Filme brasileiro sofre muito pela produção

Enquanto o cinema nacional depender de “jeitinhos” para a realização de seus filmes, continuará fazendo obras frustradas.

A Volta Pela Estrada da Violência | Imagem: reprodução/Alagoar

Muitas vezes a maior deficiência de um filme brasileiro está no sistema de produção. É claro que quando uma equipe parte para filmar um “Café na cama” já sabe que não pretende atingir nenhum nível artístico, apenas conseguir uma linguagem com suficiente dinamismo para bem atrair o público. É a única preocupação.

Mas filmes como “Como nos livrar do saco”, de César Ladeira Júnior que o Art-Palácio exibiu, e “A Volta pela estrada da violência”, de Aécio de Andrade, que o Cinema de Arte Coliseu exibe de hoje até terça-feira, poderiam ser muito melhores se não dependessem de um sistema de produção estruturalmente falho.

E digo que há uma estrutura de produção errada porque o que acontece, na realidade, é que o cineasta parte para fazer o filme com menos recursos do que necessita, e para compensar essa falta tem que apelar para um monte de pessoas que, de alguma forma, podem ajudar na produção. Mas acontece que essas pessoas ajudam e também querem ser ajudadas. No mínimo o cineasta e forçado a colocar no início ou no final uma série de nomes, até de simples bodegas, como acontece com o filme de César Ladeira Júnior.

Entretanto, isso não é tudo. O que prejudica mais na realização de um filme é o fato de que os produtores, aqueles que simplesmente dão uma ajuda, de uma forma ou de outra, exigem, pedem, apelam de mil maneiras, conseguindo aparecer de alguma forma, no filme. E o resultado é que, às vezes, até a própria estória tem que ser modificada para atender o pedido (o cineasta, em geral, não nega prevendo uma futura necessidade).

Enquanto o cinema brasileiro depender de “jeitinhos” para a realização de seus filmes, continuará fazendo obras frustradas, como esses dois citados acima. “A Volta pela estrada da violência” tem um começo muito bom. Mas depois cai verticalmente, e justamente para atender pedidos, agradar, sem dúvida nenhuma.

(Crítica copiada do Jornal do Commercio, Recife, 11.08.1974)            

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