Ganhar as mentes e as ruas. Os Direitos Humanos exigem

Tenho visto, de alguma forma, a onda fascista que ganha corpo em nosso país. Seja nos jornais, na televisão, nas redes sociais ou em algumas manifestações de rua.

E toda vez que vejo algo relacionado, remeto a minha memória a campanha presidencial de 2010, quando, na ânsia de ganhar o pleito, José Serra (PSDB) se apropriou do tema do aborto para poder atacar a candidata Dilma (PT). Na época, o jornalista Paulo Henrique Amorim anunciava que Serra tinha aberto as portas das trevas em nosso país.

Passados alguns anos, percebo que ele estava corretíssimo. Astrólogo disfarçado de filósofo, jornalistas “isentos” que destilam o ódio em concessão pública, líderes religiosos que pregam a intolerância e uma legião de seguidores que, em nome de um espírito crítico, agem cegamente como se fossem justiceiros.

Não quero aqui, por outro lado, passar a ideia de que sou admirador do pensamento único. Pelo contrário, a história da humanidade é repleta de exemplos que podem ilustrar o que isso significa. Só ver a catástrofe econômica e social que vive a Europa atualmente, por ter acreditado no pensamento único de que o “mercado” resolve tudo.
Todavia, a mesma história nos mostra que a vida não é linear e é passível de alterações. Vejamos o tema dos Direitos Humanos.

Em um contexto de conflitos religiosos, guerras, invasões, vê-se a burguesia europeia, lá no limiar da modernidade, erguendo a bandeira da igualdade, da liberdade, da paz e da defesa da propriedade.

John Locke, filósofo liberal do século 16, foi o primeiro a redigir uma carta fazendo alusão aos direitos humanos. Antes dele, Elizabeth, rainha da Inglaterra, já executava a primeira legislação específica para garantir o mínimo de assistência social aos mais pobres.

Com a Revolução Francesa e a instituição da República, o lema dos Direitos Humanos entrou em um novo patamar. Os direitos individuais são estendidos a todos os cidadãos.
No Novo Mundo, o fim da escravidão e do colonialismo fortaleceram esse viés.

A Revolução Russa, de 1917, talvez tenha coroado todo esse processo libertário, a partir do lema ‘Pão, Terra e Paz’. Instalava-se a primeira experiência socialista do mundo.
Assim, o planeta entrava em uma nova etapa histórica, onde os Direitos Humanos converteu-se em programas governamentais.

No entanto, a Crise de 29, as duas grandes guerras e, principalmente, a ascensão do nazi-fascismo no continente europeu, põe em cheque os Direitos Humanos. Filósofos da época, como Adorno, Horkheimer, Walter Benjamin, Sartre, Hannah Arendt, Bertrand Russell e Gramsci tornaram-se denunciadores da barbárie causada pelos intentos de Mussolini e Hitler.
Com o fim da II Guerra e com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) um novo impulso é dado aos Direitos Humanos, a ponto de ser redigida e assinada, por centenas de países, a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

O que diz este documento?

portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm

Fiz esse breve recorte histórico para reforçar uma tese: Torna-se urgente uma resposta aos avanços dos ideias fascistas em nosso país.

E digo mais. Diferentemente do cenário europeu dos anos 30 do século passado, estamos vivendo o melhor momento econômico e social do país dos últimos 50 anos. Redução significativa da pobreza, expansão dos serviços públicos elementares (saúde, educação, moradia), aumento do emprego com carteira assinada caracterizam este panorama. Além disso, temos uma economia sólida, prestígio internacional e parceiros econômicos nos “quatro cantos” do mundo. Podemos, inclusive, nos dar o direito de realizar grandes eventos internacionais, como a Jornada Mundial da Juventude (ocirrida ano passado), a Copa do Mundo, a Olimpíada, os Jogos Paraolímpicos e os Jogos Militares Mundiais.

Portanto, como já proferiu Adorno, em um livro intitula Educação e Emancipação: “A exigência que Auschiwtz não se repita é a primeira de todas para a educação. De tal modo ela precede quaisquer outras que creio não ser possível nem necessário justifica-la.” Me parece que essa consigna é atualíssima e que serve de norte para os defensores dos Direitos Humanos.

Saíamos do sofá. Ganhemos as ruas e as mentes da população.

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