Linus Pauling e o DNA anticomunista dos EUA
A história da descoberta da estrutura do DNA guarda muitos fatos curiosos. Um deles envolve o grande químico Linus Pauling e a política anticomunista norteamericana.
Publicado 13/01/2011 10:40
Linus Carl Pauling nasceu 110 anos atrás e foi o químico mais conceituado de todo o século passado. Por duas vezes recebeu o Prêmio Nobel: o de química em 1954 e o da paz em 1962. Entre outras homenagens e distinções, também foi agalhoardo com o prêmio Lênin da Paz, na URSS, em 1970.
Trabalhou como químico quântico, bioquímico, cristalógrafo, biológo molecular e pesquisador médico. Todos nós que estudamos a disciplina de química no ensino médio lembramos do diagrama que leva seu nome (Diagrama de Linus Pauling ou Diagrama de Pauling) para auxiliar no entendimento sobre a distribuição dos elétrons pelos subníveis da eletrosfera.
Mas o que poucos sabem é que Linus Pauling só não descobriu a estrutura do DNA antes de James Watson e Francis Crick porque o seu país de origem, os Estados Unidos da América, confiscou seu passaporte nas vésperas de uma viagem decisiva que faria a Inglaterra, alegando que ele poderia desertar para a Rússia stalinista.
Pauling estava na pista do DNA e se por acaso tivesse conseguido embarcar para a Inglaterra fatalmente teria visto as novas chapas de raios X feitas no King’s College de Londres e a nova técnica de difração de raios X que o ajudaria a interpretar a estrutura helicoidal do DNA e a posição interna das bases. Watson e Crick comemoraram esse presente da “democracia” estadunidense.
Pauling pagou caro pelo seu ativismo pacifista. Militante da Conferência Mundial da Paz, recusou a tentadora oferta de Robert Oppenheimer pra encabeçar o departamento de química do Projeto Manhattan que fabricou a primeira bomba atômica. Juntamente com Albert Einstein, fez parte do Comitê Emergencial de Cientistas Atômicos que alertou o mundo sobre os perigos associados ao desenvolvimento de armas nucleares. Assinou também o Manifesto Russell-Einstein apelando pela busca de soluções pacíficas durante a Guerra Fria.
Até o final de sua vida Linus Pauling protestou contra os conflitos armados patrocinados pelos EUA, incluindo a Guerra do Vietnã e o intervencionismo militar na América Latina, principalmente na Nicarágua sandinista.
Linus Pauling foi o químico que não se curvou ao DNA anticomunista do seu país, mesmo não tendo tido a oportunidade de desvendar sua complexa estrutura por conta de um passaporte confiscado. Méritos para Watson, Crick e o macartismo estadunidense.