Gramática, linguística e o ABC de Weintraub

“Numa época em que se fala tanto em meritocracia, é de se perguntar qual o mérito desse sujeito. Qual é o seu currículo político ou acadêmico que lhe credencia a ocupar um Ministério tão importante como o da Educação?”

O “bom” uso da língua sempre foi exigido ao torneiro mecânico que se elegeu Presidente do Brasil. Qualquer deslize cometido por Lula ao falar, era fartamente explorado pela grande mídia como motivo para desqualificá-lo e mesmo questionar a sua capacidade de governar o país. Exigia-se, até, que ele falasse fluentemente o inglês como requisito para presidir o país.

E o que dizem estes mesmos eruditos da língua vernácula ao assistirem aos recorrentes erros gramaticais da autoridade máxima da pasta educacional brasileira?

Em favor de Lula está o fato de ele sequer ter concluído o ensino básico. Já o atual ministro da educação tem ensino superior e até leciona em uma das mais renomadas universidades do país.

A questão de fundo é menos a gramática e mais, digamos, a linguística do cargo. Embora não pegue bem, pouco importa se o atual ministro da Educação escreveu impressionante com “c” ou com “ss” nas redes sociais. O que de fato impressiona, negativamente, é o conteúdo de sua política.

Da mesma forma, enquanto a gramática tradicional apresenta um conjunto de regras e normas que devem ser seguidas à risca, ou seja, tem o cartar prescritivo, a linguística, por sua vez, é descritiva. A linguística não se atreve a dizer o que é certo ou errado, não emite julgamento de valor sobre a língua e tampouco orienta o que se pode escrever ou falar. Ou seja, menos importante do que como Abraham Weintraub fala, é o que ele fala.

E descrevendo friamente o que fala e escreve o atual Ministro da Educação de Bolsonaro, podemos destacar sua repugnância às universidades públicas. É como se um ruralista ocupasse o Ministério do Meio Ambiente ou um fanático religioso o Ministério da Ciência e Tecnologia.

Weintraub ataca constantemente um dos mais importantes patrimônios de nosso povo: as universidades públicas. Justamente essas instituições que tanto tempo demoraram a florescer em nosso país, sendo inauguradas somente no século passado, são alvos prediletos das investidas daquele que deveria ser, por ofício do cargo, seu maior defensor.

Pouco tempo atrás seria inimaginável que um Ministro da Educação viesse a público dizer, sem apresentar provas, que há universidades federais com “plantações extensivas de maconha”, que seriam grandes a ponto de ter borrifadores de agrotóxicos ou mesmo a presença de laboratórios de química que estão “desenvolvendo droga sintética, de metanfetaminas”. Pior de tudo é o silêncio cúmplice e covarde de boa parte da academia que tolera essas infâmias.

Do ponto de vista da gramática política, o que se recomenda é o respeito aos que pensam diferente. Essa é a cartilha básica de todo e qualquer cidadão que se enverede pela a administração pública. Pois Weintraub e seus demais colegas agem como cavalos xucros a darem coices contra aqueles que foram eleitos como inimigos a serem combatidos.

É legítimo se questionar a obra de Paulo Freire. Mas é inadmissível se ofender a honra deste grande brasileiro. Deixa-se de fora o debate das ideias para se promover uma campanha difamatória contra todos aqueles que pensam diferente das teses do achincalhador Olavo de Carvalho, mentor intelectual do governo Bolsonaro.

Numa época em que se fala tanto em meritocracia, é de se perguntar qual o mérito desse sujeito. Qual é o seu currículo político ou acadêmico que lhe credencia a ocupar um Ministério tão importante como o da Educação?

Esse é o ABC do governo Bolsonaro. Tanto do ponto de vista gramatical como linguístico, prescritivo ou descritivo, o que predomina é o desmonte moral e estrutural da educação brasileira.

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