Isso não é natural

“Nós vos pedimos com insistência
nunca digam: isso é natural!
diante dos acontecimentos de cada dia
numa época em que reina a confusão
em que corre o sangue
em que o arbítrio tem força de lei
em que a humanidade se desumaniza

O poema acima, escrito por Bertolt Brecht, ganha ainda mais emoção quando declamado por Francisco Milani, como está registrado no Curso Básico em Vídeo (o CBV) do Partido Comunista do Brasil.


 


 


Seguramente é uma das partes mais bonitas do curso e com o fundo musical de “Uma onda no mar” se transforma em uma verdadeira ode à dialética, onde todos os alunos são embalados a cantar a passagem que poetisa que “nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa, tudo sempre passará…”


 


 


Em tempos de eleição essa mensagem, e tantas outras que são transmitidas nesse curso, ganham ainda mais relevância. Aliás, quem diria que em tão pouco tempo pós redemocratização em nosso país, mesmo nas regiões mais conservadoras, os partidos de oposição a Lula fossem ser mais exorcizados que o partido da foice e do martelo que há mais de oito décadas vem sendo massacrado com toda a sorte de calúnias? Somos o partido da mudança e isso conta muito para o povo que vai se posicionando contra a “naturalidade” dos velhos dogmas aparentemente imutáveis.


 


 


 


Mesmo assim o assédio econômico dos partidos burgueses continua exercendo fortíssima influência na definição do voto. É como assinala o poema ao sublinhar que vivemos “numa época em que reina a confusão” e a todo o momento se tenta passar gato por lebre à custa de muita manipulação. E é nesse período especial de processo eleitoral que somos ainda mais exigidos a lutar contra o curso normal das velhas idéias e a desmascarar a tese da imutabilidade, defendendo o aprofundamento das mudanças.


 



 
No jogo burguês do vale tudo pelo voto, onde o capital aparece como salvo-conduto aos cargos eletivos, difunde-se a impressão, mesmo entre setores e candidatos de esquerda, que o caminho mais natural é o da campanha convencional. Os comunistas se recusam a enveredar por essa rota anti-dialética.


 


 


 


Numa cidade do porte de Cataguases, com uma população superior a 70 mil habitantes e ostentando o segundo maior PIB de toda a região da Zona da Mata de Minas Gerais (só sendo ultrapassada pela cidade de Juiz de Fora), nosso candidato a prefeito Cesinha já bateu na porta de todas as casas da cidade (incluído as localizadas na zona rural) com o plano de governo nas mãos. Na reta final, todos os dias os bairros assistem pequenos comícios montados em cima de um caminhão com um possante som improvisado o que possibilita nossos candidatos e apoiadores fazerem o discurso progressista que vai fazer a diferença. É o único candidato da cidade que apresenta uma plataforma política claramente anti-neoliberal com o apoio de muitos movimentos sociais historicamente marginalizados. O marketing utilizado leva em consideração mais o conteúdo e a essência política que a forma e a aparência, dosa mais transpiração que inspiração, e transmite integralmente a teoria mais avançada de nosso tempo de forma paciente e didática. Detalhe: mesmo concorrendo com uma deputada estadual do DEM, com o atual prefeito da cidade e mais quatro outros candidatos, tem tudo para vencer as eleições. O mesmo ocorre na pequena cidade de Urucânia, nessa mesma região e nessas mesmas circunstâncias, com o camarada Zezé Mansur.


 


 


 


Não se quer dizer nessas linhas que nossas campanhas devem abrir mão de outros recursos que exigem grandes investimentos. Principalmente nas grandes cidades e capitais onde o corpo-a-corpo se torna menos abrangente, outras formas de propaganda devem ser utilizadas se houverem possibilidades para tal. Entretanto, a força da abordagem militante e a politização continuam sendo o grande diferencial das candidaturas de esquerda. O que há de natural em tudo isso é que nossa forma normal de fazer política é a antítese daquela expressada pela burguesia.


 


 


 


Muita coisa ainda precisa avançar no jogo eleitoral. Nas eleições de Belo Horizonte a ditadura que Aécio impõe a Minas é uma das provas mais cabais da nocividade de um pensamento único que visa difundir uma suposta naturalidade do poder econômico que faz parecer habitual até uma aliança de projetos de natureza imiscível à custa de um impressionante arsenal midiático, publicitário e jurídico. A isso devemos insistir em denunciar: isso não é natural!


 



 
 


Esse é o grande desafio do Partido Comunista do Brasil nessas eleições, seguir em frente derrubando o curso natural das coisas e descortinar um novo cenário, diferente daquele que já foi um dia. Tudo passa, tudo passará.

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