Frente Ampla também para governar

O desafio maior do terceiro mandado de Lula é pacificar o país, enterrar de vez o fascismo e fortalecer o estado democrático de direito

Vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin e o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de diplomação no TSE l Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

2023 se iniciou com a posse do presidente Lula, numa enorme festa feita pelo povo que ocupou Brasília evidenciando a virada de chave que todos queríamos dar aos quatro anos de atraso que vivemos.

Entretanto, oito dias depois assistimos uma das mais temerosas ações que os fascistas já realizaram em nosso território. Com o apreço e corpo mole de muitos membros das Forças Armadas e das polícias, aconteceu a “tarde dos cristais tupiniquim”, com o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal sendo depredados por vândalos terroristas que não aceitavam a derrota nas urnas de seu candidato.

Bom, esse cenário de guerra, perigoso inclusive, é o mar por onde Lula vai navegar, levando em sua nau todos que defendem a democracia, uma grande aventura que não vivíamos desde o fim da ditadura militar.

Para se eleger, o presidente criou a maior frente de partidos, intelectuais, ideias e pessoas comprometidas com o estado democrático de direito, sendo apoiado, inclusive, por ex-bolsonaristas arrependidos e parte importante do Centrão, que mamou nas tetas do governo significativamente no último período.

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Tudo isso que aqui afirmo não é novidade para ninguém, mas é necessário de ser recapitulado para entendermos que tipo de governo se apresenta para o nosso país.

Parte da militância de esquerda já começa a chiar vendo a montagem do governo, questionando, em especial na educação, quem está sendo convidado a fazer parte da reconstrução nacional.

Não podemos nos esquecer que uma Frente Ampla, como fala o nome, não é só para ganhar e sim, principalmente, para governar. Figuras que, historicamente, não estavam em governos liderados pelo PT precisam fazer parte exatamente pela proposta que venceu nas urnas.

Não podemos cair no erro de achar que o governo Lula será um governo de esquerda, não será. Geraldo Alckmin é a personificação da Carta aos Brasileiros, acalmando a banca e a Faria Lima. Teremos liberais, ongueiros, representantes de fundações bancárias, entre outros ocupando postos e tendo espaço para palpitar nos rumos do novo governo que se iniciou no início de janeiro.

E isso é positivo, não é ruim. Precisamos entender qual é o nosso adversário principal. Se não fosse a habilidade de Dino e Lula, assim como a coragem de Alexandre de Moraes, a extrema-direita  poderia  ter tomado o poder dia 08 de janeiro.

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O desafio maior do terceiro mandado de Lula é pacificar o país, enterrar de vez o fascismo e fortalecer o estado democrático de direito, trazendo de volta a disputa política para o campo da política.

É evidente que muitos desafios o cercam. Um deles é vencer a máquina de fake news que segue a todo vapor mesmo com o gabinete do ódio, oficialmente, fora do poder. Será necessária uma grande conflagração no Congresso Nacional para se conseguir aprovar leis que sejam capazes de frear as mentiras espalhadas diuturnamente pelos extremistas.

Portanto, não sejamos ingênuos e nem caiamos no esquerdismo infantil. Precisamos deste governo mais do que ele da gente. É hora não só de apoiar, mas de construir nos movimentos sociais a sustentação do projeto que ora se inicia, ou seja, cobrar sim, mas com responsabilidade, analisando friamente o cenário, para não cairmos, como muitos caíram no passado, no radicalismo senil que contribuiu para chegarmos onde estávamos.

Não nos esqueçamos que a estrada vai além do que se vê.

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