhão de dólares, ou algo como R$2,27 trilhões de reais (quase um PIB do Brasil, que gira hoje na casa de um trilhão de dólares);


 


• O crescimento dos últimos 10 anos foi de 45%, puxados, evidentemente pelos Estados Unidos;


 


• Só os americanos gastaram em 2007 US602 bilhões de dólares, equivalente a 45% de tudo que os outros 190 países da terra gastaram o ano todo;


 


• Países como o Reino Unido e China, gastam apenas 5% do total mundial, algo como U$66 bilhões de dólares;


 


• Chama a atenção os gastos militares do Japão, país que oficialmente não possui sequer forças armadas, pelo acordo de desarmamento de 1945, e gastos da ordem de US$53 bilhões de dólares;


 


• O aumento médio de todos os orçamentos militares foi da ordem de 6% nos países;


 


• Se considerarmos o gasto médio por habitante do planeta, cada cidadão que habita nossa terra tem um gasto equivalente a U$202.00, muito mais do que ganha em média mais da metade dos mesmos habitantes;


 


• Os gastos dos Estados Unidos são os maiores desde todos os tempos, mesmo nos período da I e II Guerra Mundial;


 


• Desde os atentados de 2001 contra as torres gêmeas, os americanos elevaram seus gastos militares em 59%;


 


• O Brasil segue sendo dos países que gasto menos em relação ao mundo, apenas 1% dos gastos totais no planeta, sendo o 12º em gastos no planeta, mas não entre os compradores de armas.


 


 


O relatório acabou, de certa forma, desmentindo o que a imprensa vem tentando propalar – o que sabemos sempre foi falso – que esta existindo uma corrida armamentista na América Latina. Os números mostram crescimentos tímidos e mesmo pouco investimento em armas em nosso subcontinente.


 


 


Não temos ainda elementos para afirmar que esta existindo uma nova corrida armamentista, mas com o fim da guerra fria, como era chamado, muitas guerras já ocorreram, em diversas regiões e a indústria de armas vem crescendo. O sistema imperialista é guerreiro, não vive sem promover as suas guerras de rapina, de controle de países, de controle de suas fontes energéticas, como é o caso da guerra contra o Iraque, ocupado desde 19 de março de 2003. Não se pode prever algum conflito mais global na atualidade, mas também não se pode descartá-lo, especialmente com o crescimento de outros atores num mundo que vai ficando multipolar a cada dia.


 


 


Mudanças de opinião de Rice


 


 


Alguns jornais deram destaque a um artigo que vai sai no próximo número da revista que talvez seja a de maior prestígio mundial em termos de política internacional, que é a Foreing Affairs (Política Externa), dos Estados Unidos. Trata-se de uma mudança de opinião defendida pela atual Secretária de Estado americana Condoleezza Rice (2).


 


 


A discussão que trata em seu artigo, ainda inédito diz respeito ao conceito de “Construção de Nações”. Ela sempre se colocou contra, durante os oito anos do governo de Bill Clinton, quando este defendia moldar certos países à imagem e semelhança dos interesses americanos. Clinton, de tal forma como Jimmy Carter e outros democratas, sempre defenderam uma política de “direitos humanos” e de implantar “democracia” em alguns países. Sempre soubemos que isso era falso, artificial, mas, ainda assim, essa política era combatida pelos republicanos.


 


 


Desde a campanha de George W. Bush, atual presidente, quando se candidatou pela primeira vez – e ganhou – em 2000, contra o democrata Al Gore, então vice de Clinton, que Rice combatia essa concepção, qual seja, de usar dinheiro público, do orçamento americano, para “moldar” países dentro de modelos que interessem aos americanos. Agora Rice passa a mudar de opinião.


 


 


O artigo que será publicado tem por título “Repensando o interesse nacional”. Claro, o interesse dos Estados Unidos. Rice passa a reconhecer como fundamental a “construção de estados democráticos” para os interesses americanos. Ela defendeu que essa tarefa não deve ficar nas mãos só de militares, mas de um corpo de assessores civis que possa encaminhar essa “construções” desses estados.


 


 


Uma mudança drástica de posição. Talvez uma guinada ao centro político, em função do grande isolamento que vivem os republicanos hoje nas eleições, com o crescimento da candidatura democrata de Barak Obama. Sobre seus posicionamentos, aliás, trataremos em breve aqui, em função de muitas declarações polêmicas que ele andou fazendo a favor de Israel e contra o Irã.


 


 


Notas


 


Na semana que passou deixei de publicar a coluna em função de grande correria pela sanção presidencial da obrigatoriedade do ensino da Sociologia nas escolas médias do país e de curso sindical organizado pelo CES para sindicalistas na Praia Grande, ao qual peço desculpas aos nossos leitores.


 


(1) “Gasto militar global cresce 45% em dez anos”, Folha, 10 de junho de 2008, página A12;


 


(2) “Rice muda de opinião e defende ‘construção de nações’”, Valor Econômico, página A9.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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