Gritamos pela paz para que ouçam mesmo os que estão surdos

A paz duradora e segura só é possível no cenário do leste do velho continente com a paralisação da expansão agressiva da Otan

Ilustração: Latuff

Na canção “Todos estão surdos”, Roberto Carlos diz que um cabeludo falou “Não importa os motivos da guerra, a paz ainda é mais importante que eles”. Em um sonho de construção de um mundo de paz, desenvolvimento e justiça social essa ideia é irretocável.

Uma das marcas dos socialistas é a luta pela paz e ela precisa está na linha de frente das bandeiras de luta dos que sonham e lutam por um mundo de homens e mulheres livres. Nesses tempos em que se agudizam os conflitos mais do que nunca é preciso levantar essa bandeira.

Mas a paz não se constrói com a inexistência de conflitos, e sim com uma justa gestão dos conflitos que são naturais da existência humana. Para a construção da paz duradoura é necessário a compreensão dos fenômenos que ocorrem no mundo. Ademais, é sempre bom compreender que não se sustenta paz verdadeira sobre um sistema de exploração do trabalho alheio, de apropriação do lucro (do trabalho não pago), assim como da exploração de uma nação sobre outra.

Compreender o conflito que eclodiu na Ucrânia é um bom exercício para fazer esse olhar. Primeiro olhar é entender que as causas são frutos de um tempo mais longo, não estão vinculadas a movimentação destes últimos anos. O período pós a desintegração da União Soviética e das Repúblicas Socialistas do Leste Europeu é marcado pela expansão da Otan, braço armado dos EUA na Europa. Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, República Tcheca, Eslováquia, Hungria, Romênia, Eslovênia, Croácia, Montenegro, Albânia, Macedônia do Norte e Bulgária ingressaram na Otan de 1997 para cá e a Ucrânia está em processo de entrada, ampliando a presença militar nessa parte do continente europeu. Ao olhar o mapa do velho continente dar-se conta do cerco à fronteira russa pela Otan.

Observando esse processo, vem à memória a crise dos mísseis soviéticos em Cuba, 60 anos atrás. Em outubro de 1962, a União Soviética instala mísseis em Cuba em retaliação a instalação de mísseis estadunidense na Itália e na Turquia. A crise quase leva a eclosão da III Guerra Mundial, com a tensão subindo ao máximo. Ao fim, os mísseis não são instalados em Cuba e os EUA se comprometem em não invadir a ilha caribenha.

Sem fazer uma comparação mecânica com dois momentos distintos da história, mas o avanço da expansão da Otan sobre o leste europeu é muito mais agudo que o caso de 60 anos atrás. Essa expansão não é fruto de nenhuma retaliação, mas do desejo estadunidense de controlar o território europeu e avançar pela Ásia, controlar o território e as riquezas como o petróleo, o gás natural e a grande produção de trigo.

A paz duradora e segura, que é sempre mais importante que a guerra, que nos ensina o cabeludo do qual Roberto falou, só é possível no cenário do leste do velho continente com a paralisação da expansão agressiva da Otan, com o estabelecimento de uma nova ordem mundial ancorada na colaboração entre os povos, na soberania e na autodeterminação. O que enxergo é que para isso é preciso a construção de um novo regime, não mais baseado na busca inebriante pelo lucro através da exploração do trabalho. Nessa luta, os socialistas precisam, como nunca, levantar bem alto a bandeira da paz como tarefa fundamental da construção de uma nova sociedade.

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