“Jeito novo de fazer política” e “combate à inflação”
Não me surpreende assistir a uma das inserções do PSB na TV e me deparar com um bate-papo entre Eduardo Campos e Marina Silva tendo como tema a “volta da inflação” e a perda do poder de compra dos salários. Não explicitaram qual será a solução. O silêncio diz tudo. E a prática política, idem.
Publicado 31/03/2014 15:47
Esse tipo de coisa não me deixa triste por si. Acho que o PSB está exercendo o direito dele de disputar a presidência da República. Acumularam força para isso. Eles têm demonstrado certo tirocínio político. No geral, o que é ter tirocínio político numa formação social complexa como o Brasil? Em muitos casos, é sinônimo de oportunismo aberto, alianças e aliados nada programáticos (O que une Marina Silva e Jorge Bornhausen na mesma legenda?) e, após a década de 1990, navegar no barco da “estabilidade monetária” e do “combate à inflação”.
O manual da malandragem política não se resume mais a seguir este manual. Até porque este manual foi atualizado abarcando agora pelo menos um conceito e uma palavra de ordem. O conceito: “presidencialismo de coalizão”. A palavra de ordem: “novo jeito de fazer política”. O conceito é coisa típica da sociologia de baixo nível do eixo Rio-SP. É mais fácil, e rentável, achar nomes bonitos para determinados fenômenos do que compreender a fundo a natureza dos fenômenos. É clara a crítica anexa ao “conceito”. Assim como não é surpreendente a pobreza do próprio conceito – expressão de uma sociologia louca para decapitar qualquer resquício da Revolução de 1930 e que não percebe que o grito da Independência de 1822 nada mais foi do que a ato final da internalização do capital comercial a cargo da coroa portuguesa.
Se o “presidencialismo de coalizão” é um problema, uma coisa de “república de bananas” que tal “um novo jeito de fazer política”? Pelo menos como nome fantasia é ótimo. É ótimo achar que se pode ir adiante sem perceber que o atual sistema político brasileiro é fruto da complexidade que nos segue desde que caravelas portuguesas chegaram a Porto Seguro. Alguém precisa salvar esse país! Alguém cuja autoridade moral a credencie a uma situação de flutuação acima de partidos e instituições. Esse país precisa de um Messias! Olha aí a Marina Silva! Ou ela não se acha alguém com uma missão especial no mundo?
Mas, vejam. Entre essas teses todas e a triste realidade existe uma imensa distância. Não é novidade que Marina Silva é assessorada por gente graúda que participou da elaboração e execução do Plano Real. Anda se reunindo com banqueiros. O sonho de consumo de nossa Messias de saias é que o Brasil tenha o menor crescimento econômico possível. Assim o meio ambiente estaria a salvo. Assim como o modo de vida dos eleitores dela residentes em Copacabana e no Plano Piloto de Brasília. Logo, não existe nenhuma contradição entre o que ela pensa e o que diz sobre inflação e tripé macroeconômico.
Já Eduardo Campos anda dizendo aos quatro ventos que o Brasil precisa de novas ideias e uma “nova agenda”. Sou uma pessoa antenada nas ideias e até agora não vi nada a respeito. E nem espero. Eduardo Campos não escapa de ser vítima, e reprodutor, de uma miséria em matéria de pensamento estratégico que acomete nosso país. Não me surpreendo, também, com o que diz sobre “volta da inflação” e com quem anda conversando por aí. Está disputando com Aécio Neves o apoio da grande banca nacional e internacional. Está no direito dele. Ele é inteligente demais para acreditar que Marina Silva pode ser pairar sobre o concreto. E inteligente demais para perceber quem manda de fato. E para chegar onde ele quer chegar ele deve manter distância entre o que diz e o que anda fazendo. Fico triste por saber que dali não vai sair nada que preste. No máximo um mais do mesmo sob o véu do “outro mundo possível” encalacrado pelos jovens de classe média – fanáticos apoiadores de Marina. Odeiam o agronegócio, mas não abrem mão do chope gelado em algum boteco caro da Vila Madalena.
Fico me perguntando. É isso que está diante de Dilma? É isso que se propõe como alternativa à nossa presidenta? Não pago para ver. Apenas percebo por onde as coisas devem ir, por onde que podemos continuar. Não existe bom e mal na vida. O que rola é um processo histórico que intercala avanços e retrocessos. Acho que mais avanço que retrocessos. O avanço e o retrocesso é muito claro nesta história toda. Já vi esse filme antes, inclusive sob amparo de conceitos criados pela sociologia do eixo Rio-SP e uma política monetária parida em algum canto de Chicago.