Famintos e Obesos

As posições mais abertas que a Globo tem assumido para adquirir uma conveniente feição de centro-esquerda, agora que a oposição social-democrata se dilui nos seus próprios venenos, ainda faz grandes esforços para não deixar que os seus entrevistados esclareçam as causas reais das injustiças capitalistas. Reduzem a uma conclusão inócua, interessantes argumentos que tentam ir ao fundo das questões políticas responsáveis pela distribuição da riqueza mundial entre poucos ricos e muitos pobres.

Assim, a propósito da fome mundial que mata milhões de pessoas nos paises dependentes, que são conduzidos pela política econômica ditada pelo FMI e as elites de plantão, aponta os obesos como os que comem a comida toda. Não é verdade, os obesos também são vítimas da mesma injustiça necessária ao fortalecimento do poder capitalista. As crianças já nascem obesas e crescem seguindo o modelo alimentar criado para aumentar o consumo de uma alimentação industrializada de baixa qualidade que inunda os supermercados mundiais. Assim com o FMI levou os gestores financeiros a uma crise tremenda em 2009 que foi paga com a fome popular mundial, a indústria alimentar usa químicos com sabor de bons petiscos para inchar os corpos de quem se tornará faminto com os tratamentos para sobreviver parecendo normal.

Essa conversa de “faz-de-conta”, típica da social-democracia, mais atrapalha que ajuda ao esclarecimento das coisas. O seu valor é o de ficar em cima do muro falando sobre a realidade fotografada e não inventar uma nova história que não tem nada com o real. Mas, para tentar resolver o problema não se avança apenas demonstrando saber que ele existe para parecer simpático.

José Ely da Veiga, um dos entrevistados no programa “entre aspas” disse com muita clareza que cada pessoa, se comer por semana apenas dois bifes pequenos, torna possivel que a carne produzida alimente a população mundial por igual. Disse ainda que a fome na África, filmada pela Globo, mostra muito maior carência – de saneamento básico, de saúde, de casa, de tudo, que se soma à falta de alimento. “È a má distribuição”, concorda a jornalista referindo-se ao transporte dos produtos doados “generosamente” pelos mais ricos. Não é só isso, é a má distribuição das riquezas naturais, e do poder que organiza a produção, a alimentação, a educação, a saúde, enfim, a solidariedade humana que não é um ato de generosidade mas sim um dever de quem pensa e respeita a humanidade.

Fico imaginando como seria fácil mostrar ao mundo onde estão os erros se a grande mídia decidisse colaborar com a verdade. Filmes sobre a realidade existem, bons depoimentos também, o problema “é a má distribuição” habitual do sistema que privilegia uma elite e escraviza a grande massa. E, quando a mídia promove uma “classe média” ascendente, que passa de D a C em direção ao B, é para incentivar o consumismo desvairado que conduz à obesidade. E a vida social segue o círculo vicioso que convém à mídia da elite.

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