Jesuíno / Bordeaux

“A verdadeira qualidade de um filme reside não apenas na técnica, mas na capacidade de aproximar-se da realidade e temas que nos tocam profundamente.”

Cena de "Expresso para Bordeaux" | Imagem: divulgação

Quando Caetano Veloso diz que gosta da Jornada de Curta-Metragem realizada na Bahia, “porque só tem filmes ruins”, muita gente pode pensar, com essa afirmação solta, colocada por Fernando Azevedo em sua carta, que ele está querendo pichar a Jornada. Mas a verdade é justamente o contrário: os filmes “ruins” da Jornada são muito mais importantes realmente para nós do que os “excelentes” filmes do Festival de Oberhausen. Os selecionados da mostra alemã são perfeitos do ponto de vista de técnica; mas, para nosso gosto brasileiro, são chatíssimos (com exceção de alguns poucos, principalmente os desenhos animados).

É a mesma coisa que acontece se você comparar “Jesuíno Brilhante” com “Expresso para Bordeaux”. O filme de Jean-Pierre Melville é perfeito em matéria de filme policial. Interpretações ótimas, partir do “delegado” Alain Delon, da presença bonita de Catherine Deneuve. Os atores coadjuvantes também são do melhor nível. A montagem não deixa a menor margem de erro, os cortes são de uma precisão espantosa. Entrei no São Luiz quando faltava meia hora para o final. Me interessei. Admirei a excelente técnica comandada por Melville. Mas não consegui na outra sessão chegar até a hora da junção. Estava tudo muito certinho, para o meu gosto.

“Jesuíno Brilhante” é primário em matéria de técnica. Ninguém sabe ao menos cair de um cavalo. Tem erros de ambientação histórica. Embora tenha também seus acertos. Mas o que me interessa é que fala de assuntos que são próximos, que estão ligados à nossa realidade.

O que acho que o público devia entender é isto: que um filme é bom não enquanto está integrado na “fábrica de sonhos”, mas quando nos mostra coisas próximas que nos interessam ver. “Jesuíno” nos mostra casas, tipos de pessoas nordestinas, uma luz que é própria do nosso cinema. “Expresso para Bordeaux” nos interessa também enquanto um produto acabado. Mas não mais do que “Jesuíno Brilhante”.

Jornal do Commercio, Recife, 28.09.1973

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor