EUA e China: imperialismo versus desenvolvimento compartilhado

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Os jogos de acusações e ameaças dos Estados Unidos à China vão levar a algum lugar? Vão resultar exatamente em quê? Na superação da tragédia que o novo coronavírus, com as evidentes falhas do sistema de saúde dos EUA, provocou no povo norte-americano? No reforço da campanha reeleitoral de Trump? Na reversão do quadro mundial em que a ascensão da China é um dos aspectos mais salientes? Ou vão dar em nada, por inócuos e contrários ao curso real dos acontecimentos? 

Arrisco-me a dizer que historicamente é uma batalha perdida para o imperialismo estadunidense.

Já se tornou um lugar comum a sentença de que “o mundo pós-covid-19 não será mais o mesmo”. Mas parece que algo não vai mudar: o cretinismo do inquilino da Casa Branca e dos que se alinham em torno do seu projeto de poder.  

Nas últimas semanas os Estados Unidos têm feito acusações e ameaças estapafúrdias à China.

Difundem a tese insustentável de que o país asiático é o responsável pela pandemia de coronavírus, para não falar nas fake news segundo as quais o vírus letal é produto de um laboratório nos marcos de uma guerra biológica desencadeada para ao final impor a hegemonia chinesa no mundo. Esta última versão é cara aos ignorantes que têm sede no gabinete do ódio o Palácio do Planalto, no Ministério da Educação e no Itamaraty, de gloriosas tradições diplomáticas, agora dominado por obscurantistas que ao invés de redigir os fundamentos da participação do Brasil em tratados que conformam a ordem multilateral, editam em blogs lixo pseudocultural e pseudofilosófico. 

As acusações à China se multiplicam, num espetáculo deprimente, em se tratando da principal superpotência do planeta, que decidiu atacar também a prestigiosa Organização Mundial de Saúde, órgão das Nações Unidas, pelo reconhecimento que fez ao grandioso trabalho realizado pelo país asiático para controlar a doença com medidas profiláticas e terapêuticas de choque. A acertada posição da OMS lhe valeu não só reprimendas como o boicote financeiro e tentativas de intervenção e instrumentalização por parte dos Estados Unidos. 

Recentemente, procuradores dos estados de Missouri e Mississipi entraram com ações judiciais contra a China, exigindo que o país fosse responsabilizado e compensasse as perdas acarretadas durante o surto de coronavírus. A alegação é inócua, não tem base legal ou factual e seus autores ignoram o fato de que os tribunais nacionais dos EUA não têm jurisdição sobre as ações soberanas do governo chinês em resposta à epidemia.

Nesta quarta-feira (29), o inquilino da Casa Branca resolveu escalar a ofensiva anti-China, embora ainda não tenha ultrapassado os limites da retórica. 

“Eu posso fazer muito”, disse Trump em entrevista à Reuters, sugerindo que tem um arsenal de medidas a tomar contra a nação asiática e deixa entrevisto que  a China sofrerá punições por sua suposta culpa pela disseminação da covid-19 no mundo. Trump ainda não foi capaz de especificar a quais medidas se refere, mas bate de novo na tecla de que Pequim deveria ter alertado o mundo há muito mais tempo sobre o surto. 

A China rechaça a acusação, insiste em que não encobriu fatos e que compartilhou oportunamente as informações com o mundo desde o início do surto. Em sua resposta, cita a OMS e governos de países relevantes, nomeando entre estes os Estados Unidos.  

Uma informação que a mídia corporativa internacional e nacional omite: “Em 12 de janeiro, a China compartilhou com a OMS as informações sobre a sequência do genoma do novo coronavírus, estabelecendo uma sólida base para os esforços globais de pesquisa científica e desenvolvimento de vacinas contra a covid-19”, diz a Xinhua. 

Em sua defesa, a China reitera que tem cumprido todas as suas obrigações de acordo com o Regulamento Sanitário Internacional. E detém como galardão a afirmação da OMS de que o país vem estabelecendo uma nova referência para o mundo no cumprimento de suas obrigações internacionais.

Ciente de que o fundo dessas acusações e ameaças dos Estados Unidos têm um alcance muito mais amplo, a China reafirma os princípios de sua política externa, no estilo próprio de sua diplomacia, e suas convicções sobre as características da ordem internacional na presente época, rejeitando a estigmatização, a politização da luta contra a covid-19 e as manifestas intenções de unilateralismo e hegemônicas do imperialismo estadunidense.  

A expressão-chave com que a China abre as portas ao multilateralismo, a democratização das relações internacionais e a busca da paz mundial é “construir uma comunidade com futuro compartilhado para humanidade”, definida pelo chanceler chinês Wang Yi como “a escolha certa na luta contra a covid-19, a escolha certa que atende à tendência dos tempos”, ao se pronunciar na reunião de ministros das Relações Exteriores dos países do Brics realizada por videoconferência na última terça-feira (28). 

Ao se posicionar nesses termos, a China faz escola, conquista aliados e afirma a conduta da cooperação internacional para enfrentar uma ameaça que atinge a todos e nenhum país poderá enfrentar sozinho. 

A resposta colaborativa à covid-19 é cada vez mais a atitude da OMS, da ONU, dos países que lutam para afirmar sua independência e das forças progressistas em escala mundial. 

O imperialismo estadunidense tende a ficar isolado com suas vãs pretensões hegemônicas, enquanto a China persiste no caminho reiterado pelo presidente Xi Jinping de “construir uma comunidade de futuro compartilhado para a humanidade”. 

“Estamos em uma época de grande desenvolvimento, grande transformação e grande reajuste, paralelamente à ampliação da multipolarização mundial e globalização econômica e ao progresso contínuo da informatização social e da diversificação cultural. Ao mesmo tempo, uma nova rodada da revolução científico-tecnológica e industrial está ganhando forma;os países estão cada vez mais interconectados e são mais interdependentes, compartilhando o mesmo futuro e sorte; o engrandecimento das forças pela paz supera amplamente o aumento de fatores de guerra; e a corrente do nosso tempo pela paz, desenvolvimento, cooperação e benefício compartilhado ganha cada vez mais forte impulso” (Mensagem de Xi Jinping à ONU, em 18 de janeiro de 2017).

“A China não alterará o seu compromisso de promover o desenvolvimento comum […] O desenvolvimento chinês foi possível graças ao mundo e a China também contribuiu para o desenvolvimento do mundo. Continuaremos aplicando a estratégia de abertura e de benefício mútuo com resultado ganha-ganha, compartilhando nossas oportunidades de desenvolvimento com os demais países e dando-lhes as boas-vindas ao trem expresso do desenvolvimento chinês” (Idem). 

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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Um comentario para "EUA e China: imperialismo versus desenvolvimento compartilhado"

  1. Cursos Online disse:

    Olá aqui é a Carol Rocha, eu gostei muito do seu artigo seu conteúdo vem me ajudando bastante, muito obrigada.

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